06/02/2021 - 10:49
Europa e Estados Unidos estão em uma corrida contra o tempo para salvar o acordo nuclear com o Irã, ameaçado pelos avanços de Teerã para obter a capacidade de desenvolver a bomba atômica.
“O tempo é curto”. A observação é repetida desde a decisão de Teerã em janeiro de dar um novo passo adiante no enriquecimento de urânio, uma violação a seus compromissos, enquanto se aproxima um novo prazo importante para o futuro do acordo.
“Há uma certa urgência”, declarou durante a semana o porta-voz do Departamento de Estado americano, Ned Price. “O Irã está em processo de adquirir uma capacidade nuclear”, advertiu o chanceler francês Jean-Yves Le Drian.
O acordo nuclear de 2015 – com participação dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, Reino Unido, China, França, Rússia e Estados Unidos, além da Alemanha – está por um fio desde que Washington abandonou o pacto em 2018, durante o governo de Donald Trump.
O Plano de Ação Integral Conjunto (PAIC) tem como objetivo impedir que o Irã tenha armas nucleares, em troca da suspensão das sanções internacionais que asfixiam a economia do país.
Mas a República Islâmica respondeu ao retorno das sanções americanas com o descumprimento progressivo de sua parte no acordo.
Todos os olhares estão voltados agora para a nova administração americana, do presidente Joe Biden, que afirma estar disposta a retornar ao acordo, mas com uma condição: que Teerã encerre todas as violações antes.
Os iranianos, no entanto, pedem o fim das sanções primeiro para depois acabar com as violações.
Ao retomar o enriquecimento de urânio ao nível de 20%, que já pode ter fins militares e que foi adotada após a violação de outros pontos do acordo, Teerã está reduzindo perigosamente o tempo para adquirir material necessário para produzir uma arma atômica.
Este período, que era de um ano sob o controle do PAIC, foi reduzido para alguns meses, menos de seis de acordo com fontes israelenses, um pouco mais para outras fontes.
Ao multiplicar as violações, “os iranianos aceleram o ritmo para a retomada das negociações e a flexibilização das sanções porque estão economicamente asfixiados”, afirma Benjamin Hautecouverture, analista da Fundação para Pesquisa Estratégica (FRS) de Paris.
O governo moderado e reformista do presidente Hassan Rohani, que enfrenta os conservadores do regime, hostis ao acordo, também tem um encontro marcado com as urnas, com as eleições presidenciais de junho.
Em caso de vitória dos partidários da linha dura do regime, as chances de retornar aos termos do acordo serão menores.
À medida que avançam, os iranianos também adquirem conhecimentos tecnológicos, algo irreversível que preocupa os ocidentais.
Uma data importante será 21 de fevereiro, quando os iranianos decidirão se restringem ou não o acesso dos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) a suas instalações.
“Estaríamos então diante de uma forma de fato consumado. Devemos deter isto antes que seja muito grave”, afirmou uma fonte europeia.
Ao mesmo tempo, o presidente americano Joe Biden não pode dar a impressão de assinar um cheque em branco para os iranianos. O Congresso continua muito dividido sobre o retorno ao pacto.
Alguns congressistas gostariam de seguir a linha de Donald Trump e obrigar o Irã a negociar um acordo mais amplo. Uma ideia que foi rejeitada por Teerã.