A fabricante brasileira de eletrônicos Evadin passou os últimos 30 anos escondida atrás dos televisores da marca Mitsubishi, da qual detém a licença de produção no País. O acordo foi rompido pelos japoneses em 1999 e o caso foi parar na Justiça. Mas o imbróglio jurídico que podia ter paralisado a Evadin, deu-lhe um empurrão para voltar mais forte à ativa. Antecipando-se a uma possível derrota nos tribunais, o clã Kryss, que controla da empresa, resolveu ?vitaminar? outra grife de seu portfólio, a Aiko. Ícone da década de 70, ela foi a primeira a miniaturizar os aparelhos de som e andava meio encostada desde 1999. E é com a Aiko que a Evadin está debutando no segmento de televisores fininhos, com dois modelos: plasma de 42 polegadas e LCD de 20 polegadas.

Até o final do ano serão mais cinco opções de tamanho. Para ingressar no nicho que mais cresce na indústria eletroeletrônica (e que deve experimentar um boom neste ano em função da Copa do Mundo), a empresa investiu US$ 10 milhões. Cálculos do setor indicam que as vendas dessas TVs devam atingir 350 mil unidades este ano ? um aumento de 600% em relação a 2005. Até dezembro, o logotipo Aiko vai ser grudado também em home-theaters e gravadores de DVD. No total, a Evadin planeja gastar US$ 50 milhões no projeto Aiko, que inclui também os celulares da marca produzidos desde 2003.

Mas como a pequena Evadin, cujo faturamento gira em torno de US$ 100 milhões, conseguirá espaço em um mercado dominado por gigantes globais? Josef Kryss Neto, diretor e herdeiro da companhia, dá a receita: ?Teremos produtos inovadores, projetados especificamente para o gosto do brasileiro?, resume. Com uma verba limitada, a companhia pretende ancorar seus esforços no ponto-de-venda. Para isso, dobrou o número de promotores próprios para 50 e vai lançar uma campanha com o mote ?Inovação Digital?. Segundo Kryss, a Evadin deve fugir da guerra de preços capitaneada pela holandesa Philips, a sul-coreana LG e a brasileira Gradiente. Foi essa última, aliás, que fez o mais recente movimento nesse sentido ao baixar de R$ 7,99 mil para R$ 6,99 mil o valor de sua TV de plasma de 42 polegadas. ?Não entraremos nesse jogo?, afirma Maria Inês Poli, gerente de marketing da Evadin. ?Nossa disputa será no topo da pirâmide.? O modelo equivalente da Aiko custa R$ 8,99 mil. ?Vamos ganhar o consumidor pela qualidade e pelo design?, reforça a executiva. Para isso, a fabricante brasileira foi buscar parceiros tecnológicos e de design na Coréia do Sul, no Japão e na China, cujos nomes Kryss não revela.

Para o consultor Eduardo Tomiya, sócio-diretor da BrandAnalitics, a estratégia faz sentido. ?Valor muito baixo induz a pensar que se trata de um item de baixa qualidade?, avalia. Segundo ele, para recuperar a mística da Aiko será preciso surpreender o consumidor. ?Mas por que alguém aceitaria pagar mais para levar para casa uma marca desconhecida??, questiona um executivo da concorrência. O tempo responderá.