03/08/2018 - 13:13
Mesmo com a economia tendo decepcionado os cenários promissores traçados pelo mercado no início de 2018, a pequena melhora da atividade econômica no primeiro semestre foi suficiente para animar o transporte rodoviário de carga. Esperando maior volume para transportar e que o tabelamento do frete comece a ser efetivamente cumprido, mais empresas passaram a projetar melhora do frete. A parcela do setor que aposta em uma melhora dos valores no futuro subiu de 19,1% em janeiro para 36,6% em agosto, enquanto aqueles que preveem piora passaram de 39,5% para 28,2%.
Esse é o diagnóstico de uma pesquisa com cerca de 1.500 empresas do setor conduzida pela Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística) em parceria com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e antecipada ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado.
De modo geral, as transportadoras têm visto um ambiente mais positivo para suas operações nos últimos meses, embora todo aquele otimismo do início de 2018 não tenha se concretizado, afirma Lauro Valdivia, assessor técnico da NTC&Logística e responsável pelo levantamento. Soma-se a isso a sazonalidade do segundo semestre, quando o volume de carga para transportar cresce por causa das preparações para o final do ano.
Além disso, os números da pesquisa já refletem, em algum grau, as expectativas relacionadas ao tabelamento do frete – principal medida negociada pelo governo federal para encerrar a paralisação dos caminhoneiros ocorrida em maio.
Valdivia observa que o setor sofre com uma elevada defasagem entre o frete cobrado e o custo da atividade. De acordo com ele, isso ocorre porque grande parte das empresas calcula de modo equivocado seus custos, desconsiderando despesas que não são pagas imediatamente na execução dos serviços – futuras revisões dos veículos e troca de peças, por exemplo. Com isso, acabam cobrando menos do que deveriam.
Se o tabelamento do frete de fato “vingar”, a associação estima que a defasagem deverá cair, contrariando a tendência histórica de alta no começo do ano. “Se o piso funcionar mesmo, talvez em janeiro a gente consiga melhorar esses índices”, avalia Lauro Valdivia.
Conforme apurado no levantamento, a defasagem entre os valores dos fretes cobrados pelas empresas de transporte rodoviário de cargas e os custos efetivos dessa atividade atingiu 17,22% em agosto. Entre os tipos de carga, o índice é mais alto para a carga lotação, aquela que é transportada em um veículo exclusivo para o contratante. Nesse segmento, a defasagem ficou em 19,33% em agosto, contra 9,61% calculados para a carga fracionada (carga geral solta, como pacotes).
“Há uma defasagem média de 17% e, dentro desse cálculo, não há tributação e nem margem de lucro. Seguramente, essa defasagem é muito maior em relação aos indicadores da NTC”, afirma o presidente da associação, José Hélio Fernandes.
A NTC&Logística é uma das associações que se posiciona contra o tabelamento do frete, defendendo a prática livre dos preços. Na visão da entidade, o ideal é que cada transportador saiba calcular seus custos e cobrar o frete adequado.
Mas a associação vê essa batalha como praticamente perdida, ainda que permaneça rodeada de incertezas, com o texto à espera da sanção presidencial e com as discussões sobre sua constitucionalidade paradas no Supremo Tribunal Federal. Nesse sentido, a demanda agora é por uma tabela sem equívocos técnicos. “É uma muleta, mas para quem não sabe andar, eu acho que ajuda – desde que bem feita, bem elaborada, equilibrada”, afirma o assessor técnico.
Ainda que possa ter um efeito positivo sobre o valor do frete, o presidente da NTC&Logística opina que só uma retomada firme da economia levaria o setor a superar o momento difícil que atravessou na última crise econômica. “O que vale mesmo é a oferta e procura”, conclui.