A plataforma de serviços financeiros e criptoativos BlueBenx chamou a atenção do mercado nas últimas semanas. A companhia havia informado, na quinta-feira (11), que travou os saques dos investidores em seu aplicativo. “Estamos fazendo a suspensão imediata das operações, incluindo saques, resgates, depósitos e transferências”, informou a empresa. A alegação para o bloqueio de movimentações era um ataque hacker.

Uma semana depois, na quarta-feira (17), a empresa mudou sua versão, informando por meio de nota que foi alvo de golpistas que se passaram por representantes de uma exchange. De acordo com a BlueBenx, os supostos representantes exigiram um pagamento de US$ 200 mil, além do envio de 25 milhões de unidades do token Benx, como requisito para listar o ativo na empresa de comércio e negociação de criptoativos.

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“Após o pagamento, o golpista captou os valores e realizou milhares de transações de retiradas de liquidez nos pools onde a empresa mantinha seu token listado na DeFi, levando a um escoamento, em minutos, de toda liquidez dos ativos investidos no BlueBenx Finance”, informou a empresa em um comunicado. Entre os dias 25 e 26 de julho o valor dos tokens da BlueBenx chegou a cair 99%, de US$ 0,22 para US$ 0,0002, e o volume de transações registrou um recorde, com 3.847 negócios.

Em entrevista exclusiva para a DINHEIRO, o CEO da BlueBenx, Roberto Cardassi, revelou que os golpistas se passaram por representantes da Bitrue, uma exchange de Cingapura. Segundo ele, os bandidos fizeram contato via e-mail, Telegram e LinkedIn. “Eles seguiram todos os protocolos de uma negociação do mercado cripto, no LinkedIn, inclusive constava que eles eram funcionários da corretora”, disse Cardassi.

O CEO reconheceu ter cometido um erro primário ao agir de modo irresponsável com o dinheiro dos seus clientes. “Infelizmente não checamos duas vezes, pois o fato de os falsos negociadores usarem um endereço igual ao da corretora nos deixou confiantes”, disse.

A companhia disponibilizou para a DINHEIRO os prints com os supostos golpistas. Na foto, o endereço de e-mail é o listining@bitrue.com. No e-mail enviado, os golpistas informaram passo a passo da negociação.

“Abrimos um boletim de ocorrência e estamos fazendo de tudo para encontrá-los”, disse o CEO. A apuração da reportagem entrou no site oficial da Bitrue e encontrou no final da página um e-mail oficial para contato, algo primordial em uma negociação e que não foi feito pela BlueBenx.

As falhas da companhia não se limitaram apenas à condução das negociações com os pretensos representantes da Bitrue. Para ex-funcionários da BlueBenx, a comunicação interna também era confusa. Segundo um ex-funcionário, colhido por uma demissão coletiva na quinta-feira (11), a chefia da BlueBenx disse para os empregados que as movimentações financeiras do dia 25 de julho “foram apenas testes”.

“A gente achou estranho, mas o pior é que no dia da demissão fomos todos pegos de surpresa, a empresa disse que estava nos desligando pois iria entrar em recuperação judicial”, disse o ex-colaborador, que pediu para não ser identificado. Segundo ele, o que a empresa explicou deu a entender que ela está caminhando para a falência. “Acho muito difícil uma recuperação, ainda mais porque para o próximo mês (setembro), há um acúmulo de saques em mais de R$ 50 milhões”, disse.

O CEO Cardassi negou a possibilidade de calote. Ele afirmou que está com um plano para a recuperação da BlueBenx. A proposta é abrir a sociedade e buscar investimentos via Venture Capital. “Nosso plano é atingir a recuperação da empresa até fevereiro de 2023, quando pretendemos também liberar os saques novamente”, disse Cardassi.

LESADOS Segundo advogados, os clientes da BlueBenx que perderam seus investimentos estão em uma situação delicada. Apesar das declarações de Cardassi, não há maneira de garantir que o dinheiro será ressarcido. “Tudo dependerá da programação financeira da empresa, de suas reservas, e eventualmente, patrimônio dos sócios”, afirmou a advogada e especialista em direito digital Gisele Truzzi.

Se a solução encontrada pela BlueBenx for uma recuperação judicial, os recursos dos investidores entram na fila dos credores. Por lei, as obrigações trabalhistas e fiscais têm prioridade. Se o valor investido for de até 40 salários mínimos, não há necessidade de um advogado particular. O cliente precisa ir ao Juizado Especial Cível e ingressar com uma ação. “Essa solicitação poderá ser feita online, através de peticionamento eletrônico junto ao site do próprio Tribunal do Estado”, disse Truzzi.

Na sexta-feira (19), o juiz Daniel Fabretti, da 5ª Vara Cível do Tribunal de Justiça de São Paulo, julgou procedente uma ação movida por um cliente lesado pela BlueBenx e autorizou o bloqueio de R$ 10.500 em bens da empresa e de seus sócios.