É como o caso de um amor não correspondido. Um dos lados só tem olhos voltados para o altar. O outro não quer nem ouvir falar de casamento. A Eucatex, fabricante de chapas de madeira, quer porque quer que a Petros, o segundo maior fundo de pensão do País, se torne seu sócio. A entidade, porém, não aceita a idéia – e foi à Justiça para evitar o enlace. O que está em jogo é uma antiga dívida da Eucatex com a fundação. Coisa de R$ 70 milhões em debêntures. Isso equivale a 24,5% do endividamento da companhia – um endividamento que a levou a pedir abrigo na Lei de Recuperação Judicial. O plano de recuperação previa que as debêntures seriam transformadas em ações da empresa. A Petros votou contra.

Entretanto, de acordo com a legislação, o voto da maioria decide o caso e bancos e fornecedores apoiaram a proposta. A Petros questionou o resultado nos tribunais – e de lá o assunto não saiu mais. Em outubro, porém, pode haver uma solução para o caso. A Eucatex apresentará um novo plano para os credores e nele os interesses da Petros poderão ser contemplados. Ou não.

R$ 70 MILHÕES é o valor aproximado da dívida da Eucatex com a Petros

Controlada pelos filhos de Paulo Maluf, a Eucatex fechou o ano de 2006 com receita de R$ 690 milhões e lucro de R$ 28 milhões. Sua dívida somava R$ 285 milhões em outubro de 2006, quando o plano de recuperação foi apresentado, aprovado pelos credores e embargado na Justiça pela Petros. Em fevereiro, o Tribunal de Justiça paulista concedeu liminar determinando que o plano de recuperação só teria continuidade após o julgamento do recurso da Petros. Disse que a decisão da Eucatex fere o artigo 5º da Constituição Federal que determina que ninguém pode ser compelido a associar-se ou a permanecer associado a algo ou alguém. A Eucatex pode recorrer da decisão no Superior Tribunal de Justiça. Enquanto não toma esse caminho, a empresa reclama muito. A interlocutores, o presidente executivo da empresa, Flávio Maluf, disse que a Petros “atravessou o caminho” da companhia e colocou parte do plano traçado pelo comando na geladeira. Isso incluía um novo aumento da capacidade de produção da fábrica de Salto (SP), de tintas, vernizes e painéis de madeira.

Sem saber se, e como, a dívida será equacionada, torna-se difícil desembolsar o dinheiro. Wagner Pinheiro, presidente da Petros, tem acompanhado a questão de perto e já declarou que a fundação se sentiu “prejudicada” pelo plano proposto pelos Maluf, e que “tomaria todas as medidas judiciais necessárias para resguardar os direitos dos participantes”.

A Petros também contesta outro desdobramento dessa história. No ano passado, Bradesco, Itaú BBA e Unibanco foram pagos, de forma parcial, com terras da Eucatex. Mais R$ 18 milhões estão sendo quitados, em parcelas, desde o início de 2007, apurou a DINHEIRO. A Petros acha que foi preterida. A empresa diz que isso é uma “bobagem”. Pelo balanço financeiro de 2006, o pagamento em terras aos bancos reduziu o endividamento e gerou lucro operacional de R$ 97,4 milhões. Mas ainda faltam R$ 35 milhões para zerar o débito total de R$ 150 milhões. O vice-presidente executivo da Eucatex, José Antonio Goulart de Carvalho, diz que os bancos ainda receberão ações como pagamento. O Bradesco, diz ele, concordou em converter debêntures em participação acionária. No meio desse rolo a Petros ficou na lanterninha da lista de credores.

“Não queremos travar o plano de reestruturação deles. Só queremos que sejam respeitados os princípios da eqüidade”, diz Ricardo Malavazi, diretor da Petros. “Vamos sentar e conversar. Não podemos aceitar terras pela natureza de nosso negócio, mas há outras soluções possíveis.”