NAS ÚLTIMAS SEMANAS, um grande burburinho tomou conta do setor de venda de imóveis em São Paulo. Duas notícias surpreenderam o mercado. A primeira delas foi a venda da área de corretagem da Abyara, a segunda do ranking brasileiro, para a carioca Brasil Brokers. Mas nenhum assunto monopolizou tanto as rodas de conversa dos profissionais do ramo quanto a criação de uma nova empresa imobiliária. Batizada de Elite, ela nasce com uma carteira de vendas que já a coloca entre as líderes do setor. Segundo projeções de seu sócios, os negócios potenciais da Elite somam R$ 3 bilhões para o período dos próximos 12 meses. Com isso, a companhia passaria a disputar o segundo lugar no mercado paulista, o maior do País, atrás apenas da Lopes Consultoria. Atualmente, a vice-liderança está com a Abyara, mas sua saída de cena na área de vendas pode favorecer a nova rival. ?Nascemos num momento histórico, de forte expansão do setor, o que por si só representa uma tremenda vantagem?, afirma Mauricio Eugenio, um dos criadores da Elite. ?Não temos fixação em ser a maior empresa. Queremos, acima de tudo, ser a melhor.?

O surgimento da Elite provocou alvoroço graças principalmente ao time que vai comandar a companhia. Os três sócios da empresa têm uma longa história no setor de imóveis. Mauricio Eugenio é dono da Eugênio Publicidade, o maior grupo de marketing imobiliário do Brasil, e ficou conhecido por sair do nada e inventar um modelo de negócio inédito no País. Marinaldo Souza Macedo tem uma experiência de quase três décadas no ramo. O que contribuiu para gerar comentários no mercado é justamente sua origem. Antes da Elite, ele era o principal executivo da Lopes. O engenheiro Hélio Vergara é o terceiro sócio. De onde veio? Até pouco tempo atrás era o financeiro da… Lopes. Há outros casos. Além dos sócios, o corpo de diretores da Elite também tem profissionais egressos da concorrênapecia. Sílvio Bullara, diretor de Tecnologia da Informação, e Carlos Escobar, diretor jurídico, até outro dia batiam ponto ? adivinhe ? na Lopes. Chegaram também executivos que trabalhavam na construtora Cyrela e na incorporadora americana Tishman Speyer. ?Era natural que a Elite procurasse pessoas talentosas no mercado?, diz Eugenio. ?A saída de profissionais da Lopes não nos atrapalhou nem um pouco?, diz Tomás Salles, diretor de novos negócios da empresa. ?Temos uma expertise de mais de 70 anos no mercado e isso ninguém pode tirar.?

de junho. E surge com um patrimônio fundamental: o ótimo relacionamento de seus sócios e diretores com as principais incorporadoras e construtoras. Com a onda de IPOs dos últimos dois anos, essas companhias estão de tal forma capitalizadas que precisam desaguar os recursos disponíveis em novos empreendimentos. Obviamente, tais projetos precisam de pessoas capazes de vendê-los. É aí que entra a Elite. Eugenio e Macedo são próximos dos principais executivos das grandes incorporadoras. ?Nesse mercado, relacionamento é tudo?, diz um analista do setor. ?Como é natural em qualquer área, existe certo desgaste na relação entre algumas imobiliárias e incorporadoras. Por isso, a chegada de uma empresa ?zerada?, sem problemas antigos e com porte de gente grande, pode significar uma excelente oportunidade.?

A Elite pretende atuar em todo o território nacional. São Paulo, que tem de longe o maior volume de negócios do País, está na lista de prioridades da empresa. ?Seremos a grande rival da Lopes na cidade?, diz Eugenio. Ele, porém, vê bons negócios em mercados até agora pouco explorados pelas companhias do eixo Rio-São Paulo. Com o aumento da renda dos brasileiros e a imensa defasagem habitacional do Nordeste, a região deve passar por um surto de crescimento. No chamado segmento econômico, de imóveis que custam até R$ 150 mil, estima- se uma evolução de 200% nos negócios gerados em pouco mais de um ano. Eugenio também aposta na classe média. Nesse caso, ele acha que ninguém no mercado deu a devida atenção para as pessoas interessadas em comprar um segundo imóvel. ?O que impede um paulistano de comprar um imóvel de lazer, por exemplo, na Bahia??, pergunta Eugenio. ?Falta alguém para fisgar esse público.?

Mauricio Eugenio é um vendedor por natureza. Sua trajetória profissional começou cedo. Aos 12 anos, tentou seu primeiro emprego, de empacotador de supermercado. Não fez isso por necessidade. Paulistano típico de classe média, não enfrentava dificuldades financeiras. Mas queria trabalhar a qualquer custo para ter seu próprio dinheiro. Rejeitado como empacotador, conseguiu uma vaga de office-boy numa agência de publicidade. A partir daí, sua vida mudou. A empresa tinha um setor voltado para o mercado imobiliário. ?Como nos finais de semana precisavam de gente para entregar panfletos, eu me candidatei.? Eugenio percorria a cidade vestido de Robin, o parceiro de Batman nas histórias em quadrinhos, para distribuir panfletos com propaganda imobiliária. Fez isso até trabalhar no departamento de arte. Aos 17, já era o diretor de criação. Aos 19, montou sua própria empresa, a Eugenio, em uma mesa de cozinha. Especializada na venda de anúncios imobiliários, a companhia criou um modelo de negócio que perdura até hoje: o pagamento pelo número de unidades vendidas, em vez de acertar um valor fechado. Com 40 anos recém-completados, Eugênio mantém o mesmo ânimo de quando começou. ?A motivação é a mesma?, diz. ?Ainda tenho muito por conquistar.?