Ao pé da Cordilheira dos Andes, no coração do Valle de Uco, em Mendoza, na Argentina, mais de 600 hectares recebem o plantio das castas mais representativas do país, como a Malbec. Lá, os dias são ensolarados durante todo o ano, as noites frescas, mesmo durante o verão, e as chuvas são pouco frequentes, tornando o clima ideal para a produção de bons vinhos. Mas o cenário descrito acima não faz parte de uma entre as centenas de vinícolas espalhadas pela região e sim do The Vines of Mendoza. Idealizado por dois empresários, o americano Michael Evans e o argentino Pablo Riili, em 2004, o empreendimento reúne resort de luxo e vinhedo em um só projeto.

Ao contrário das propriedades da região, a ideia no The Vines é produzir vinhos em pequenas quantidades, muitas vezes apenas para satisfazer a vontade de alguns apaixonados pela bebida, que decidiram investir em seus próprios rótulos por hobby. “Nosso público-alvo é aquela pessoa que sempre sonhou em fazer um vinho para chamar de seu, mas nunca achou que seria possível”, afirma Riili. A vantagem do empreendimento é ajudar o cliente a realizar um sonho, sem precisar preocupar-se com questões do cotidiano da atividade, como a manutenção do vinhedo, irrigação e combate às pragas que podem interferir na qualidade das uvas.

Não é necessário, segundo o empresário argentino, nem mesmo ser um grande conhecedor de vinho. Há pessoas que ajudam em todo o processo, da escolha das castas que serão plantadas, passando pela criação do rótulo, até a comercialização em pequena escala. “Os clientes se envolvem na medida em que desejarem”, diz Riili. Quem comanda o processo de produção é o enólogo Santiago Achaval, sócio do Achaval Ferrer, um dos grandes vinhos da Argentina. Ao que tudo indica, os brasileiros aprovaram esse modelo de negócio. Tanto é que, juntos, representam 29% dos lotes proprietários da vinícola, com 52 hectares plantados, até agora.

Entre as outras nacionalidades, estão os próprios argentinos e alguns europeus e australianos. Segundo Riili, o interessado pode comprar entre um e quatro hectares, no máximo – cada hectare custa US$ 240 mil. Também é possível usar uma parte do espaço para construir um refúgio de férias. Com modelo de negócio semelhante ao The Vines, o L’And Vineyards mistura resort e vinhedo que cria rótulos personalizados na região do Alentejo, em Portugal. O paulistano Carlos Kawall é um dos 42 proprietários brasileiros seduzidos pelo projeto de Evans e Riili.

“Conheci o The Vines através de amigos que investiram lá”, afirma ele. “Na época, em 2012, pensei que seria arriscado investir na Argentina, mas achei um bom modelo de negócio.” As primeiras uvas plantadas no lote de Kawall ainda não estão prontas para a colheita, mas o economista contornou o problema, adquirindo uvas de outros proprietários de vinhedos para fazer um Malbec. Sua primeira safra, em 2015, deve ser capaz de produzir até oito mil garrafas. “Quem sabe um dia até arrisco a comercialização, se achar um bom canal de distribuição?”, diz.

No entanto, a exemplo da maior parte dos demais proprietários, fazer negócio não é o objetivo principal do investimento. Isso seria apenas uma consequência, o legal mesmo é o hobby.”
A criação do hotel The Vines Resort & Spa, no início deste ano, facilitou a exposição do empreendimento, uma vez que o espaço fica aberto também para receber turistas endinheirados, clientes em potencial para a compra de terras. “Os proprietários podem se hospedar no resort, onde recebem 50% de desconto na diária de até US$ 2 mil”, afirma Riili.

A decoração, concebida com materiais orgânicos, como troncos e pedras, alia o rústico à sofisticação. Com vista para os vinhedos e para a Cordilheira, o hotel abriga também o restaurante Siete Fuegos, assinado pelo renomado chef argentino Francis Mallmann, famoso na região. No menu, são encontradas as renomadas carnes argentinas, preparadas a partir da famosa técnica de cozimento em chama aberta, método criado por Mallmann. Para acompanhar as iguarias, como não poderia deixar de ser, é oferecida uma carta de vinhos com os melhores rótulos nacionais.