Muito aquém do tal metaverso — universo virtual de que o Facebook quer se apropriar e que tomou conta do noticiário de tecnologia na semana —, algo bem mais concreto passou longe dos olhos da maioria: o faturamento da empresa. As receitas dos nove primeiros meses do ano em relação a 2020 tiveram expressiva alta de 45,5% e chegaram a US$ 84,258 bilhões, contra US$ 57,893 bilhões do mesmo período do ano passado. E não que a pandemia tivesse derrubado as bases para baixo. A companhia já havia crescido 16,7% entre os nove primeiros meses de 2020 frente a janeiro-setembro de 2019. “Fizemos um bom progresso e nossa comunidade continua a crescer”, afirmou Mark Zuckerberg, seu CEO e fundador, aos investidores. E logo saiu falando de metaverso.

O metaverso do Facebook, uma realidade virtual que mordisca o espaço-tempo

Tão importante quanto o alto nas receitas foi que a curva de despesas não cresceu no mesmo ritmo. Chegou a US$ 50 bilhões, o que significa 31,8% acima dos quase R$ 38 bilhões de 2020. Tirando do resultado o provisionamento para impostos, a combinação fez com que o lucro líquido nos três primeiros trimestres saltasse para a casa de US$ 29,085 bilhões. Em 2020 a mesma conta foi de US$ 19,927 bilhões. Isso representa um crescimento no lucro líquido de assombrosos 62,2%. Em bom português, R$ 164 bilhões. Coisa de R$ 600 milhões de segunda a segunda por nove meses.

Claro que o anúncio do metaverso dominou também o anúncio dos resultados. No relatório aos investidores, o Facebook afirmou que a empresa vai passar a operar sob duas grandes divisões. No primeiro segmento, reunindo a família de aplicativos (Facebook, Instagram, Messenger, WhatsApp e outros). “O segundo segmento, Facebook Reality Labs (FRL), incluirá hardware, software e conteúdo relacionado à realidade aumentada e virtual.” A companhia antecipa que o investimento no Reality Labs reduza o lucro operacional geral em 2021 em aproximadamente US$ 10 bilhões. “Estamos comprometidos em dar vida a essa visão de longo prazo”, afirmou a empresa em relatório. Mas não será surpresa se os resultados ficarem muito melhores, como tem sido praxe a cada relatório trimestral.

O número de usuários ativos mensais em setembro chegou a 2,9 bilhões, resultado 6% superior ao de 2020. Isso mostra a resiliência de uma máquina que vive sob bombardeio – os mais recentes foram os vazamentos de relatórios internos de pesquisas sobre grupos de usuários (https://www.istoedinheiro.com.br/arquivos-secretos-podem-abalar-o-facebook/). Com o metaverso, além de tirar um pouco o foco das críticas, a gigante quer também se tornar menos dependente do “pedágio” de lojas de aplicativos, leia-se Apple e Google, seus verdadeiros rivais. Na bolsa, oficialmente o Facebook já é Meta Platforms, Inc, mantendo a sigla FB. Os papeis tiveram alta de 18% desde o começo do ano. Começaram o pregão de 4 de janeiro a US$ 274,78. Na segunda-feira (1), eram vendidos a US$ 323,57. O pico se deu em 6 de setembro, vendido a US$ 382,18 (alta de 39% sobre 4 de janeiro). Altos e baixos? Sim. Mas sempre o final da história tem sido na alta e com mais dinheiro no bolso. Essa é a verdadeira meta do Facebook.