Apesar de metade dos panetones exportados do Brasil serem tradicionalmente enviados aos Estados Unidos, a indústria conseguiu diminuir os impactos das tarifas de Donald Trump através de uma redução da margem de lucro. Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias, Pães e Bolos Industrializados (Abimapi), as embarcações rumo aos EUA em julho e agosto ficaram 130% acima do ano passado.

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Diretor internacional e de exportações da Abimapi, Rodrigo Iglesias explica que as vendas para os EUA costumam ocorrer com uma margem de lucro alta. Cada quilo exportado de panetone traz cerca de US$ 4 em faturamento.

“Nós vamos reduzir as nossas margens e fazer com que, cada vez mais, o maior número possível de consumidores tenha acesso ao produto, com a perspectiva de que nos próximos anos essa dinâmica [das tarifas] mude”, explica Iglesias.

A maioria dos negócios para venda de panetone ao exterior é fechada nos meses de janeiro e fevereiro, e os embarques acontecem entre julho e setembro. Assim, quando o anúncio das tarifas ocorreu, os contratos já estavam fechados. Ao final de julho, apenas 25% do total acordado havia sido exportado.

As empresas brasileiras precisaram então realinhar com seus parceiros importadores. No fechamento de agosto, conseguiram alcançar 50% dos envios, quando a expectativa era ter apenas 40% até aquele momento. A Abimapi espera que os números totais de 2025 igualem-se a 2025, quando foram exportados 5,2 mil toneladas de panetones, correspondente ao faturamento de US$ 21,2 milhões (cerca de R$ 121,9 milhões).

“A gente não quer penalizar o nosso parceiro e obviamente também queremos que o nosso produto ainda seja competitivo no mercado”, segue Rodrigo Iglesias. “Vamos manter o nosso plano de atuação, porque nós queremos consumidores cada vez mais fidelizados.”

Brasil é potência dos panetones

Segundo a Abimapi, a produção de panetones brasileira é destaque no mundo, atrás apenas da italiana. Enquanto os inventores da iguaria se mantêm fiéis aos sabores tradicionais de frutas, gianduia (mistura de chocolate e pasta de avelã) e avelã, o Brasil destaca-se por uma variedade de versões recheadas.

Os produtores brasileiros chegam a criar panetones recheados adaptados aos países de exportação. Nos Estados Unidos, importadores de cerca de 50% da produção brasileira, os sabores red velvet e amendoim são exemplos de criações voltadas à cultura local.

“Se a empresa realmente quer se conectar com o consumidor, ela precisa fazer adaptações pontuais”, diz Iglesias.

Panetone Red Velvet
Panetone Red Velvet (Crédito:Rovena Rosa/Agência Brasil)

Os produtores também buscam diversificar seu contato com outros mercados pelo mundo, uma aproximação que se acelerou desde a pandemia da covid-19.

O Japão é o segundo maior comprador dos panetones brasileiros hoje, com cerca de 10% das exportações. “É um país muito distante do Brasil, o custo de frete internacional marítimo é considerável, mas ainda assim, como a gente tem uma população brasileira residente, ela vira a porta de entrada”, diz Iglesias, destacando a força do que chama de “mercado da saudade”.

O Brasil também vende grandes volumes para a América do Sul, em países como Argentina, Chile, Uruguai e o Peru, que tem o maior consumo per capita de panetones no mundo, com cerca de 1,1 kg por ano de acordo com a Agência de Notícias Agrárias do país. Para efeito de comparação, o país é seguido pela Itália (0,8 kg).

Por fim, países falantes de língua portuguesa na África completam a lista de principais compradores do Brasil.