A empresária Mônica Moura, mulher do marqueteiro João Santana, que fez as campanhas eleitorais de Luiz Inácio Lula da Silva (2006) e Dilma Rousseff (2010/2014), relatou em delação premiada que o ex-governador do Rio Grande do Norte Fernando Freire (sem partido – ex-PPB) pagou valores de caixa 2 da campanha eleitoral dele, em 2002, com “salas comerciais”. Os imóveis, segundo a delatora, pertenciam à Capuche, empresa controlada por um amigo de Fernando Freire.

Freire foi vice-governador na gestão de Garibaldi Alves Filho (PMDB) em 1994 e 1998. Em 2002, ele assumiu o cargo de governador quando o peemedebista renunciou para se candidatar ao Senado. Em 2015, Fernando Freire foi preso na orla de Copacabana, na zona sul do Rio. Condenado por desviar recursos públicos, ele tinha quatro mandados de prisão expedidos pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte e era considerado foragido desde 2014.

Em depoimento ao Ministério Público Federal, Mônica Moura declarou que “recebeu dinheiro do próprio Fernando Freire” para a campanha dele ao Governo do Rio Grande do Norte em 2002, mas disse não lembrar “bem” em que situações. A delatora afirmou ter ido “umas duas vezes” na casa de Fernando Freire.

“No final da campanha ficou uma dívida. Fernando Freire não ganhou e ficou uma dívida”, afirmou. “Não conseguia pagar, não conseguia pagar. Uma dívida de 1 milhão e 400, 1 milhão e 300 mil reais, mais ou menos.”

A delatora narrou. “Chegou um empresário amigo dele, que eu não lembro o nome, mas o nome da empresa dele de construção civil, de construção de apartamento chamada Capuche, não sei se existe ainda ou se mudou de nome. Não lembro o nome do dono da empresa. Fernando Freire o levou para fazer uma proposta para mim, que era pagar uma parte da dívida em sala comercial. Ele tinha acabado de construir um prédio de salas comerciais em Natal”, declarou.

“Tipo assim, R$ 200 mil o total. Uma salinha que valia R$ 80 mil uma, a outra valia R$ 100 mil. E a gente aceitou esse pagamento. Foi transferido para gente umas salas, eu tenho tudo isso, inclusive, entreguei ao Dr.” Mônica disse ter vendido duas salas. “Uma está lá esquecida, para vender até hoje.”

O Ministério Público Federal perguntou à empresária se o imóvel estaria em nome dela. “Não. A gente nunca transferiu, nunca. Tá em nome até hoje dessa Capuche”, declarou Mônica.

“Duas delas a gente ainda estava no ritmo, tinha acabado a campanha, a gente conseguiu vender rapidinho, a gente nem transferiu. A gente falou: ‘ó, nem entra nosso nome, já passa direto para lá’. Foi feito assim. Logo depois, não foi mesmo ano, não. Eu não me lembro quando, mas logo depois vendemos. Essa última a gente se desinteressou também, porque a gente se afastou de lá. A gente nunca vendeu. Até hoje está lá, eu pago condomínio, 300 reais por mês dessa sala e está lá até hoje ainda no nome desse pessoal”, disse.

“O restante da dívida que eu cobrava, cobrava do Fernando Freire, que é uma pessoa muito difícil, muito enrolada, muito complicada de dinheiro, ele assinou uma promissória, uma nota promissória de 1 milhão de reais, dizendo que ia me pagar. Eu tenho até hoje. Eu guardo como relíquia, porque ele nunca me pagou.”

Defesas

O advogado Flaviano Fernandes, que defende Fernando Freire, disse que a vai adotar “apenas a descrição de nos manifestarmos nos autos se existirem autos que venham apurar esse fato, visto que já se encontram prescritos – faz 15 anos”. A reportagem não localizou os representantes da Capuche para esclarecimentos. O espaço está aberto para manifestação.