A executiva Daniela da Silva Scapin, que durante um ano atuou como head de Políticas Públicas do WhatsApp no Brasil, anunciou sua saída da Meta em uma postagem de rede social compartilhada na sexta-feira, 7. No texto, ela faz críticas sutis aos “anúncios recentes”  da empresa e afirma não poder seguir com seu trabalho na companhia. Dona do Facebook, WhatsApp e Instagram, a Meta implementou várias mudanças de percurso desde o começo do ano.

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“Uma corporação se alinhar política e economicamente a um governo poderoso recém-eleito não é novidade pra ninguém”, diz Scapin. A executiva afirma no entanto que a “velocidade e intensidade” da mudança e a “adesão a uma base ideológica tão distinta” são algo que ela não pode “compreender, muito menos apoiar”.

Questionada sobre a postagem da ex-funcionária, a Meta afirmou que não irá comentar.

A menção ao “governo poderoso” é uma referência à eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA. Fundador da Meta, Mark Zuckerberg compareceu a cerimônia de posse do republicano em janeiro, ao lado de outros bilionários do setor de tecnologia como Elon Musk (Tesla e Space X), Jeff Bezos (Amazon), Sundar Pichai (Google) e Tim Cook (Apple).

No mesmo mês, a Meta determinou o fim da checagem de informações para identificar notícias falsas na plataforma, da moderação de conteúdo e das metas de inclusão de mulheres, minorias étnicas e pessoas LGBTQIAPN+. Os anúncios foram interpretados como um aceno de Zuckerberg ao novo presidente de seu país.

AGU versus Meta

A decisão de Zuckerberg de encerrar a moderação de conteúdo na plataforma gerou uma reação da Advocacia Geral da União (AGU), que solicitou à empresa mais informações sobre a decisão em 10 de janeiro. A empresa respondeu que o Programa de Verificação de Fatos seria encerrado apenas nos Estados Unidos.

O órgão no entanto demonstrou preocupação também com o encerramento das políticas de moderação de conteúdo. A medida permite que usuários das redes sociais da Meta postem mensagens ofensivas a grupos minoritários. Seria possível assim cometer crimes, como afirmar que homossexualidade e transexualidade são doenças ou proferir xingamentos racistas. Anteriormente, este tipo de postagem seria apagado ou teria o alcance restringido pela própria plataforma.

A AGU realizou então uma audiência pública sobre a regulamentação das redes sociais no dia 22 de janeiro. A Meta foi convidada, porém não enviou representante.

Na sexta-feira, 7, o órgão enviou então uma petição ao Supremo Tribunal Federal (STF) solicitando “celeridade e prioridade” no processo que trata da responsabilidade das redes sociais sobre o conteúdo compartilhado por seus usuários. O julgamento iniciou em novembro do ano passado e foi pausado em dezembro após um pedido de vistas do ministro André Mendonça.

A Meta tampouco quis comentar as ações da AGU.

‘Força e resiliência’

No texto que compartilhou em uma rede social, Daniela da Silva Scapin menciona que seu trabalho era voltado para “uma internet aberta, por mais transparência e, especialmente nos últimos anos, por um setor de tecnologia mais responsivo ao interesse público”.

A executiva também dá a entender com seu texto que mais pessoas devem sair ou serem demitidas nos próximos dias. “Aos agora antigos colegas, sei que esse anúncio vem num momento peculiar, já que em breve haverá mais mudanças e mais partidas na empresa. Deixo aqui meu desejo de força e resiliência”, diz.

Scapin afirma no entanto que buscará novos desafios após sair da Meta e deixa uma mensagem positiva: “Sigo acreditando firmemente na capacidade das pessoas encontrarem frestas e espaços de atuação positiva em toda e qualquer estrutura”.