Por Gabriel Araujo e Carolina Pulice

SÃO PAULO (Reuters) – Um exame forense realizado com restos mortais encontrados na Amazônia confirmou nesta sexta-feira que eles pertenciam ao jornalista britânico Dom Phillips, afirmou a Polícia Federal.

A determinação da causa da morte estava em andamento, disse a PF, em um comunicado.

Os restos mortais de uma segunda pessoa, que acredita-se ser o indigenista Bruno Pereira, ainda estavam sob análise, segundo uma reportagem da CNN Brasil nesta sexta-feira.

Pereira e Phillips desapareceram em 5 de junho no Vale do Javari, na fronteira com Peru e Colômbia. Nesta semana, agentes da polícia recuperou restos mortais de uma cova na selva, a qual foram levados por um pescador que confessou ter matado os dois homens.

“Os remanescentes de Dom Phillips fazem parte do material que foi recolhido no local apontado pelo sr. Amarildo da Costa Oliveira”, disse a PF em comunicado.

Phillips, um repórter freelance que escreveu para os jornais The Guardian e Washington Post, estava fazendo pesquisa para um livro na viagem com Pereira, um ex-coordenador da Funai responsável por povos indígenas isolados e recentemente contactados.

Mais cedo nesta sexta, a PF informou que a sua investigação sugere que mais indivíduos estariam envolvidos além do suspeito que confessou, mas que até agora acredita-se que os assassinos agiram sem o envolvimento de uma organização criminosa.

“As investigações prosseguem e há indicativos da participação de mais pessoas na prática criminosa. As investigações também apontam que os executores agiram sozinhos, não havendo mandante nem organização criminosa por trás do delito”, afirmou a PF em outro comunicado.

À noite, em novo comunicado, a Polícia Federal informou “a existência de mandado de prisão expedido pela Justiça estadual de Atalaia do Norte em desfavor de Jeferson da Silva Lima, vulgo ‘Pelado da Dinha’, não localizado até o momento”.

CONTESTAÇÃO

A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), que teve papel de liderança nas buscas, por sua vez, afirmou que informara a Polícia Federal várias vezes desde o fim de 2021 que havia um grupo de crime organizado operando no Vale do Javari.

“O requinte de crueldade utilizados na prática do crime evidenciam que Pereira e Phillips estavam no caminho de uma poderosa organização criminosa que tentou a todo custo ocultar seus rastros durante a investigação”, afirmou a Univaja em nota.

A INA, sindicato representando trabalhadores da Funai, compartilhou dessa opinião em outra nota.

“Todos sabemos que a violência no Vale do Javari tem conexões com ampla cadeia de crime organizado”, afirmou.

A PF afirmou que ainda estava procurando o barco no qual Phillips e Pereira viajavam na última vez em que foram vistos com vida.

O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, pediu nesta sexta-feira “responsabilização e justiça”, dizendo que Phillips e Pereira foram assassinados por apoiarem a conservação da floresta e do povo nativo.

“Nossas condolências às famílias de Dom Phillips e Bruno Pereira… Precisamos coletivamente fortalecer as tentativas de proteger os defensores do meio ambiente e os jornalistas”, disse Price, no Twitter.

(Reportagem de Gabriel Araujo em São Paulo, Anthony Boadle em Brasília e Carolina Pulice na Cidade do México)

((Tradução Redação São Paulo, 5511 56447702)) REUTERS AC

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