23/01/2019 - 9:01
O Tribunal do Júri começa a julgar nesta quarta-feira, 23, o ex-policial militar Rodney Dias dos Santos, acusado de participar da chacina da Pavilhão 9, que terminou com oito pessoas executadas a tiros em 2015. Formado por sete pessoas comuns, o Conselho de Sentença vai decidir se o réu é culpado pelos assassinatos – a soma das penas pode chegar a 240 anos de prisão. Ele alega inocência.
Presidido pela juíza Giovanna Christina Colares, da 5ª Vara do Júri, o julgamento está marcado para iniciar às 9h no plenário 10 do Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo. A sala, a maior do Tribunal, normalmente recebe casos de repercussão – lá foram condenados, por exemplo, Suzane von Richthofen, Gil Rugai e Elize Matsunaga.
A chacina aconteceu na sede da Pavilhão 9, torcida organizada do Corinthians, na Ponte dos Remédios. Era 18 de abril de 2015, véspera de um clássico contra o Palmeiras, e as vítimas haviam organizado uma festa, com churrasco e futebol.
Por volta das 22h30, já no fim do evento, três homens armados entraram na sede da Pavilhão 9. Lá, renderam oito homens, entre 19 e 38 anos, que foram obrigados a ajoelhar e a pôr a mão na cabeça. Todos foram baleados à queima-roupa e morreram na hora.
De acordo com a denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPE-SP), o alvo do ataque era Fábio Neves Domingos, o “Dumemo”, de 34 anos, que seria desafeto de Santos. Um dos motivos seria que os dois atuavam como traficantes de droga na região do Ceagesp, na zona oeste, segundo a acusação.
“Ambos eram antigos membros da torcida e, em determinado momento, passaram a se desentender no comando do já citado grupo de torcedores”, afirma a denúncia, oferecida pelo promotor Rogério Zagallo. “Outrossim, ambos exerciam a traficância na região do Ceasa e eram rivais e concorrentes.”
As vítimas mais novas eram Matheus Fonseca de Olivera, o “Quadrilha”, e Marco Antônio Corassa Junior. Também foram assassinados Jhonatan Fernando Garzilla Massa, o “Joe”, e Jonathan Rodrigues do Nascimento, o “Edilsinho”, ambos de 21 anos, além de André Luiz Santos de Oliveira, de 29, Ricardo Júnior Leonel do Prado, de 34, e Mydras Schimidt Rizzo, de 38.
Ex-tesoureiro da Pavilhão 9, Santos está preso preventivamente desde maio de 2015. Antes das investigações, ele já havia sido expulso da PM por envolvimento com tráfico. “O modo de execução dos delitos revela a exacerbada periculosidade e reprovabilidade social do pronunciado, que é reincidente”, escreveu a juíza ao negar concessão de liberdade.
Júri
O ex-PM vai responder por homicídio doloso (quando há intenção de matar) com duas qualificadoras: motivo torpe e recurso que impossibilitou defesa das vítimas. Contra o réu pesam reconhecimentos de duas testemunhas – antes das execuções, alguns membros da torcida conseguiram fugir. Eles devem confirmar aos jurados o depoimento dado nas primeiras fases do processo.
Um faxineiro que havia sido contratado para limpar o local após o evento na Pavilhão 9, recebeu ordem para se enrolar em uma bandeira e acabou poupado no massacre. Ele também foi incluído como testemunha e deve depor no julgamento. Devem falar, ainda, membros da torcida que descrevem Santos como uma pessoa “violenta”, de quem todos tinham medo.
Por parte da defesa, foram chamadas quatro testemunhas que devem descrever o álibi do réu para o Conselho de Sentença. Durante a fase de instrução, elas sustentaram que o ex-PM, na verdade, estaria em casa na hora da chacina.
Santos também deve falar aos jurados, antes da Sala Secreta. No seu primeiro interrogatório, ele negou envolvimento com tráfico e participação no crime. Afirmou, ainda, que Neves teria sido morto “pelo crime organizado”. “Pelo que eu levantei, o Fábio atravessou a venda no Ceasa.”
O réu disse, ainda, que era amigo de Domingos. “Eu tenho desafetos lá dentro sim, mas como o Fábio nunca. Eu lamento não poder ter feito nada por ele no dia que ele mais precisou. Hoje, se eu estou aqui, devo isso a ele. Se minha filha de quatro anos é nascida, eu devo a ele.”
Durante a investigação, o PM Walter Pereira da Silva Junior também chegou a ser denunciado e preso, por suspeita de envolvimento na chacina. Contudo, ele não foi pronunciado e, portanto, está livre da acusação. Para a juíza do caso, não havia indícios de que ele estaria no local do crime ou mesmo de que conhecia Santos.
No processo eletrônico disponível no site do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), quatro advogados de defesa aparecem como parte. A reportagem tentou contato com todos eles, mas não obteve resposta.