Em uma série de sete artigos publicados na quarta-feira (12), pesquisadores do Instituto Francis Crick e do University College de Londres (UCL) apontam que as mudanças no DNA de células cancerígenas permitem prever o seu comportamento no futuro, incluindo no caso das metástases, processo pelo qual a doença se espalha para outras partes do corpo e é responsável pela maioria das mortes por câncer no mundo.

As descobertas, publicadas nos periódicos “Nature” e “Nature Medicine”, podem tornar possível aos médicos prever como o câncer de cada paciente irá se espalhar por meio de um simples exame de sangue, facilitando o planejamento do combate à doença e permitindo adaptar o tratamento em tempo real. Além disso, podem ajudar os médicos a calcular com mais eficiência o risco de doença retornar após uma cirurgia.

Os resultados foram fruto de nove anos de análises do estudo TRACERx – o primeiro de longo prazo para identificar a evolução do câncer de pulmão. O estudo envolveu o acompanhamento de mais de 800 pacientes no Reino Unido em 13 hospitais. Foram gastos US$ 17 milhões para entender melhor a evolução do câncer, doença que está sempre no topo das maiores causadoras de mortes pelo mundo.

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Embora a pesquisa tenha focado em câncer de pulmão, os pesquisadores dizem as descobertas podem ser aplicadas a outros tipos de câncer.

“O TRACERx reconhece que o câncer não é estático e a forma como tratamos os pacientes também não deveria ser”, afirma Charles Swanton, professor do Instituto Francis Crick, da UCL e um dos principais autores dos estudos.

Segundo ele, o que torna o projeto importante é que ele “trata os tumores como ‘ecossistemas’ em constante mudança”, formados por diferentes populações de células cancerígenas. “Observando o tumor, podemos observar como essas populações de células interagem e até competem umas com as outras, o que nos ajuda a obter informações valiosas sobre a probabilidade de um tumor retornar e quando isso pode acontecer. Também podemos observar como é provável que o tumor evolua com o tempo, se espalhe e responda ao tratamento, oferecendo esperança a milhões de pacientes no futuro.”

Confira o resumo das principais descobertas dos estudos:

-Os tumores podem ser constituídos por muitas populações diferentes de células cancerígenas que carregam conjuntos de genes em constante mudança. Quanto mais diversos forem esses tumores, maior a probabilidade de o câncer do paciente retornar 1 ano após o tratamento;

-Alguns padrões de alterações de DNA observados no tumor indicam o que o câncer pode fazer a seguir;

-Exames de sangue podem monitorar essas alterações no DNA do tumor em tempo real, ajudando os médicos a detectar se o câncer está retornando ou não está respondendo ao tratamento.