07/05/2008 - 7:00
NICKOLAS SUZUKI, DE 28 anos, se sentiu como um peixe fora d?água no dia em que começou a trabalhar no site Apontador, em abril de 2007. Vindo de uma tradicional editora, chegou na empresa que fornece mapas e rotas na internet com os trajes com os quais estava acostumado a trabalhar: terno bem cortado, camisa lisa e um nó de gravata impecável. Bastou pisar na recepção para ser avaliado da cabeça aos pés. ?Eu, particularmente, gosto de usar terno e gravata, mas quando resolvo vir assim ao trabalho o pessoal estranha?, diz Suzuki. O terno pode até ser tolerado, mas a gravata não tem espaço na empresa. E isso não é uma particularidade do setor de tecnologia. Cada vez mais, a peça do vestuário que é considerada um dos maiores símbolos do mundo corporativo perde espaço nas empresas. ?Gostaria que todos nos libertássemos da escravidão de usar terno e gravata?, conta Edson Rodriguez, vice-presidente da consultoria Thomas International do Brasil. ?Mas sei que isso não é um privilégio de todas as áreas profissionais.?
Os setores de advocacia e financeiro são os mais rígidos em relação ao ?uniforme? de trabalho. Mas aos poucos o cenário dentro das empresas vai mudando. Alguns escritórios já toleram as roupas casuais nas sextas-feiras e bancos de investimentos e seguradoras fazem suas exceções. É o caso da seguradora americana Marsh & McLennan, que instituiu pelo quinto ano consecutivo, no Brasil, o chamado Casual Summer, no qual é possível se vestir mais à vontade no verão. Na empresa de elevadores Atlas Schindler, por sua vez, a experiência vale o ano inteiro. ?Isso aumentou a satisfação dos funcionários e, com o tempo, até nossos fornecedores e clientes passaram a se libertar da gravata?, lembra José Lusquinos, diretor da empresa. Afinal, o Brasil é um país tropical. Mais: além de trazer satisfação aos funcionários, os trajes mais descontraídos servem como um espelho para decifrar suas personalidades. ?Acabando com o uniforme, você deixa de robotizar as pessoas e conhece o estilo delas?, explica Anderson Gaspar, executivo de vendas da Microsoft.
Pode parecer piada, mas, em regiões fora do eixo Rio/São Paulo, o uso da gravata tem uma conotação esnobe. ?Alguns clientes enxergam como sinal de arrogância?, diz Marcelo dos Santos, diretor da Datasul para a América Latina. Nas áreas de comunicação, de eventos e de informática, o uso do terno e da gravata pode ser mais nocivo ainda. ?Vestido por jovens de até 40 anos, ele é sinal de caretice, rigidez e inflexibilidade, tudo o que o mercado não quer?, conta Robert Janssen, consultor na área de Tecnologia da Informação do Programa de Promoção da Excelência do Software Brasileiro. Porém, antes de comemorar, saiba que aderir ao traje informal pode não ser tão prático quanto parece. ?É muito mais fácil colocar terno, camisa e gravata do que ficar pensando em grandes combinações?, lembra Ellen Baraldi, consultora de moda. Além disso, é preciso conhecer bem a empresa na qual se trabalha. ?A apresentação pessoal é composta por vários itens: barba bem feita, cabelos e unhas bem cortados?, diz Adriano Araújo, vicepresidente do grupo Foco, consultoria especializada em recursos humanos. ?O uso da gravata nunca é um pecado. Já a falta dela, ao menos em um primeiro contato, pode ser.?