Quase duas décadas após uma partida de futebol de salão, dois atletas voltaram a jogar no mesmo time. Sócrates Melo e Ricardo Bevilacqua participaram de um torneio estudantil promovido pela rádio Jovem Pan pelo colégio paulistano Vértice em 1990. O jogo estava duro, o placar a favor da escola adversária, mas um fato chamou a atenção de Ricardo: a força de vontade e o espírito de liderança de Sócrates, que foram decisivos para a virada de 3 a 2.
 

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Nome: Marcelo Biasoli idade: 33 anos Posição: gerente da RSA Seguros
Atuação: mercado brasileiro de seguros Onde jogou: Botafogo (SP)
Principais números: Faturamento: R$ 332 milhões  Funcionários: 300

 

Hoje, os dois trabalham na empresa de recrutamento Robert Half e Bevilacqua, atualmente presidente da companhia, não esconde que aquela atitude na quadra foi determinante para a contratação do antigo companheiro de time. Mas, até se encontrarem no mercado executivo, Sócrates chegou a sonhar com o futebol profissional.

Passou pelo Corinthians, Nacional (SP) e pelos americanos Miami Fusion e Milwaukee Rampage. Agora, ele faz parte de uma seleta lista de profissionais como Sérgio Chaia, presidente da Nextel, que jogou no Guarani, e Marcelo Biasoli, gerente da RSA Seguros, que vestiu a camisa do Botafogo (SP). Eles tentaram a sorte dentro das quatro linhas, mas souberam se preparar para a realidade do mundo corporativo. E, hoje, utilizam essa experiência para comandar suas equipes.

O futebol é uma máquina de inspiração empresarial. Importantes conceitos utilizados no dia a dia das empresas estão presentes nos 90 minutos de uma partida. Motivação, trabalho em equipe, autoconfiança, perseverança, tática, entre outras situações características de quem está com a bola nos pés, podem ser fundamentais em um jogo corporativo.

?O objetivo do futebol é ganhar e é isso o que as empresas estão sempre buscando?, diz Biasoli, que foi zagueiro da equipe júnior do Botafogo, de Ribeirão Preto (SP). Com a visão privilegiada de quem esteve dentro de campo, ele trouxe dos gramados o senso de colocação e a necessidade de antecipar os movimentos do ataque adversário.
 

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Nome: Sérgio Chaia idade: 45 anos Posição: presidente da Nextel
Atuação: telefonia móvel Onde jogou: Guarani (SP)
Principais números: Faturamento: R$ 3,2 bilhões Funcionários: 5 mil

Nos negócios de seguros, atua da mesma maneira. ?As empresas têm que prever os movimentos dos concorrentes em relação ao mercado e a produtos?, compara Biasoli. ?É assim que se consegue tomar uma decisão acertada.? Acertar, aliás, em muitas ocasiões, é sinônimo de ousar.

E a mudança de estratégia foi fundamental para a Nextel ganhar posições no disputadíssimo mercado de telefonia móvel. Quando a recente crise financeira eclodiu, no início do segundo semestre de 2008, o presidente Sérgio Chaia ligou para a matriz da companhia nos EUA e pediu um reforço de US$ 100 milhões para acelerar a expansão da empresa.

A verba anterior era inferior a US$ 40 milhões. ?Você tem certeza que quer esse dinheiro??, indagou o executivo da matriz americana do outro lado da linha. Chaia tinha tanta certeza que usou uma tática dos seus tempos de Guarani. Com a camisa 11, ele era o meia-atacante pronto para armar uma jogada ou finalizá-la com um gol.
 

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Nome: Sócrates Melo idade: 33 anos Posição: diretor da Robert Half
Atuação: recrutamento de executivos onde jogou: Corinthians, Nacional, Miami Fusion e Milwaukee Rampage (EUA)
Principais números: Faturamento: US$ 3 bilhões Funcionários: 9,9 mil

 

Por isso, Chaia colocaria seu time corporativo para frente, ao contrário dos concorrentes, que estavam recuados com medo da depressão econômica mundial. ?A melhor defesa é o ataque?, filosofa Chaia, com um tradicional bordão do futebol. O resultado é que a Nextel entrou em quatro mercados da região Nordeste do Brasil em seis meses e, no ano passado, deu um passo agressivo para abocanhar clientes da concorrência com a venda em lojas próprias e modelos mais modernos de aparelhos de voz. ?Tanto no mercado corporativo quanto no futebol, o improviso e a criatividade fazem a diferença?, diz Fernando Trevisan, diretor-geral da Trevisan Escola de Negócios.

As vitórias são sempre saborosas na hora em que são contadas. Mas para conquistá-las é preciso muito esforço, dedicação e entrosamento da equipe. Aprender com as derrotas, então, é crucial. ?Todos os níveis da empresa são fundamentais, principalmente aqueles que carregam o piano para a direção da companhia fazer o gol?, diz Sócrates Melo, cujo nome é uma homenagem ao xará, um dos maiores ídolos do Corinthians. É dessa maneira que Sérgio Chaia gosta de comandar a Nextel.

Ele sabe que não pode pisar na bola e suas atitudes servirão para motivar ou desmotivar os funcionários. É a liderança pelo exemplo, característica tão ensinada em cursos de formação de executivos. Para quem jogou futebol, esse é um traço quase natural. Afinal, é preciso correr e se esforçar da mesma maneira que um companheiro.

Com isso em mente, Chaia abriu a tática da empresa para todos os níveis hierárquicos e criou uma linguagem simples para que todos a entendessem facilmente. ?Eu erraria se não abrisse o jogo para a minha equipe. Jogaríamos mal e em direção oposta. Quero que eles se sintam parte de tudo o que acontece na empresa?, afirma Chaia.
 
À primeira vista, parece fácil usar os conceitos do esporte e, dessa forma, aproveitar as oportunidades. Não é. Nesse campo, o investimento em treinamento é vital. São as repetições que lapidam um profissional. Afinal, não basta ter talento, é preciso aperfeiçoá-lo. ?O sucesso só vem com treino, suor e trabalhos específicos de qualificação?, enumera Biasoli.

Desta maneira, virar um jogo fica mais fácil. No final do ano passado, Melo estava a dez dias do fim do mês e a meta estava distante de ser batida. A equipe dele tentava fechar um contrato, mas batia na trave. Parecia que a bola era dominada com a canela. Ele chamou cada um, tocou nos pontos fortes e, como um autêntico capitão, mostrou que era possível alcançar o objetivo. No final, contratos importantes foram assinados e a meta, batida. ?A disciplina e a autoconfiança nos ajudaram a vencer?, afirma Melo.

Não era a primeira vez que ele precisava reverter uma situação adversa. Na Copa São Paulo de Futebol Junior, de 1993, ele estava no Nacional e seu time perdia por 1 a 0. O problema é que o primeiro tempo havia sido um massacre, mas o gol teimava em não sair. Em um descuido da zaga, o adversário saiu na frente.

A decepção no vestiário era nítida e o volante Sócrates Melo, com a camisa 5 suja de barro, faixa no braço esquerdo, chamou seus companheiros e deu um banho de motivação. No segundo tempo, o Nacional virou para 4 a 1. Na vida desses executivos, qualquer semelhança com os gramados não é mera coincidência.

 

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