13/10/2016 - 0:00
A valorização do real frente ao dólar está afetando o desempenho da indústria calçadista nacional no mercado externo. Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), entre janeiro e setembro deste ano, o setor embarcou 87 milhões de pares para o exterior, no valor de US$ 702,5 milhões, um crescimento de 1,1% em moeda forte sobre o mesmo período de 2015, frustrando as expectativas mais otimistas do início do ano, que não esperavam marcar o passo em 2016.
“Em janeiro, esperávamos um desempenho positivo ao longo do ano. Com a instabilidade cambial provocada pela crise econômica e política brasileira, bem como as incertezas macroeconômicas, acumulamos resultados negativos na primeira parte do ano”, afirma Heitor Klein, presidente executivo da Abicalçados. “Agora, com o quadro um pouco mais definido, já podemos vislumbrar um resultado pouco superior ao de 2015, mas o cenário ainda é nebuloso.”
De acordo com Klein, a recuperação, ainda que lenta, das exportações está sendo puxada pelos Estados Unidos e pela Argentina, mercados tradicionais do calçado brasileiro. Nos nove primeiros meses do ano, os americanos foram responsáveis pela compra de 9 milhões do total de 87 milhões de pares vendidos lá fora pelos fabricantes brasileiros, gerando uma receita de US$ 159,7 milhões, um incremento de 16% tanto em volume quanto em divisas.
Em segundo lugar vem a Argentina, que importou 7,3 milhões de pares por US$ 83,35 milhões, um crescimento de 17,8% em volume e de 57% em receitas. “No caso da Argentina, havia uma demanda represada por conta da política protecionista aplicada pelo governo de Cristina Kirchner, entre 2012 e 2015”, diz.
Na ponta do lápis, no entanto, a valorização do real frente ao dólar, acabou beneficiando o setor, ao encarecer as importações. Com isso, caiu em 34% o volume de calçados importados, que totalizaram 18,3 milhões de pares no valor de US$ 273,58 milhões, um desembolso 33,7% menor que o registrado nos nove primeiros meses do ano passado, com os produtos fabricados por fornecedores do Vietnã, Indonésia e China.
No caso chinês, além do fator cambial, vem contribuindo decisivamente para a redução das importações, a política antidumping aplicada pelo governo brasileiro a partir de 2010, com a aplicação da taxa de US$ 10,22 para cada par de calçados internado no País. Em 2009, antes da criação da sobretaxa, os gastos com produtos “made in China”, chegaram a US$ 183,6 milhões, equivalente a 70% das importações de calçados. “No ano passado, as exportações chinesas para o Brasil chegaram a US$ 45,9 milhões, 80% a menos do que em 2009”, afirma Klein.
Com uma fabricação de 11,3 bilhões de pares por ano, a China é o maior produtor de calçados e também o maior exportador (8 bilhões de pares), com 70% das vendas mundiais, e o maior consumidor (3,8 bilhões de pares vendidos internamente). Por isso mesmo, cansados de ver os chineses apenas como concorrentes praticamente imbatíveis na produção de calçados de baixo preço, os calçadistas brasileiros decidiram investir na conquista de uma fatia, por pequena que seja, do gigantesco mercado da potência asiática.
Nesta semana, por exemplo, 14 marcas nacionais, como Amazonas Sandals, Sapatoterapia, Kidy, Kildare, Modare, Molekinha, Capodarte, Ipanema, Grendha, Zaxy, Rider, Cartago, West Coast e Cravo & Canela, participaram da China International Fashion Fair (CHIC), em Xangai, com direito a reuniões com 25 dos maiores grupos do varejo calçadista local.
O desafio é grande. Afinal, no ano passado, as exportações brasileiras de calçados para o varejo chinês atingiram apenas US$ 4,4 milhões, uma insignificância num mercado de números e cifras bilionárias. “É um mercado potencial, muito forte, mas que precisa ser trabalhado com orientação e paciência, pois não é uma inserção possível de se conseguir a curto prazo”, afirma Ruísa Scheffel, analista de Promoção Comercial da Abicalçados.