Ex-diretores do Mossad e ex-chefes militares pedem que presidente dos EUA pressione Netanyahu a encerrar conflito em Gaza, argumentando que guerra deixou de ser justa e que só um acordo poderá garantir retorno dos refénsMais de 500 ex-funcionários dos serviços de Segurança de Israel, incluindo vários ex-diretores do Mossad e do Shin Bet, apelaram nesta segunda-feira (04/08) a Donald Trump que o presidente americano pressione o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu a acabar com a guerra em Gaza.

“Parem a guerra em Gaza!”, pediu o movimento Comandantes pela Segurança de Israel (CIS), em uma carta assinada por 550 ex-chefes de espionagem, militares, policiais e diplomatas.

“Esta guerra deixou de ser uma guerra justa e está levando o Estado de Israel a perder sua identidade”, alertou Ami Ayalon, ex-diretor do Shin Bet (o serviço de segurança interno), em um vídeo divulgado pelo movimento para acompanhar a publicação da carta.

Três ex-diretores do Mossad, o serviço de inteligência externa, (Tamir Pardo, Efraim Halevy, Danny Yatom); cinco ex-diretores do Shin Bet (Nadav Argaman, Yoram Cohen, Ami Ayalon, Yaakov Peri, Carmi Gilon); e três ex-comandantes do Estado-Maior do Exército (Ehud Barak, Moshe Bogie Yaalon, Dan Halutz) estão entre os signatários da carta e aparecem em um vídeo.

“Cada uma dessas pessoas participou das reuniões do gabinete, atuou nos círculos mais confidenciais, participou em todos os processos de tomada de decisão mais sensíveis, mais delicados”, destaca a voz em off do vídeo, divulgado na rede social X. “Juntos, têm mais de mil anos de experiência em segurança nacional e diplomacia”, enfatizam.

“Em nome do CIS, o maior grupo israelense de ex-comandantes do Exército, Mossad, Shin Bet, polícia e corpos diplomáticos equivalentes, exortamos que acabe com a guerra em Gaza. O senhor fez isso no Líbano. É hora de fazer o mesmo em Gaza”, afirma o texto em um apelo ao presidente Trump.

Retorno dos reféns

“O Exército israelense cumpriu há muito tempo os dois objetivos que poderiam ser alcançados pela força: desmantelar as formações militares e o governo do Hamas”, apontaram os membros do CIS. “O terceiro, e o mais importante, só pode ser alcançado com um acordo: trazer todos os reféns para casa.”

A guerra foi desencadeada pela ofensiva terrorista lançada pelo grupo Hamas em Israel no dia 7 de outubro de 2023, que deixou 1.219 mortos, a maioria civis, segundo um levantamento baseado em dados oficiais.

O Hamas também sequestrou 251 pessoas, das quais 49 continuam em cativeiro em Gaza. Dessas, 27 teriam falecido, estima o Exército israelense.

A ofensiva de retaliação de Israel matou mais de 60.400 pessoas na Faixa de Gaza, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do território, governado pelo Hamas, considerados confiáveis pela ONU.

Na carta, os ex-funcionários dos serviços de Segurança consideram que o “Hamas já não representa uma ameaça estratégica para Israel e nossa experiência nos indica que Israel dispõe de tudo que é necessário para administrar suas capacidades residuais de terror, à distância ou de outra forma”.

“Perseguir os últimos dirigentes do Hamas pode ser feito mais tarde, mas os reféns não podem esperar”, insistem os ex-comandantes dos serviços de espionagem, inteligência e segurança geral de Israel.

“Sua credibilidade com a grande maioria dos israelenses reforça sua capacidade de orientar o primeiro-ministro Netanyahu e seu governo na direção correta”, acrescentam os signatários.

A carta enfatiza que o objetivo neste momento é “acabar com a guerra, trazer os reféns, interromper o sofrimento e formar uma coalizão regional-internacional que ajude a Autoridade Palestina (uma vez reformada) a oferecer aos habitantes de Gaza e a todos os palestinos uma alternativa ao Hamas e à sua ideologia perversa”.

“Estamos à beira do precipício”, comentou no vídeo o ex-diretor do Mossad Tamir Pardo. “O que o mundo está testemunhando hoje é a nossa própria criação”, lamentou, ao falar das condições humanitárias no território palestino sob ataque permanente. “Nos escondemos atrás de uma mentira que geramos. Essa mentira foi vendida ao público israelense, e o mundo entendeu há muito tempo que não reflete a realidade”.

“Temos um governo que os fanáticos messiânicos levaram em uma certa direção irracional”, opinou Yoram Cohen (Shin Bet). “Eles são minoria (…) mas o problema é que a minoria controla a política”, acrescentou.

jps (AFP, Lusa, ots)