Uma das maiores e mais importantes operadoras de navios para cruzeiros do mundo, a Royal Caribbean, pode não atracar mais nenhum navio no Brasil na próxima temporada. A decisão, ainda preliminar, leva em conta uma série de aspectos mas, principalmente, a atual situação da economia brasileira e a perda de competitividade para outros países.

“Neste ano, teremos o navio Rapshody of the Seas, mas a previsão para a próxima temporada é já não ter mais nenhum navio para o Brasil, o que é algo inédito”, afirma Ricardo Amaral, vice-presidente da Royal Caribbean para América Latina e Caribe.

Em 2010, auge do setor de cruzeiros, atracaram até 22 navios de turismo no Brasil. Para a temporada deste ano, serão apenas 10 embarcações. Segundo informações apuradas pelo portal da DINHEIRO com operadoras do setor, este último número pode cair pela metade daqui a três anos.

Amaral explica que houve um crescimento exponencial nos últimos dez anos na indústria de cruzeiros no País, seguido pela “maior queda” nos últimos três anos. Ele lembra que a Royal Caribbean atuou no Brasil entre 2000 e 2002, e retomou atividades em 2007 sem interrupções até o momento.

“Assim como há uma decisão estratégica de retirar a contratação de um navio para atracar na próxima temporada, pode-se eventualmente voltar atrás. Mas se trata de uma decisão que ocorre com no mínimo dois anos de antecedência”, explica o executivo.

Câmbio e Custo Brasil

Perguntado quais as razões para uma ruptura nos cruzeiros brasileiros pela Royal Caribbean, Amaral explica que o câmbio adverso certamente é um dos fatores, mas não o único. Ele lembra que a contratação do navio com a empresa gestora é  toda astreada em dólares. “Chegamos a ter um câmbio de R$ 4,20 por dólar, hoje está na casa dos R$ 3,75, e isto influencia nos custos”, diz.

Amaral explica que os custos com operações trabalhistas – obrigação de contratar 25% da tripulação de brasileiros – e os custos tributários encarecem o negócio. “O detalhe  é que em uma situação como a nossa, de queda de renda, de poder aquisitivo, é proibitivo repassar esses custos”, afirma.

O vice-presidente da Royal Caribbean diz que o Brasil está perdendo competitividade para destinos como a Ásia e o Caribe, em particular. “Muitos navios que aportavam aqui estão indo para o Caribe, com o final do embargo econômico sobre Cuba, e em especial à Ásia, a China com um mercado promissor e muito demandado”, diz. Segundo ele, o “Custo Brasil” torna a competição desigual quando comparada a esses destinos.

Um exemplo citado por operadoras de navios é a chamada “praticagem”, que nada mais é que a contratação obrigatória pela legislação brasileira de um técnico, para que o navio possa atracar em condições seguras no porto. “No Brasil uma operação dessas, para cada atraque, custa em torno de R$ 100 mil, enquanto lá fora gira em torno de US$ 5 mil (R$ 19 mil)”, explica um executivo que prefere o anonimato.