22/07/2020 - 5:10
Mustafa tem cerca de um mês para encontrar trabalho em Dubai. Caso contrário, esse jovem paquistanês terá de deixar o emirado rico onde vive desde 2014, mesma situação de muitos outros expatriados afetados pelos cortes de empregos, como resultado da pandemia de coronavírus.
“Todos sabemos que os Emirados são um local temporário e que, um dia ou outro, teremos que partir”, diz este designer gráfico de 30 anos, que acabou de perder o emprego em uma empresa de marketing do setor esportivo.
Em Dubai, um dos sete membros dos Emirados Árabes Unidos, os estrangeiros representam cerca de 90% da população de mais de 3,3 milhões de pessoas. Eles vêm de mais de 200 países e realizam todo o tipo de trabalho: do operário nos canteiros de obras até o corretor do distrito financeiro.
Os Emirados, que registraram oficialmente mais de 56.000 casos de coronavírus, dos quais 339 foram fatais, adotaram medidas drásticas de confinamento no início da crise.
Com a decorrente desaceleração econômica, muitos expatriados perderam o emprego e se lançaram em uma corrida contra o tempo para encontrar outro.
Ter um trabalho é condição para obter uma autorização de residência em Dubai, e os estrangeiros desempregados não têm auxílio social do Estado.
Não há estatísticas oficiais sobre o número de pessoas que perderam o emprego durante esta crise.
Mustafa reluta em retornar ao Paquistão, onde ganhava “metade” do salário de Dubai. E também se acostumou a viajar pelo mundo a partir deste “hub” aéreo.
“Aqui eu trabalhei com grandes hotéis, aeroportos, marcas de carros de luxo, esportes radicais”, todas elas indústrias menores no Paquistão.
Turismo, restauração, finanças, novas tecnologias e outros serviços de luxo atraem milhões de trabalhadores expatriados.
E Dubai, templo do consumismo global, também pode sofrer com as partidas, estimam analistas econômicos.
– “Expatriados, não imigrantes” –
O mercado de trabalho nos países do Golfo pode perder em torno de 13%, com 900.000 empregos cortados nos Emirados, prevê um relatório da Oxford Economics.
Segundo o centro de análise britânico, um êxodo de expatriados é “provável” e levaria a uma diminuição da população de até 4% na Arábia Saudita e em Omã e de até 10% nos Emirados e no Catar.
Isso pode ter “sérias repercussões” em setores-chave: escassez de mão-de-obra em restaurantes e hotéis, consumo reduzido, excesso de oferta imobiliária, entre outras.
Apesar dessas perspectivas sombrias, o apoio estatal permanece reservado aos cidadãos, e os estrangeiros terão de “retornar para seu país, ou ir para outro, quando não tiverem emprego”, diz Scott Livermore, da Oxford Economics Middle East, com sede em Dubai e autor do relatório.
“É uma política deliberadamente projetada para estrangeiros serem expatriados, e não imigrantes”, explica o economista à AFP, que enfatiza uma “provável aceleração” da tendência de fortalecer a presença dos cidadãos dos Emirados no setor privado.
Com tráfego aéreo global reduzido, a Emirates Airlines (a principal companhia aérea de Dubai e a maior companhia aérea do Oriente Médio) suspendeu suas atividades comerciais no final de março.
Pouco a pouco, retoma o serviço, mas continua com um plano drástico para cortar empregos: já reduziu sua equipe em 10%, devido à pandemia, e planeja demitir mais 15%, ou cerca de 9.000.
O comissário de bordo egípcio Sami, de 32 anos, ficou sem emprego. Viajou pelo mundo com a Emirates por seis anos até junho, quando seu chefe o chamou para uma “reunião de cinco minutos”, que, na verdade, era uma demissão.
“Havia centenas. Cada um esperava sua vez para entrevistas individuais”, contou à AFP.
O jovem de 30 anos, que tomou um empréstimo bancário para comprar um veículo e se acostumou ao “alto padrão de vida” em Dubai, terá de voltar para sua família no Cairo.
“Eu realmente quero ficar em Dubai, mas no momento não há emprego”, declara, enquanto ainda procura um emprego com um “salário decente”.