Desafiando falta de incentivos, problemas de infra-estrutura e o viés antiexportador da política tributária brasileira, o setor privado promete fazer de 2002 um ano notável para as exportações. Ao longo dos próximos meses, se farão notar mais claramente os efeitos de duas importantes novidades: a presença de pequenas e médias empresas nas operações externas e a busca de mercados alternativos às praças tradicionais. ?O papel das pequenas e médias empresas será fundamental para que o País obtenha um crescimento expressivo e de longo prazo nas exportações?, afirma Roberto Giannetti da Fonseca, secretário executivo da Câmara de Comércio Exterior. Até o final do ano, o governo espera um superávit de US$ 5 bilhões na balança comercial, quase o dobro dos US$ 2,6 bilhões alcançados em 2001.

Ferreira, do Cafe Original: conquistando a América A participação das pequenas e médias companhias nas vendas externas vem crescendo a cada ano e deve saltar em 2002 de 2% para ainda modestos 2,5% do volume total das exportações brasileiras. Na Espanha, Taiwan e Índia, as pequenas e médias empresas respondem por 41%, 48% e 35% das vendas externas. Para avançar nessa direção, as pequenas e médias estão somando esforços. Um bom exemplo está no bairro do Bom Retiro, em São Paulo. Depois da invasão de roupas importadas da Índia, China e Coréia, vinte e uma empresas concorrentes no mercado doméstico se uniram para formar um consórcio exportador. Começaram pela América Latina e hoje já estão presentes, com a marca Tropical Spice, em 18 países, incluindo o Japão. A marca acaba de fechar seu segundo ano de existência com vendas de US$ 400 mil, o que representa 2% do faturamento de cada empresa. De maneira semelhante, um grupo de 106 pequenas madeireiras de Rondônia contratou designers italianos para cuidar da imagem do seu produto, que é distribuído na Europa e nos EUA. Implementaram um programa de reflorestamento. Resultado: até o final de 2003 elas terão contribuído com US$ 13 milhões para a balança. De forma mais tradicional, o empresário Luís Henrique Moreira Ferreira está conseguindo colocar seu Café Original nas gôndolas de mais de 450 lojas da Wal-Mart nos Estados Unidos. Sua ambição em 2002 é conquistar todos os tipos de canais de venda, incluindo a rede Starbucks. ?O mercado americano não tem fim?, diz ele.

Marcopolo: ônibus vendidos para 70 países
Dado o vigor dos mercados tradicionais, poucas são as empresas que se aventuram em novos territórios. Apenas sete países absorvem 55% das nossas vendas externas. Nos últimos anos, porém, a busca por novos mercados tem surtido efeito. Em 2001 as vendas para a África cresceram 46% e para a Europa Oriental, 42,6%, enquanto exportações para a Rússia triplicaram. Este ano espera-se resultados ainda mais expressivos.

Uma companhia que tem se aventurado com sucesso por destinos ?exóticos? é a fabricante de carroceria gaúcha Marcopolo. A empresa está presente em 70 países, de onde tira 60% de seu faturamento. Ela entra em 2002 com encomendas de 2 mil ônibus, a maior parte destinada à Arábia Saudita. Outro grande fornecedor do Oriente Médio é a Sadia, que em 2000 exportou um total de US$ 470 milhões. A Sadia encontrou uma forma eficiente de ampliar ainda mais suas exportações: se unindo à concorrente Perdigão. Em setembro de 2001 fizeram uma joint venture para novas operações internacionais, a Brazilian Food Trading. A BFT tem como meta faturar US$ 150 milhões com a venda de frango in natura no primeiro ano e US$ 500 milhões até 2006.