Ocenário é cinematográfico: uma cozinha inteiramente planejada sob medida para o cozinheiro. Os eletrodomésticos são quase irreconhecíveis, com um design moderno e diferenciado. Os utensílios são anatômicos, fabricados em cores vibrantes, com materiais de ponta da indústria, como o silicone. Parece ficção, mas é o que se encontra na cozinha do século XXI, que tem móveis, aparelhos e apetrechos inusitados para o preparo da comida, hoje um hobby de luxo. E seus praticantes, sempre ávidos por novidades, não se intimidam mesmo frente aos preços assustadores.

As lojas de objetos para casa hoje são uma espécie de Disneylândia para amantes da gastronomia. Pelo menos é assim que Angela Cutait, proprietária da rede Spicy, define suas lojas, que vendem as melhores marcas mundiais em artigos para cozinha, como a alemã WMF. Essa é a empresa que assina a faca Damasteel, considerada a Ferrari desse tipo de talher. Feita com carbono, custa R$ 1.198. A linha Oxo, de artefatos de culinária, é outro destaque. O americano Sam Farber criou para sua mulher, que tinha artrite e não conseguia segurar os objetos. Por isso, ele desenvolveu produtos anatômicos em santoprene, uma borracha
que alivia o cansaço dos músculos. Uma colher para molhos
da linha custa R$ 35.

A cozinha, agora, é um dos espaços mais valorizados das casas. Em edifícios de alto padrão tornou-se usual projetar apartamentos com duas cozinhas: uma usada pelos empregados, outra para ocasiões especiais. A italiana Valcucine, que planeja ambientes de luxo, chegou ao Brasil há seis meses e já fechou 52 projetos. De cada 10, cinco estão em imóveis com duas cozinhas. É um número impressionante, considerando que o projeto mais barato é de R$ 40 mil e o mais caro, de R$ 150 mil. A justificativa para os valores está no design italiano, que é a referência mundial no setor. Luiz Guimarães, importador no Brasil, explica que seus ambientes incluem até instalações ergonômicas (os pés dos
móveis são regulados à altura do cozinheiro).

Apesar das cifras surpreendentes, o setor está animado. Na Artmix, em São Paulo, também especializada
em decoração, os produtos para cozinha são os mais vendidos. São mais de 8 mil itens, todos muito sofisticados. O saca-rolhas da marca Screwpull, por exemplo, vem num estojo especial, forrado com espuma. É vendido por R$ 403. Os preços dos eletrodomésticos acompanham os de utensílios. Um fogão da marca DCS, em aço inoxidável, custa entre US$ 4,2 mil e US$ 7,4 mil.

Os apetrechos viraram brinquedos com a chegada do homem à cozinha. ?Pratos feitos por homens são criações artísticas?, diz Alexander Lipszyc, diretor de design da Escola Panamericana de Artes de São Paulo. O consumidor masculino gosta de beleza aliada à funcionalidade. Pedro Guimarães, diretor de negócios da empresa Speechway, é um representante dessa ?safra? de gourmets. Toda semana, passa numa loja para conferir lançamentos, mas não faz loucuras. ?Só compro aquilo de que realmente preciso?, diz.