28/05/2021 - 3:10
O Facebook vai deixar de proibir a publicação de teorias que afirmam que a covid-19 surgiu em laboratório, em meio a um debate renovado nos Estados Unidos sobre a origem do novo coronavírus, que levanta novas dúvidas sobre o papel das redes sociais na verificação de informações.
“Devido às investigações atuais sobre as origens da covid-19 e em consulta com especialistas da saúde, não eliminaremos mais das nossas plataformas as afirmações de que a covid-19 foi feita por humanos, ou fabricada”, anunciou o grupo, que também é dono do Instagram.
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O último movimento da rede social, acessada por 3,45 bilhões de usuários em pelo menos uma de suas quatro plataformas (Facebook, Instagram, Messenger, WhatsApp), vai de encontro às suas normas anteriores sobre informações falsas em tempos de covid, atualizadas em fevereiro.
Meses atrás, o Facebook incluiu a proibição das teorias que sugeriam uma mão humana por trás do coronavírus, assim como uma suposta ineficácia das vacinas ou que as mesmas poderiam ser tóxicas ou perigosas. “Seguimos trabalhando com especialistas para supervisionar a natureza evolutiva da pandemia e atualizamos regularmente nossas políticas, à medida que surgem novos fatos e tendências”, afirmou o Facebook.
A decisão foi tomada num contexto em que a teoria de um acidente de laboratório em Wuhan, na China, volta a ganhar força nos Estados Unidos, depois de ter sido descartada durante muito tempo pela maioria dos especialistas. Os pedidos para continuar a investigação se multiplicam na comunidade científica.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pediu nesta quarta-feira às suas agências de Inteligência que “redobrem seus esforços” para explicar a origem do coronavírus e exigiu um relatório sobre o assunto em um prazo de 90 dias.
– Moderação ‘insustentável’ –
A medida do Facebook destaca a polêmica envolvendo os esforços das redes sociais para erradicar informações errôneas sobre temas dinâmicos. O passo atrás pode ser “outra amostra da possibilidade de que haja uma mudança contra a moderação mais dura”, tuitou Evelyn Douek, professora na Universidade de Harvard e pesquisadora da regulação do discurso na internet.
“Quando a pandemia começou, havia muitos argumentos no sentido de que ‘o que as plataformas estão fazendo pelas informações errôneas sobre saúde deveriam estender para todas as informações’. Agora, parece insustentável”, indicou Evelyn.
O Facebook usa verificadores de fatos independentes, entre eles a AFP, para desmentir informações falsas. Embora a origem do vírus não tenha sido comprovada, a teoria de vazamento de laboratório foi alvo de checagem. A organização de factchecking PolitiFact apontou em setembro que autoridades de saúde pública haviam declarado repetidamente que o novo coronavírus não era derivado de laboratório, mas, no começo deste mês, revisou sua orientação, observando: “Essa afirmação é agora mais amplamente contestada”, e afirmou que continuará acompanhando o assunto.
Após uma visita de quatro semanas a Wuhan no começo do ano, um estudo conjunto da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de especialistas chineses divulgado em março considerou “extremamente improvável” um acidente de laboratório. Mas em declaração conjunta, os Estados Unidos e 13 países aliados expressaram posteriormente “preocupação” e exigiram que a China proporcionasse “pleno acesso” aos seus dados.
Rebekah Tromble, diretora do Instituto de Dados, Democracia e Política da Universidade George Washington, avalia que o Facebook “faz o correto” ao atualizar sua orientação. “As informações mudam com o tempo e as organizações responsáveis – veículos de mídia social e verificadores de fatos – tomam decisões com base nas melhores informações disponíveis, mas permanecem abertas e dispostas a mudar suas avaliações à medida que novas informações surgem.”
O Facebook afirmou que está intensificando seus esforços contra as informações errôneas, ao restringir o alcance de usuários que compartilham conteúdo falso repetidamente.
Os primeiros casos de covid-19 foram identificados no fim de 2019 em Wuhan, antes que o vírus se espalhasse pelo mundo e matasse quase 3,5 milhões de pessoas até o momento.