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Se algum executivo brasileiro pode ser apontado como o responsável pela disseminação do conceito de sustentabilidade no País, este profissional é Fabio Barbosa, presidente do grupo Santander Brasil e da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Há uma década, muito antes de as empresas apresentarem com orgulho suas práticas ecológicas e sociais, Barbosa já tocava no tema e tentava convencer seus interlocutores sobre a importância de buscar lucros e ao mesmo tempo incorporar no dia a dia das organizações a defesa do meio ambiente. Nos primórdios de sua pregação, chegou a ser tachado de chato, romântico, um incorrigível defensor da natureza. Hoje, o assunto está tão presente na vida das grandes companhias que o ex-chato é reconhecido como um inovador, alguém que teve a sensibilidade de perceber que o futuro do planeta – e das próprias corporações – depende da visão sustentável dos negócios. Essa percepção vai muito além da questão ecológica. Ela envolve transparência, o compromisso com a ética e práticas eficientes de gestão, que resultaram na abertura de capital do Santander no Brasil, em outubro passado. “Muita gente aderiu a essa onda por conveniência, mas eu asseguro que faço isso por convicção”, diz.

Sintonizada com os novos tempos, essa postura fez com que alcançasse um feito raro. Ele foi escolhido para presidir o Santander no Brasil depois que o banco espanhol comprou o ABN Amro Real, instituição onde trabalhava. Essa não é a regra. Em geral, o comprador indica um executivo de seus próprios quadros. A escolha veio com o aval de Emílio Botin, dono do banco, que chegou a afirmar que o grupo deveria adotar globalmente práticas que Barbosa introduziu no Brasil. Por essas razões, foi eleito pela DINHEIRO Empreendedor do Ano nas Finanças.

Barbosa tem levado ao mundo das finanças ideias que contrariam a velha máxima de que os bancos querem ganhar dinheiro a qualquer custo. Como presidente da Febraban, sugeriu a criação de um código de conduta. Entre outros aspectos, o código diz que é obrigação da instituição avisar ao consumidor o melhor crédito que se aplica a ele – e não o mais lucrativo para o banco. Ele dá um exemplo objetivo. “Você pode ir de táxi de São Paulo para o Rio e gastar o dobro de uma passagem de avião”, afirma. “É como usar o cheque especial para comprar a casa própria. Trata-se de um erro que não faz o menor sentido.”

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O IPO do Santander (na foto, Barbosa oficializa o lançamento de ações) se tornou o maior da história do Brasil. A abertura de capital trouxe para o banco R$ 14 bilhões

Não é incorreto dizer que alguns bancos não se preocupam em explicar ao cliente que ele está fazendo um empréstimo equivocado (ainda mais se o negócio representar vantagens financeiras para a instituição). Barbosa quer mudar essa imagem. “Não é só uma questão ética, mas envolve um lado estratégico do ponto de vista financeiro.” Segundo diz, um cliente que se sentir prejudicado dificilmente fará novos negócios. O consumidor feliz, por sua vez, será rentável mais adiante. Com o objetivo de tornar a relação entre bancos e clientes mais amigável, ele determinou que os contratos de empréstimos e outros serviços do Santander sejam escritos em linguagem mais clara e contenham menos páginas, tudo isso para facilitar a leitura e o entendimento dos documentos. Iniciativas como essas têm arrancado elogios de especialistas. Para Helio Mattar, presidente do Instituto Akatu, entidade que prega o consumo consciente, Barbosa é um “executivo diferenciado”. Segundo Alfredo Assumpção, sócio da consultoria de RH Fesa, o Santander não poderia ter feito escolha melhor do executivo que passaria a comandá-lo.

Assim que assumiu o banco, o presidente teve de encarar duas grandes encrencas. A primeira delas era levar sem sustos a integração o Real. É consenso no mercado financeiro que o maior desafio seria fazer do Santander, um banco altamente competitivo e com um apetite voraz por lucros, uma instituição com uma imagem ambientalmente correta. No Real, Barbosa chegou a construir uma agência verde, em Cotia, na Grande São Paulo, que incorporou medidas como o reaproveitamento d’água (a agência foi a primeira da América Latina certificada pelo Leed, órgão internacional que avaliza práticas sustentáveis). “Talvez o mais complicado seja criar uma nova cultura para o grupo no Brasil, pegando o que Santander e Real têm de melhor”, diz Barbosa. Para agilizar esse processo, o presidente realiza encontros periódicos com seus principais executivos. Num desses eventos, mais de mil líderes do banco ouviram o que ele tinha a dizer. Se fosse possível resumir o que Barbosa quis transmitir à sua equipe, uma frase sempre utilizada por ele merece ser destacada: “O jogo é duro, mas é na bola, não é na canela.”

O segundo desafio envolvia a preparação do grupo para a abertura de capital, que acabaria sendo realizada em outubro passado. O IPO, diz o executivo, está alinhado com tudo o que ele pensa a respeito do mundo corporativo. “Ter ações cotadas na bolsa pressupõe ser transparente e fazer com que o banco, o cliente e toda a sociedade ganhem”, diz. A abertura de capital revelou-se uma grande tacada. O Santander captou a enormidade de R$ 14,1 bilhões, valor que configura o maior IPO da história do Brasil. Em 2009, a gestão de Barbosa ficará marcada pela fartura. Nos nove primeiros meses de 2009, o banco lucrou R$ 3,9 bilhões, alta de 30,3% sobre o mesmo período do ano passado. Os bons resultados permitiram que o banco fizesse investimentos como a aquisição do esqueleto da Eletropaulo, em São Paulo, que passou a ser a nova sede da instituição no País. A aquisição do edifício custou R$ 1 bilhão, dinheiro que não inclui as reformas que foram feitas no local. Graduado em administração de empresas pela Getulio Vargas, Barbosa trabalhou 12 anos na Nestlé e sete no Citibank. Antes de ir para o Real, foi presidente da subsidiária brasileira do The Long Term Credit Bank of Japan. Seu principal hobby, como não poderia deixar de ser, está ligado ao meio ambiente. Barbosa adora plantar árvores, especialmente ipês e manacás, em sua fazenda de café no interior de São Paulo.

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A agência verde do Real, premiada no Exterior, e a nova sede do Santander no Brasil, que custou ao banco R$ 1 bilhão