Controlar uma inflação desembestada sem uma recessão agressiva é o maior objetivo de qualquer Banco Central do planeta. Nesse campo, parece que os Estados Unidos vão conseguir o seu Soft Landing. Na terça-feira (13) foi anunciada pelo Bureau of Labor Statistics a inflação de janeiro, de 0,3%. Apesar de ficar acima das previsões (de +0,2%), isso significa que a variação em 12 meses foi de 3,1%, abaixo dos 3,4% de dezembro e a caminho dos 2% como busca o Federal Reserve (Fed). Os gastos com moradia e alimentação puxaram o índice para cima, mas despesas com energia retraíram 0,9% — boa parte por causa da queda de 3,3% nos preços da gasolina. Apesar da variação anualizada ter caído, o mercado não reagiu bem. Ele anda sedento por cortes mais agressivos nos juros americanos (hoje na faixa 5,25% a 5,50%), o que somente virá com a inflação indo para a casa dos 2%. Com títulos públicos pagando valores recordes, a atração de investidores fica reduzida por outros ativos. A próxima decisão sobre os juros será dias 19 e 20 de março.

Mundo Argentina: inflação de janeiro cai para 20%, mas anual passa de 254%
Há raras notícias que são boas e ruins com a mesma intensidade. A inflação argentina é uma delas. A alta do índice de preços de janeiro foi de assombrosos 20,6%. Ainda assim, ficou abaixo da variação de dezembro (+25,5%), que pode ser creditada de forma dividida tanto ao fim do governo de Alberto Fernández quanto ao novo governo, de Javier Milei (foto). As maiores altas foram nos itens de Bens e Serviços Diversos (44,4%), Transportes (26,3%) e Telecomunicações (25,1%). Em 12 meses, a variação é de 254,2%. O mercado estimava a taxa mensal em 20%. Para fevereiro, a projeção é de 18%. Só deve cair para um dígito a partir de junho (8%). O governo Milei está mais otimista e acredita que a forte recessão pelo qual a economia deverá passar levará a esse objetivo mais cedo, em abril.

Mundo
A sugestão do FMI para a desaceleração imobiliária chinesa

Pouco depois de a falência da incorporadora chinesa Evergrande ser anunciada, no fim de janeiro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) lançou o relatório Setor Imobiliário da China: Gerenciando a Desaceleração no Médio Prazo, assinado por Henry Hoyle (economista do Departamento Ásia e Pacífico do FMI) e Sonali Jain-Chandra (chefe da missão do FMI na China). No documento, eles afirmam que o setor imobiliário chinês chegou a representar até 20% da atividade econômica do país e que o cenário agora acumula riscos significativos. O alto endividamento de grandes companhias será agravado devido a fatores estruturais, em particular as alterações demográficas — a necessidade de novas habitações cairá nos próximos anos à medida que a população diminui e a urbanização abranda. “No entanto, é possível alcançar uma transição mais curta e suave para o setor imobiliário”, caso as autoridades reforcem as regras para evitar futuras acumulações de risco pelos grandes players do setor. Segundo o FMI, um caminho é dar garantias aos compradores contra o risco de as empresas não conseguirem concluir as casas adquiridas. “Isso poderia ajudar a restaurar a confiança e aliviar as pressões de vendas para os incorporadores.”

3,81%
Previsão do mercado para o IPCA acumulado em dezembro de 2024, segundo o Relatório Focus divulgado em 6 de fevereiro

Brasília
Golpistas passarão?

Ton Molina

No calendário supostamente republicano brasileiro, o 8 de Janeiro de 2023 passou fortemente pela tuitadas de 3 de Abril de 2018 (ver abaixo). Pois descobriu-se outra data macraba pelo caminho: o 5 de Julho de 2022, reunião em que Jair Bolsonaro convoca sua tropa de choque para tratar das eleições. O vídeo desse encontro serviu para que na quinta-feira (8) a Polícia Federal cumprisse mandados de busca e apreensão e quatro de prisão preventiva por suposta tentativa de golpe de Estado. O passaporte do lúmpen ex-presidente foi apreendido pela PF. Os mandados foram autorizados pelo ministro do STF Alexandre de Moraes.
Tiveram prisão decretada:
Bernardo Romão Corrêa Netto (coronel do Exército),
Filipe Martins (ex-assessor da Presidência),
Marcelo Câmara (coronel do Exército e ex-assessor da Presidência),
Rafael Martins de Oliveira (oficial do Exército).

O presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, foi alvo de busca e apreensão e acabou preso em flagrante por posse de uma arma com registro irregular em nome de terceiro. O rodo passou nessa turma a partir das denúncias de delação premiada de Mauro Cesar Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Assistir no YouTube ao vídeo de pouco mais de 90 minutos da reunião do 5 de julho de 2022 ajuda a entender sob as mãos de quem o país esteve por quatro anos.

“Os eleitores americanos não parecem estar dando crédito a Joe Biden pela economia. Mas se você está presidindo uma boa economia (melhor do que a de qualquer outra grande nação avançada), por que diabos você não tentaria reivindicar o crédito?”
Paul Krugman, Nobel de Economia

O ovo da serpente nas tuitadas

TUÍTE 1:Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais.”

TUÍTE 2: “Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?”

Tuitadas nada republicanas de 3 de abril de 2018 do então comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, dando uma enquadrada no STF, que no dia seguinte julgaria Habeas Corpus (HC) para evitar a prisão de Lula — o que acabou acontecendo dia 7 de abril. Depois do recado do militar, cinco votaram pelo HC: Celso de Mello, Gilmar Mendes, J.A. Dias Toffoli, Marco Aurélio Mello e Ricardo Lewandowski. Seis votaram pela rejeição: Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia, Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Luiz Carlos Fux e Rosa Weber. A decisão mudou o resultado da eleição de 2018.