06/03/2014 - 11:04
Doze teclas, ligam e recebem mensagens. Essas são as características básicas dos aparelhos celulares que têm preço por volta de US$ 25 nos Estados Unidos e entre R$ 150 e R$ 200 no Brasil. São modelos simples, cuja principal finalidade é falar. Algo que talvez seja a função menos utilizada dos atuais smartphones.
Mas esses modelos baratos começam a ganhar recursos mais sofisticados. Essa foi a tendência do Mobile World Congress, que acontece em Barcelona, na Espanha.
A Mozilla, que tenta impulsionar seu sistema operacional móvel Firefox, quer acelerar o processo. Para isso, ela mostrou no evento espanhol um smartphone de US$ 25.
A configuração, do aparelho desenvolvido em parceria com a Alcatel e a chinesa Speadtrum, é modesta, mas permite que as funções básicas de um smartphone sejam feitas, como navegar na internet com a experiência touch, entrar em redes sociais e executar mais de um programa ao mesmo tempo.
O alvo são os mercados emergentes, como o latino e de países do Leste Europeu. “Há uma demanda e um mercado grande para este tipo de produto”, afirmou Jay Sullivan, CEO da Mozilla. “É preciso pensar no produto com a cabeça do consumidor que se importa com cada dólar gasto.”
O aparelho da Mozilla tem seus defeitos, contudo. Ele, por exemplo, não se conecta à rede 3G e sua navegação não apresenta fluidez. Uma experiência muito inferior a que o consumidor americano conseguiria com mais US$ 25 e o brasileiro com mais R$ 100 no valor gasto no aparelho. Isso, na visão de analistas, pode ser um problema.
“Quem compra um smartphone, está atrás de ter o primeiro contato com a tecnologia”, afirma Leonardo Munim, analista do IDC. “Se ele não puder acessar os aplicativos mais famosos, jogar, ele não vai se interessar por trocar de aparelho.”
O celular da Mozilla, por exemplo, não tem aplicativos de troca de mensagens famosos, como o WhatsApp. Não bastasse isso, sua loja de aplicativos ainda é bastante pequena – apesar de ter programas das principais redes sociais, como Facebook e Twitter.
A surpresa ficou por conta da finlandesa Nokia, comprada pela Microsoft no ano passado. A empresa adotou o Android para seus celulares de entrada. São três modelos: Nokia X, X+ e XL. O Android presente nos aparelhos, contudo, será bastante modificado. A tela inicial lembra o sistema operacional Windows Phone e a loja de aplicativos não é a Google Play, mas sim uma loja própria da Nokia, com aplicativos que ela seleciona.
Os celulares da Nokia tem preços entre R$ 280 e R$ 350, em valores que foram anunciados em euro. Segundo o diretor executivo da Nokia, Stephen Elop, os aparelhos também focam mercados emergentes.
Outras empresas também apresentaram celulares com baixos preços. Como a ZTE, A Huawei e a Alcatel. Todos têm foco no mercado emergente e em clientes que estão acessando a internet pela primeira vez, via smartphone.
A tática do Firefox
A estratégia de ganho de mercado da Mozilla, hoje, é atuar em mercados emergentes e com baixos preços. Os principais mercados do sistema operacional são Venezuela e Colômbia, por exemplo. No Brasil, ele tem parceria com a Vivo e seus celulares são vendidos por cerca de R$ 350 sem nenhum tipo de plano, mas se o consumidor se comprometer a um plano “controle”, de baixo custo, ele sai por R$ 29.
A disputa deles é com aparelhos como o Asha, da Nokia, e o Duos, da Samsung. O smartphone lançado na feira de mobilidade espanhola, contudo, chegaria com valores menores que a metade destes produtos.
Entregar produtos de baixo preço foi a estratégia que levou a Samsung à liderança do mercado de smartphones. Enquanto a Apple focava nas classes mais abastadas, a coreana entregava diversos produtos em todas as faixas de preço.
Quem compra um celular de entrada, vê a marca como um quesito de “desempate”. “Quem está comprando o primeiro smartphone, leva em conta o preço”, diz Munim.
No Brasil, outra empresa que traçou esse caminho foi a LG. A companhia coreana deixou a quinta colocação na venda de smartphones há três anos para se tornar a atual vice-líder do segmento. O crescimento na base fez com que a empresa pudesse entrar com foco em ganhar espaço em aparelhos mais caros, com a linha Lumia. “Este ano (2013) marca a entrada da LG no segmento de smartphones premium”, afirmou Jan Petter Kjekshus, diretor de vendas da divisão de celulares da LG no Brasil, à época. “Pretendemos avançar com uma linha forte de celulares de última geração.”
Opção de encaixar
Que os celulares mais baratos têm potencial de mercado, ninguém nega. Exemplo foi que ao vender a Motorola para a Lenovo, o Google fez questão de manter sobre seu teto o projeto Ara, que fazia parte da empresa e agora foi assumido pelo Google.
Com ele, o usuário monta o celular, com peças que lembram o brinquedo Lego, com as características que ele precisa. Ele pode comprar apenas a placa principal e itens básicos, pagando um valor baixo, e ir aumentando a capacidade de seu celular conforme suas necessidades apareçam.
“O projeto permite que uma placa seja a base para todos os tipos de celulares”, disse Dave Hakkens, designer holandês criador do conceito. “O mesmo celular que a pessoa compra para descobrir smartphones, será aquele que ela terá quando for um usuário assíduo.”