Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, não curtiu o vazamento da notícia e não comentou o assunto. Mesmo assim, não se falou em outra coisa na rede – e fora dela – desde a terça-feira 29, quando começaram as especulações sobre a abertura de capital da maior rede social do mundo. Pelas contas de mais de um especialista, o IPO, que poderia ocorrer ainda este ano, deverá levantar US$ 10 bilhões. É o dobro do recorde da Infineon, que captou US$ 5,3 bilhões no ano 2000, auge da bolha das pontocom. Se confirmada, essa cifra representaria um valor de mercado de US$ 100 bilhões para o Facebook, duas vezes a capitalização da HP, a maior empresa de tecnologia dos Estados Unidos. Mais que isso, essa avaliação é 100% maior que a estimativa de janeiro, quando a empresa de Zuckerberg recebeu US$ 1,5 bilhão do banco Goldman Sachs. Mesmo sem olhar para os números, o Facebook é um fenômeno. Com 800 milhões de usuários e migrando para equipamentos móveis, como tablets e smartphones, a rede social tem o maior potencial do mundo de integrar pessoas e vender produtos e serviços. Será que vale a pena investir? 

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Zuckerberg no pregão: abertura de capital do Facebook promete agitar o mercado

Para responder a essa pergunta, é preciso antes avaliar o Facebook como empresa. Abrindo ou não seu capital, a rede será obrigada a revelar seus números até 30 de abril de 2012. Por enquanto, há apenas estimativas. Uma delas, do instituto de pesquisas Emarketer Inc., calcula o faturamento anual em US$ 4,27 bilhões. Supondo-se um valor de mercado de US$ 100 bilhões, isso quer dizer que as ações do Facebook seriam negociadas por um múltiplo de 23 vezes sua receita. Esse não é o indicador de mercado mais comum, mas tem sido usado para companhias pontocom que não têm lucro. Pela mesma métrica, o Google – um dos principais concorrentes do Facebook – tem sido negociado a 6,4 vezes sua receita. Apple e Microsoft registram, respectivamente, 2,5 e 2,8 vezes. Não é necessário entender muito de finanças para saber que, por essa medida, as ações estão bem mais caras que as das concorrentes. Apesar de o Facebook estar tentando diversificar suas fontes de receita, cobrando, por exemplo, pedágios de desenvolvedores que usam sua plataforma para rodar jogos, ainda é cedo para dizer se o azul do fundo de tela vai chegar à última linha do balanço.  

Há outros riscos a ser observados. Para Cláudio Carvajal, professor de administração da Fiap, faculdade paulista especializada em tecnologia, o Facebook pode ser uma nova versão de modismos como Orkut e Second Life. Depois de um grande entusiasmo inicial, o interesse diminuiu. “O Facebook é uma boa ideia, mas na internet as boas ideias surgem e desaparecem na mesma velocidade em que se desenvolvem novas tecnologias”, diz ele. Tudo indica que a história de Zuckerberg pode ter um final mais feliz – mas isso ainda terá de ser demonstrado pela fria realidade dos números. A história das aberturas recentes de capital não permite tirar conclusões definitivas. Em maio, a rede social corporativa LinkedIn abriu capital. Depois de alguns solavancos, os papéis estão 33% acima do preço de abertura. Já o Groupon, maior site de compras coletivas do mundo, que lançou ações no início de novembro, viu os preços cair 42% nos últimos cinco pregões até 30 de novembro. A razão, dizem os especialistas, é o aumento da concorrência. “Esse é um dos problemas de investir em tecnologia”, diz Carvajal. “Há poucas barreiras à entrada de novas empresas para disputar o mercado de quem já se estabeleceu.”

 

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Se você topar correr esses riscos, prepare-se: comprar ações do Facebook vai dar um pouco de trabalho. “Para um investidor brasileiro é muito mais difícil participar de uma abertura de capital nos Estados Unidos do que no Brasil”, diz Bernardo Rothe, do BB Investimentos. Investidores de diversos países podem usar corretoras locais que têm acordos com contrapartes americanas. Não é o caso brasileiro. Os investidores daqui têm de abrir uma conta em uma corretora dos Estados Unidos e informar sua movimentação ao Fisco americano. Além disso, o investidor pode ser obrigado a manter as ações por algum tempo, mesmo depois de as negociações começarem, o que pode ser desesperador se as cotações desabarem.Caso o investidor não tenha recursos no Exterior, também é preciso enviar dinheiro para os Estados Unidos. Esse é um procedimento perfeitamente legal, mas que geralmente costuma chamar a atenção da Receita Federal. Além disso, investir fora do Brasil torna a declaração de Imposto de Renda um pouco mais complicada: variações na cotação do dólar que gerem ganho em reais fazem o investidor pagar imposto, ainda que ele não venda as ações. E aí, vai curtir?

 

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Colaboraram Fernanda Pressinott e Fernando Teixeira