Enquanto o mundo para olhar os acontecimentos na Ucrânia e a invasão russa, o ministro da Economia, Paulo Guedes, decidiu manter a agenda internacional que começou no último final de semana. Em uma bateria de encontro com investidores, o Chicago Boy (como ele mesmo gosta de se definir) liberou o verbo. Disse que irá isentar investidor estrangeiro de pagar Imposto de Renda, cogitou a possibilidade de o Brasil liderar a criação de uma moeda única para a América Latina, como o euro, e ainda minimizou as perspectivas econômicas ruins que o País vem recebendo de dentro e fora do Brasil.

Segundo Guedes, em alguns anos o dinheiro físico deverá “sumir” e haverá, nas palavras dele, apenas “seis ou sete moedas fortes, as outras vão desaparecer”, disse. Nessa perspectiva, o ambicioso ministro que luta para conter a desvalorização da moeda brasileira, disse que seria possível criar o que ele chamou de Real Digital, uma moeda que poderia ser usada em toda América Latina e seria capaz, inclusive, de ajudar economias fragilizadas como a Argentina e Venezuela.

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As falas de Guedes aconteceram no Brazilian American Chamber of Commerce, que reuniu dezenas de grandes empresários. Em sua fala o ministro também ressaltou que o Brasil não irá decepcionar o mundo e o crescimento surpreenderá até os mais otimistas. Ele voltou a falar que os indicadores seguem em constante melhora e as previsões feitas para a economia local não estão de acordo com a realidade. Ele também garantiu que irá domar a inflação e tem um pacote de medidas para estimular a economia, o que fará a engrenagem pegar no tranco.

Para tentar atrair o capital estrangeiro, o chefe da Economia brasileira também fez promessas. Disse que estuda isentar o Imposto de Renda de títulos privados de empresas brasileiras para investidores estrangeiros. Com essa medida o governo poderia deixar de arrecadar R$ 450 milhões mas, segundo o ministro, isso daria condições para as empresas brasileiras conseguirem se capitalizar.

PRESSÃO DE BRASÍLIA

Enquanto completava sua tour pelos Estados Unidos, membros do governo e parte da base aliada do governo no Congresso estavam fritando o ministro. E os motivos são os preços do petróleo. Dois deputados consultados pela reportagem confirmaram ter tentado acessar o ministro para dar celeridade na implementação de medidas que amorteçam o incremento dos preços do barril, que devem subir ainda mais com a guerra entre Rússia e Ucrânia.

Essa insatisfação também foi sinalizada por outros ministros, que esperam o aval de Guedes em algumas questões para avançar com o projeto do governo sobre o tema. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) disse que seguirá empenhado em dar uma resposta aos brasileiros o mais rápido possível sobre este tema. O chefe do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) também disse estar comprometido com esta pauta.

O enrosco, então, caiu no colo de Guedes. Isso porque o antigo Posto Ipiranga de Bolsonaro se colocou contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para forçar a redução de impostos que incidem sobre o combustível como forma de baratear o preço na bomba. O ministro teria pedido mais algum tempo para apresentar soluções alternativas antes que o texto começasse a tramitar com mais velocidade no Congresso. Essa solução, que poderia se dar por meio de um fundo amortecedor para a oscilação dos preços no exterior do óleo, ainda não foi formalizada, e tem aumentado a tensão entre Guedes, alguns ministros e a base aliada do governo na Câmara e no Senado.

Crédito: EDU ANDRADE/Ascom/ME