Os sócios da Grécia na zona do euro acusaram neste sábado o governo de Alexis Tsipras de fechar a porta às negociações com seu anúncio de um referendo para 5 de junho, a apenas três dias de um possível default.

“Estou negativamente surpreso com a decisão do governo grego de hoje (sábado) (…) É uma decisão triste para a Grécia porque fecha a porta a mais discussões, quando a porta seguia aberta”, disse o chefe do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, antes de uma nova reunião dos ministros das Finanças do euro em Bruxelas.

Pela quinta vez em dez dias, os 19 ministros das Finanças se reúnem em Bruxelas para examinar as negociações com a Grécia, que na terça-feira enfrenta um pagamento de 1,5 bilhão de euros ao FMI, que pode não conseguir realizar.

Os ministros manifestaram sua contrariedade após o anúncio do governo grego de submeter a referendo no dia 5 de julho a oferta dos credores e advertiram que o temido “plano B” pode estar próximo.

O alemão Wolfgang Schäuble disse que, com o seu anúncio de um referendo sobre as propostas dos credores (Comissão Europeia, BCE e FMI), o governo grego “rompeu unilateralmente as negociações”. Para ele, “não há mais base para negociações”.

“Nenhum dos meus colegas com que falei vê alguma possibilidade do que podemos fazer agora”, acrescentou.

Neste sábado, os ministros da Economia da zona do euro rejeitaram estender o atual programa de resgate financeiro da Grécia, que expira na terça-feira junto com o vencimento com o FMI, afirmaram diferentes fontes à AFP.

A extensão, que o governo grego de Alexis Tsipras pede que seja de alguns dias após o referendo convocado para 5 de julho, “foi rejeitado”, indicaram várias fontes à AFP.

Com a possibilidade do ‘default’ cada vez mais próxima, vários ministros disseram que o ‘plano B’ para a Grécia, destinado a conter os efeitos de uma moratória, já não é uma hipótese abstrata.

“Estamos cada vez mais próximos de que um plano B se transforme em A”, declarou ao entrar na reunião o ministro espanhol Luis de Guindos.

A questão urgente no momento é como fazer para garantir o financiamento do país até o referendo, considerando que o resgate termina no dia 30 de junho e que nesse dia Atenas deve pagar ao FMI, e o que fazer para evitar que os bancos gregos quebrem com os saques em dinheiro.

Tsipras afirmou na quinta-feira que pediria uma “curta extensão” do programa em curso, por um prazo de alguns dias.

Já o vice-presidente do governo Yannis Dragasakis e o vice-chanceler Euclides Tsakalotos se reunirão neste sábado com Mario Draghi, presidente do BCE, que mantém uma linha de financiamento de emergência vital para manter os bancos gregos a salvo.

Apesar dos prazos apertados, a Comissão Europeia demonstrou mais otimismo, e o comissário de Assuntos Econômicos, Pierre Moscovici, garantiu que “um acordo não está fora de alcance”.

Segundo ele, as ofertas apresentadas são “favoráveis para Grécia e para o povo grego”, e as divergências entre as partes “são bastante limitadas e estão bem identificadas”.

A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, quis também quis se mostrar voluntarista afirmando que “continuarão trabalhando” com as outras instituições credoras de Atenas para “restaurar a estabilidade e a independência financeira da Grécia, e permitir o desenvolvimento do crescimento e da competitividade do país”.

Lagarde lembrou que a instituição multilateral “sempre defendeu” a importância da sustentabilidade da dívida grega, que deve chegar nesse ano a 180% do PIB, nível que o Fundo considera inviável.

Segundo ela, é necessário “um apoio dos europeus à dívida grega”, o que também é um pedido de Atenas, que pede uma reestruturação e criticou que isso não esteja previsto na oferta de seus sócios.

Os europeus se mostram intransigentes sobre este ponto. Querem fechar o acordo atual, com o compromisso de Atenas de aplicar as reformas, antes de discutir a dívida

Com o anúncio da consulta, Tsipras surpreendeu a todos e se aventurou em uma aposta que em 2011 custou o cargo do socialista Yorgos Papandreou.

Com o semblante sério, Tsipras informou referendo do próximo 5 de julho a pergunta feita será “se aceitamos ou rejeitamos a proposta” dos credores.