27/08/2008 - 7:00
O PAULISTANO MARCELO Hahn levava uma vida estressante até abril de 2004. Diariamente, enfrentava duas horas de trânsito de São Paulo à cidade de Cotia, a 33 quilômetros da capital paulista, onde fica sua empresa de medicamentos biotecnológicos, a Blaüsiegel. De repente, como num passe de mágica, o desgaste do trajeto passou a se resumir a dois minutos. O responsável por essa transformação é o helicóptero Bell 407, que mudou sua rotina. “Minha produtividade aumentou muito. Hoje, ganho em tempo e qualidade de vida”, conta. Tanta empolgação levou Marcelo à Latin American Business Aviation Conference & Exhibition (Labace), feira de aviação que aconteceu em São Paulo, para comprar seu segundo helicóptero. “Estou investindo em um Agusta Power. Ele opera por instrumentos e é ideal para maiores distâncias e vôos noturnos”, explica. Trata-se de uma aquisição de US$ 7 milhões. Marcelo faz parte das estatísticas e aquece um mercado turbinado: o da aviação executiva. “Prevemos um crescimento de 10% ao ano para os próximos cinco anos. Só no primeiro semestre, o setor movimentou US$ 200 milhões”, explica Rui Thomaz de Aquino, presidente da Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag).
A Labace, que aconteceu de 14 a 16 de agosto, confirma os dados positivos. Em sua quinta edição, reuniu 88 expositores e recebeu cerca de nove mil visitantes. Ali circularam empresários como Michael Klein, presidente da Casas Bahia e dono de três aviões, e outros grandes empreendedores da economia brasileira, como Antônio Ermírio de Moraes, dono do grupo Votorantim, e Nelson Piquet. “Neste ano, vamos entregar cerca de 45 aeronaves. Em 2009, se nada de muito grave ocorrer na economia mundial, teremos outro ano de boas vendas”, conta José Eduardo Brandão, diretor comercial da Ocean Air táxi aéreo, representante no Brasil das empresas Bombardier, Pilatus e AgustaWestland. Breno Correa, diretor de vendas para a América Latina da Embraer, compartilha do mesmo otimismo. Ele estima uma demanda mundial de 13.150 jatos executivos nos próximos dez anos, totalizando US$ 201 bilhões. “Com o surgimento de jatos mais eficientes e de menor custo de aquisição e operação, ganhamos novos clientes, que temiam altas despesas ou não conheciam a fundo os benefícios da aviação executiva”, comenta.
Quem são as pessoas que movimentam esse mercado? “Em geral, são homens, na faixa dos 30 aos 40 anos, profissionais liberais, altos executivos ou empresários”, responde Brandão, da Ocean Air. “Aqueles que compram pela primeira vez costumam investir cerca de US$ 500 mil e, com o tempo, habituam-se à cultura da aviação e passam progressivamente a aeronaves de porte maior”, completa Aquino, o presidente da Abag. É o caso dos amigos Denis Schwarzenbeck e Maurício Frizzarin. Eles comemoravam na Labace os negócios que haviam acabado de fechar. Schwarzenbeck, sócio da Polimec, empresa de forjamento e usinagem de metais, havia acabado de trocar um Cirrus SR20, aeronave de US$ 300 mil adquirida em fevereiro de 2007, por um Cirrus SR22, de aproximadamente US$ 400 mil. “Moro em Campinas e viajo muito a trabalho para Santa Catarina. Num vôo comercial, levava cinco horas, entre chegar ao aeroporto, fazer check-in e escala em Congonhas. Hoje, faço a mesma viagem em uma hora”, diz Schwarzenbeck. Frizzarin, sócio da empresa Folhamatic Tecnologia em Sistemas, já negociando seu terceiro avião, aconselha colocar os gastos na ponta do lápis. “Acaba saindo mais barato. E olhe que eu uso meu avião cerca de três vezes por semana. Além disso, com sua própria aeronave, você pode se dar ao luxo de não depender de disponibilidade de passagens e tudo fica mais próximo. Posso sair de manhã de São Paulo e passar o dia em Buenos Aires, por exemplo”, afirma.
São pessoas como ele que alimentam a aviação executiva brasileira: jovens empreendedores que estão surfando na onda do crescimento da economia. Para se ter uma idéia do que isso representa, só no ano passado foram vendidos 150 novos jatos executivos no País. A entrada de novas aeronaves no mercado turbina, conseqüentemente, as vendas de aviões de segunda mão. Em 2007, o Brasil chegou a uma frota de 1.650 aeronaves executivas, divididas em 350 jatos, 650 turboélices e 650 helicópteros. Vale a pena gastar milhões nesse tipo de transporte? Quem responde é Breno Correa, da Embraer. “Basta fazer uma comparação. Decidimos comprar um carro para não andar de ônibus porque queremos privacidade, conforto e economia de tempo e energia. O que o carro agrega em nossa vida é o que o avião executivo traz para um homem de negócios.”