28/03/2014 - 15:06
O ex-primeiro-ministro norueguês Jens Stoltenberg foi nomeado nesta sexta-feira secretário-geral da Otan, no momento em que a Aliança Atlântica, organização criada durante a Guerra Fria, enfrenta novos desafios com a crise ucraniana.
Esta crise “nos faz lembrar o quanto a Otan é importante, o quanto nós precisamos da Otan como uma aliança forte”, comentou após o anúncio de sua nomeação o futuro dirigente da Aliança em uma coletiva de imprensa.
A crise na Ucrânia e com a Rússia “mostra a necessidade de uma liderança forte e determinada para a Otan”, comentou no Twitter o atual secretário-geral da organização, o dinamarquês Anders Fogh Rasmussen. “Ele é o homem certo”, acrescentou.
Um porta-voz da organização indicou que Stoltenberg, o único candidato ao cargo, foi escolhido “por unanimidade” pelos 28 países membros.
“O nome dele gerou consenso”, afirmou uma fonte diplomática, acrescentando que “os países mais importantes, como Estados Unidos, Alemanha e Grã-Bretanha, o apoiam”.
Stoltenberg, de 55 anos, assumirá o cargo em 1º de outubro, durante quatro anos.
Líder do Partido Trabalhista norueguês, Jens Stoltenberg liderou o governo por quase dez anos.
Os 28 países membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) chegaram a um acordo mais rápido do que previsto, já que esta nomeação deveria acontecer em junho.
Stoltenberg tem, além disso, a vantagem de manter boas relações com a Rússia.
“Não há contradição entre o diálogo e a força, e não há contradição entre falar e ser uma aliança militar”, ressaltou durante sua coletiva de imprensa.
“A experiência governamental e internacional de Stoltenberg representa um trunfo precioso para a Otan, particularmente no contexto atual de tensões ligadas à crise na Ucrânia”, indicou o presidente francês François Hollande.
Quanto à Casa Branca, ela elogiou um “líder experiente que provou seu compromisso em favor da Aliança Atlântica”.
De fato, esta nomeação acontece num momento em que a Organização do Tratado do Atlântico Norte, criada há quase 65 anos, atravessa novos desafios com a crise ucraniana.
O expansionismo de Moscou denunciado pelas potências ocidentais depois da anexação da Crimeia pela Rússia geral preocupação entre os países da Europa oriental, que já esteve sob a influência da União Soviética.
Antes de se tornar um homem de consenso, curiosamente Stoltenberg militou durante a sua juventude em grupos radicais hostis à Aliança Atlântica.
Esse economista social-democrata nunca se interessou particularmente pelas questões de defesa e segurança, mas os dez anos à frente de diferentes governos proporcionaram a ele inúmeros contatos internacionais e o ensinaram a arte da negociação.
Stoltenberg, do Partido Trabalhista, será o primeiro secretário-geral da Otan de um país que faz fronteira com a Rússia. Sua ação política permitiu estabelecer boas relações com Moscou, uma vantagem em uma conjuntura de crise na Crimeia, que reavivou tensões e faz lembrar a Guerra Fria.
Quando ele ocupou o cargo de primeiro-ministro, Noruega e Rússia assinaram acordos limítrofes importantes no Mar de Barents, assim como sobre a isenção de vistos para habitantes de áreas de fronteira.
“A experiência de Stoltenberg e da Noruega como vizinha da Rússia será certamente útil”, considerou recentemente o jornal norueguês Aftenposten.
“Mas a natureza da relação que o Ocidente mantém com a Rússia é definida em outros planos, e não nos órgãos da Otan”, acrescentou o jornal, apontando para a União Europeia e, acima de tudo, para Washington.
Durante a sua juventude, Jens Stoltenberg militou contra a Otan e a Comunidade Europeia, duas organizações que passou a apoiar posteriormente.
Em 1973, com cabelos longos, atirou pedras contra a embaixada dos Estados Unidos em reação ao bombardeio da cidade vietnamita de Haiphong pela Força Aérea americana.
Em 1985, assumiu a liderança da Juventude Trabalhista, que defendia a saída da Noruega da Otan. Mas foi sob a sua liderança que o movimento deu uma guinada e começou a apoiar a Aliança Atlântica.
“Parece que suas ideias radicais foram diluídas ao longo do tempo, mas sem desaparecer completamente”, lamentou esta semana o editorial do Wall Street Journal.
Como ministro, lembrou o jornal americano, Stoltenberg participou de protestos contra os testes nucleares franceses no atol de Mururoa.
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