Apesar do recuo de Donald Trump em novembro, 45% dos produtos agropecuários exportados pelo Brasil aos Estados Unidos seguem sob as novas tarifas impostas pelo presidente norte-americano. Os dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) mostram que setores altamente dependentes dos Estados Unidos, como tilápia, sebo e mel, praticamente zeraram as exportações.

Caso os produtos atualmente afetados continuem sob as tarifas, a CNA estima um impacto negativo de US$ 2,7 bilhões em 2026.

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Em coletiva de imprensa nesta terça-feira, 9, a diretora de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Sueme Mori, alertou que, além de avançar nas próprias frentes de negociação, é fundamental que o Brasil acompanhe de perto os acordos que os Estados Unidos firmam com outros mercados.

“É importante falarmos dos acordos que os Estados Unidos vêm firmando com seus parceiros desde abril. Normalmente, a maioria dos acordos que os Estados Unidos têm firmado tem três componentes: acesso a mercado, redução de barreiras tarifárias e redução de barreiras não tarifárias; compromisso de investimentos no mercado americano; e compromisso de compras de produtos agropecuários dos EUA”, explica.

Ela alertou que, por ser um grande exportador de produtos agropecuários para diversos destinos, o Brasil é diretamente afetado quando os Estados Unidos firmam acordos comerciais. Isso porque, ao assumir compromissos de compra com Washington, outros países tendem a substituir parte das importações que fariam do Brasil.

Por essa razão, segundo Mori, é fundamental acompanhar de perto os novos acordos negociados pelo governo americano e avaliar o impacto que eles podem gerar sobre a pauta exportadora brasileira.

Em abril, Trump impôs uma tarifa de 10% sobre cerca de 200 produtos alimentícios, incluindo itens brasileiros. Em julho, o governo americano voltou a pressionar o agro nacional ao anunciar uma sobretaxa de 40% para uma série de mercadorias do Brasil, embora, após pressões internas e negociações com o governo brasileiro, parte desse pacote tenha sido suspensa meses depois — entre elas, suco de laranja e café.

Os setores mais afetados

Balanço das exportações

O balanço divulgado pela CNA mostrou que, em 2025, o agro brasileiro fechou com recorde de US$ 155 bilhões em exportações, US$ 19 bilhões em importações e um saldo comercial positivo de US$ 129 bilhões.

Itens mais exportados do agro brasileiro (jan–nov)

  • Soja em grãos – US$ 42,0 bilhões
  • Carne bovina in natura – US$ 14,9 bilhões
  • Açúcar bruto – US$ 13,3 bilhões
  • Café verde – US$ 11,2 bilhões
  • Celulose – US$ 9,4 bilhões

Principais destinos das exportações

  • China – US$ 52,0 bilhões (+10%)
  • União Europeia – US$ 22,9 bilhões (+5,4%)
  • Estados Unidos – US$ 10,5 bilhões (–4%)
  • Vietnã – US$ 3,2 bilhões (–10%)
  • Índia – US$ 3,0 bilhões (+11%)