A saga da incorporadora chinesa Evergrande continua e seus reflexos podem afetar setores e empresas muito distantes. Na madrugada desta terça-feira (4), a empresa, segunda maior de seu setor no país, solicitou a suspensão das transações com suas ações na Bolsa de Hong Kong.

Isso afetou as ações na Ásia, que fecharam estáveis apesar dos recordes nos índices americanos, que deveriam ter animado os investidores do outro lado do Pacífico. Em Xangai o índice SSE caiu 0,2%, ao passo que em Hong Kong e em Seul os índices encerraram a sessão estáveis.

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A Evergrande é a segunda maior incorporadora chinesa e a empresa mais endividada do mundo em seu setor, com um passivo levemente superior a US$ 300 bilhões. Desde setembro, a empresa vem tendo problemas para pagar suas dívidas. Na segunda-feira (3), a agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) considerou a Evergrande como inadimplente.

O caso da Evergrande não é isolado. A empresa vem tendo problemas desde o início do ano passado. Em maio, o governo chinês mudou as regras para reduzir a alavancagem financeira do setor, de modo a diminuir os preços dos imóveis e a frear a especulação imobiliária. “Casas são para morar e não para especular”, foi o comunicado oficial naquele momento.

A crise de Evergrande é a ponta do iceberg, segundo especialistas. Gigantes como a Evergrande têm grandes quantidades de imóveis em estoque e estão desovando esse estoque no mercado para pagar as dívidas. Isso reduz o preço do metro quadrado do setor como um todo, podendo arrastar empresas menores para o mesmo caminho.

A S&P informou esperar mais inadimplências em 2022, com até um terço dos incorporadores chineses tendo problemas de caixa. A agência também informou esperar que as vendas de imóveis residenciais na China caiam 10% neste ano e mais 5% a 10% em 2023.

Apesar de o mercado financeiro internacional ser pouco exposto ao setor imobiliário chinês, os problemas das incorporadoras provavelmente darão início a um período difícil para a indústria siderúrgica mundial em 2022. Um setor de construção em crise na China vai afetar os preços do minério de ferro, aço e alumínio em 2022, fazendo o com que a queda observada no quarto trimestre do ano passado se estenda por mais tempo.

No fim de 2021, o vergalhão de aço para construção estava cotado na Bolsa de Xangai a 4,5 mil renminbis por tonelada, queda de 28,1% ante a alta histórica de 12 de maio, antes das declarações de Pequim. Em novembro, o minério de ferro com 63,5% de hematita negociado no porto de Tianjin caiu para US$ 78 por tonelada. Foi a menor cotação em 16 meses e uma queda de 66% ante o recorde histórico de US$ 229 por tonelada, registrado em maio de 2021.

A projeção é que a demanda de aço da China caia 0,7%, para 947 milhões de toneladas em 2022, após uma queda de 4,7% em 2021. Segundo a S&P, a China responde por 55,9% da demanda global de aço, e a incorporação imobiliária consome cerca de 40% dessa demanda, tornando o setor um dos maiores compradores de aço do mundo. Com esse setor em crise, as exportações da Vale para a China ficarão bastante comprometidas.