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Symantec :da esq. para a dir., Christopher Cook, gerente de marketing, no baixo; Caio Vernier (atrás), no vocal; Carlos Baleeiro, na bateria; e André Zago, na guitarra – todos da área de vendas – formam o grupo Threat Report

 

Durante o dia, um grupo de Cinco rapazes se dedica a ler relatórios, fazer reuniões, estudar a aplicação de normas financeiras e são obrigados a tomar uma série de decisões que envolvem milhões de reais e os empregos de muita gente. À noite, pelo menos uma vez por semana, o mesmo grupo entra em um estúdio e deixa as tarefas de lado para se dedicar à música. eles trabalham na mesma empresa, mas, naquele momento, a hierarquia fica da porta para fora. eis a KBand, banda formada por funcionários da consultoria financeira KPMG. ela existe desde 2002 e hoje conta com Luis Motta, sócio da consultoria, no comando das baquetas; décio Frignani, também sócio, na guitarra; Fernando Monteiro, gerente sênior, também na guitarra; edson Carvalho, coordenador administrativo, no baixo; e Gabriel Carracedo, gerente de finanças corporati- vas, como vocalista.

“A KBand integra todos os departa- mentos. e temos que fazer um som de qualidade, pois ainda representamos a empresa”, diz Motta, que, ao lado dos companheiros, se apresenta em eventos da companhia. não é de hoje que executivos ensaiam movimentos nos palcos, mas esse fenômeno no universo corporativo tem crescido muito. Prova disso é que, em outubro, acontecerão dois campeonatos de bandas formadas por funcionários da mesma empresa.

Um, nos Estados Unidos, contará com grupos de gigantes como NBC, Chevron, Cisco e Johnson & Johnson. O outro, pela primeira vez no Brasil, é um concurso patrocina- do pelo prêmio Top of Mind de RH, com 45 inscritos. desse total, 12 serão selecionados para tocar no dia da entrega do prêmio, na casa de shows HhSBC Brasil, para um público de até 1,5 mil pessoas.

Para quem está acostumado a fazer apresentações de relatórios diante de diretores, presidentes e acionistas, essa é uma tarefa muito mais agradável. “Já tocamos para até 1,5 mil pessoas”, diz Christopher Cook, gerente de marketing da Symantec, que se inscreveu na disputa. Ele e mais quatro colegas de trabalho fazem parte da Threat Rreport, banda batizada com o mesmo nome do relatório anual sobre segurança na internet produzido pela empresa.

“Tocamos nos eventos internos e, apesar de não sermos profissionais, a adrenalina antes de cada show é gigantesca. A música combate o estresse”, conta Cook. Oos ensaios semanais também são uma forma de relaxamento para Marcos Rrosset, diretor-geral da Disney no Brasil. “Segunda-feira é meu dia preferido. Pois sei que é o dia do rock n’ roll”, diz Rosset. Ele e outros quatro empresários se reúnem semanalmente em sua casa para tocar músicas de Eric Clapton, Pink Floyd e clássicos do rock.

Além de servir como uma válvula de escape para as pressões do cotidiano, a música também ajuda a mudar a imagem do executivo intocável devido ao cargo. “Quando um executivo toca em uma festa da empresa, ele mostra um lado mais humano que por vezes esconde no dia a dia”, aponta ricardo Guedes, diretor da consultoria Michael Page, especializada em recursos humanos.

 

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Fox do Brasil: o executivo Marcelo Braga, diretor de marketing da empresa, toca violão e guitarra. Ele acredita que os improvisos da música ajudam a reagir mais rápido aos desafios que surgem no dia a dia de trabalho

 

O dono da fabricante de chocolates Cacau Show, empresa com 691 lojas e faturamento de r$ 165 milhões, se encaixa nesse perfil. Sua primeira ligação com a música foi quando era ainda garoto e assistia aos jogos do São José, time de futebol do bairro da Casa Verde, zona norte de São Paulo, treinado por seu pai Ademir Costa. nessa época, enquanto o pai ficava dentro do campo, Alexandre aprendia a tocar samba do lado de fora. Aos 13 anos começou a tocar violão e desco- briu o rock nacional. Aos 18 anos, fundou a Cacau Show e comprou sua pri- meira guitarra.

A vida me levou para o chocolate, mas a música sempre me acompanhou”, explica ele. A paixão pela música é tão grande que, nos eventos da empresa, Alexandre se despe da imagem de presidente e assume o papel de cantor. “naquele momento me sinto um músico.”

 

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Cacau show: Alexandre Tadeu Costa, o dono da companhia com faturamento de R$ 165 milhões, costuma tocar guitarra em algumas festas da empresa

 

Muitos dos executivos levam essa vida paralela tão a sério que investem tempo e dinheiro na carreira musical. A banda da KPMG, por exemplo, contratou até um produtor musical para organizar os ensaios no estúdio, a iluminação dos shows e todo tipo de apoio técnico de que precisa.

 

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KPMG: da esq. para a dir., Décio Frignani, sócio da empresa, na guitarra; Edson Carvalho, coordenador administrativo, no baixo; Gabriel Carracedo, gerente de finanças corporativas , no vocal; Luis Motta, um dos sócios, na bateria; e Fernando Monteiro, gerente sênior, compõem a KBand

 

O executivo Alexandre Corigliano, diretor da Disoft, empresa de softwares, também investe nessa carreira amadora com cara de profissional. Integrante da Brand New Classics, banda formada por outros três executivos de ramos diferentes e mais um músico profissional que toca baixo, ele aluga semanalmente um estúdio e frequentemente toca clássicos de grupos como U2, Queen e Beatles em casas noturnas de São Paulo.

“Eem uma banda é necessário canalizar a energia de pessoas diferentes para que se chegue a um objetivo comum. Dentro da empresa, o processo é parecido”, afirma Corigliano. Mais do que ajudar a unir os mais diferentes grupos, a música também estimula a criatividade dentro da empresa.

“A música o ensina a reagir mais rápido aos desafios que surgem no dia a dia”, garante Marcelo Braga, diretor de marketing da Fox do Brasil, que toca violão e guitarra desde pequeno. Alfredo Assumpção, presidente da Fesa, especializada em recrutamento de executivos, concorda: “Eu diria que nasci para a música e hoje sou mais executivo”, diz Assumpção.

Com quatro Cds gravados e outros quatro livros de poesia escritos, Assumpção enxerga a arte como forma de expressão que influencia todos os campos de sua vida, em especial o profissional. “Proponho uma gestão em que as pessoas tenham liberdade. Isto vem da arte”, explica Assumpção.

 

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Disoft: Alexandre Corigliano, diretor da empresa de softwares, acredita que em uma banda é necessário canalizar a energia de pessoas diferentes para que se chegue a um objetivo comum. “Dentro da empresa, o processo é parecido”, diz ele