A indústria brasileira de máquinas e equipamentos espera um desempenho mais tímido em 2026, com uma estimativa de crescimento da receita líquida de vendas em torno de 4%. A expectativa para este ano, revisada para baixo é de um crescimento de 6,1% pressionado pelo tarifaço.

Em entrevista à IstoÉ Dinheiro, o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso, afirmou que o cenário é preocupante para a indústria brasileira e ressaltou que os Estados Unidos “não ganharam nada” com a ofensiva tarifária até agora.

+Apesar de recuo de Trump, dois terços das exportações do Brasil aos EUA seguem com tarifas

Os Estados Unidos absorvem cerca de 26% das exportações brasileiras de máquinas e equipamentos, o que representa aproximadamente 300 milhões de dólares por mês, segundo dados da Abimaq. O país é o principal mercado para a indústria nacional, que embarcou cerca de 3,5 bilhões de dólares em produtos no ano passado.

Mas, com as tarifas, o setor enfrenta prejuízos. Velloso explica que, no mês de setembro, houve uma queda de 13% no faturamento em relação a setembro do ano anterior. Em outubro, a queda foi de 42% em relação ao mesmo mês do ano passado. A projeção é de uma queda ainda maior em novembro.

O setor de máquinas e equipamentos deve enfrentar queda de 30% nas exportações para os Estados Unidos em 2025. Caso a taxação seja mantida, a tendência é de que as vendas ao país cheguem a zero em 2026.

“As exceções já foram dadas. Elas contemplaram os produtos que os Estados Unidos não produzem e aqueles que afetam diretamente o cálculo da inflação. Agora chegamos aos itens que ficam fora desse cálculo e onde temos concorrentes no mercado americano. Por isso é fundamental iniciar uma negociação comercial quanto antes”, aponta.

Otimismo cauteloso

O presidente da Abimaq avalia que a retirada de alguns itens da lista sujeita à tarifa de 40% já representa um avanço relevante.

“Estamos otimistas porque acreditamos que as negociações devem começar em breve. Os Estados Unidos têm interesse nisso. Veja: os EUA não ganharam nada com o tarifaço até agora. Eles não ampliaram acesso ao mercado e tampouco reduziram as tarifas, que seguem elevadas no Brasil”, disse.

Ainda assim, o fator tempo preocupa o setor, observa Velloso, que teme que a demora nas negociações amplie as perdas para a indústria. A expectativa é que um possível acordo só saia em 2026.

“Acreditamos que isso vai ficar lá para fevereiro, março do ano que vem, porque uma negociação dessas leva muito tempo, aproximadamente 90 dias. Então, daí vem o nosso receio, porque, nesse período, um produto industrial pode ser substituído por um concorrente. Uma vez substituído, a gente não consegue voltar”, disse.

Governo intensifica negociações

O vice-presidente Geraldo Alckim disse nesta semana que os trabalhos devem ser redobrados para reduzir a lista de produtos brasileiros afetados pelas tarifas.

Ele afirmou que atualmente, 22% dos produtos brasileiros exportados para os EUA seguem sujeitos às taxas mais elevadas (10% + 40%). Antes do anúncio de Trump na semana passada, eram 36%.

“O próximo passo é excluirmos mais produtos e reduzirmos a alíquota. Temos o desafio da manufatura: máquinas, motores, produtos industrializados, madeira, muita coisa mesmo. Alimentos ficaram de fora, o mel por exemplo. Então, o trabalho agora será continuar após esse anúncio”, disse.

Alckmin reiterou que as discussões com os Estados Unidos nas próximas semanas devem ir além das tarifas, incluindo temas como a importação brasileira de biocombustível americano, terras raras e investimentos ligados ao programa Redata, que incentiva a instalação de data centers no Brasil.

Veja como fica a situação das exportações brasileiras aos EUA

  •  Isentos de sobretaxa: 37,1% das exportações (US$ 15,7 bilhões)
  •  Total de exportações sujeitas a algum tipo de tarifa: 62,9%
  • Tarifa recíproca de 10%: 7,0% das exportações (US$ 2,9 bilhões)
  • Tarifa adicional de 40%: 3,8% das exportações (US$ 1,6 bilhão)
  • Tarifa combinada de 50% (10% de tarifa recíproca + 40% específica ao Brasil): 32,7% das exportações (US$ 13,8 bilhões)
  • Tarifa setorial de 50% (Seção 232): 11,9% das exportações (US$ 5 bilhões)
  • Isenção da tarifa de 40% condicionada à destinação para a aviação civil, instituída pela Ordem Executiva de julho: 7,5% das exportações (US$ 3,2 bilhões)