Um estudo publicado nesta terça-feira (18/10) na revista científica Cell aponta que existem pessoas mais propensas a serem picadas por mosquitos do que outras. Isso porque a atração do inseto é impulsionada pelo cheiro. E uma má notícia: eles se mantêm fiéis às vítimas ao longo do tempo.

Os cientistas descobriram que os indivíduos mais atraentes para os mosquitos produzem, em sua pele, muito de determinadas substâncias químicas ligadas diretamente ao odor.

Ansiedade pode ser aliada em vez de inimiga destrutiva, diz autora

“Se você tiver altos níveis dessas substâncias na pele, você será o que receberá todas as picadas durante o piquenique”, afirma Leslie Vosshall, neurobióloga da Universidade Rockefeller, em Nova York, e uma das autoras do estudo.

Segundo a cientista, há muito folclore em torno de quem é mais alvo de mosquitos, mas muitos dos argumentos não são apoiados por evidências contundentes.

Para testar o “magnetismo” desses animais, os pesquisadores desenvolveram um experimento baseado em diferentes cheiros de seres humanos, explica Maria Elena de Obaldia, também autora do estudo.

Nesse experimento, 64 voluntários puseram meias de nylon ao redor do antebraço para captar o odor da pele. Em seguida, as meias foram colocadas em diferentes compartimentos ao fim de um longo tubo. E, então, dezenas de mosquitos foram soltos.

“Imediatamente, tornou-se muito óbvio. Eles se aglomeraram, basicamente, nos objetos mais atraentes”, afirmou De Obaldia.

Os cientistas promoveram uma espécie de competição entre todos os túneis e meias, e observaram uma diferença impressionante no placar: os objetos que reuniram mais mosquitos foram cerca de cem vezes mais atrativos em relação aos últimos colocados.

A experiência utilizou o mosquito Aedes aegypti, que espalha doenças como febre amarela, zika e dengue. Vosshall diz que resultados semelhantes devem ser obtidos com outras espécies, mas que mais pesquisas são necessárias para confirmar tal suposição.

Influência de ácidos

Ao realizar o teste com as mesmas pessoas durante vários anos, o estudo revelou que os resultados permaneceram os mesmos, observa Matt DeGennaro, neurogeneticista da Universidade Internacional da Flórida.

“Ímãs de mosquitos parecem ter continuado ímas de mosquitos”, disse o cientista, que não esteve envolvido com a pesquisa.

Nos voluntários que se mostraram os favoritos dos insetos, os pesquisadores encontraram um fator comum: altos níveis de determinados ácidos na pele.

Essas “moléculas oleosas” fazem parte da camada hidratante natural da pele, e os seres humanos as produzem em diferentes quantidades, explica a autora Vosshall. Bactérias saudáveis que vivem na pele consomem esses ácidos e produzem parte do perfil odorífero do tecido.

Não é possível se livrar desses ácidos sem prejudicar a saúde cutânea, afirma Vosshall, que é cientista-chefe do Instituto Médico Howard Hughes.

Contudo, a pesquisa pode ajudar a encontrar novos métodos para repelir mosquitos, observa o neurobiólogo da Universidade de Washington Jeff Riffell, que não fez parte do estudo. Segundo ele, é possível que haja maneiras de alterar as bactérias da pele e, assim, mudar odores humanos.

“Mosquitos são resilientes”

Mas Riffell também pondera que descobrir maneiras de combater mosquitos não é fácil, uma vez que as criaturas evoluíram para se tornar “pequenas e esguias máquinas de picar”.

O estudo provou esse ponto: os pesquisadores fizeram o experimento também com mosquitos cujos genes foram modificados para danificar o olfato. Mesmo assim, os insetos se aglomeraram nos mesmos lugares.

“Os mosquitos são resilientes. Eles têm muitos planos alternativos para nos encontrar e nos picar”, conclui Vosshall.

gb/ek (AP)