22/07/2025 - 13:22
Publicações nas redes sociais afirmando que protetor solar causa melanoma estão se espalhando rapidamente — mas especialistas e estudos dizem o contrário.A radiação ultravioleta (UV) do Sol é a principal causa de melanomas, e o protetor solar ajuda a proteger a pele filtrando esses raios. No entanto, publicações em redes sociais como Instagram, X e Tiktok têm alegado que o produto estaria por trás da alta na incidência de câncer de pele registrada recentemente no mundo.
A seguinte mensagem foi postada em julho por um usuário do X com mais de 60 mil seguidores: “É um fato indiscutível que os países que usam mais protetor solar têm a maior incidência de câncer de pele.” Ele continua: “E quanto mais protetor solar eles usam, maior é a prevalência.”
A afirmação é falsa, segundo especialistas ouvidos pela DW.
“Não há nenhuma evidência científica que indique a associação do uso de protetor solar com um risco maior de câncer”, disse à DW Brittany Schaefer, diretora de comunicação do Departamento de Saúde Pública do estado de Connecticut, nos Estados Unidos.
Maior incidência
Mas por que o número de casos globais de câncer de pele está aumentando, embora cada vez mais pessoas estejam usando protetor solar? Um estudo realizado em vários países a partir de dezembro de 2023, com a participação de cientistas dos EUA, Suíça, Alemanha e Hungria, levantou algumas hipóteses.
A crescente conscientização sobre os riscos do câncer de pele entre pacientes e médicos levou a um aumento na notificação e documentação de casos. Mas, em contraste com o aumento da incidência de câncer de pele em todo o mundo, a taxa de mortalidade caiu devido a melhores opções de tratamento, afirma a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer, que faz parte da Organização Mundial da Saúde (OMS).
De acordo com os dados mais recentes do órgão, a Austrália teve a maior taxa de incidência da doença em 2022: 37 novos casos a cada 100 mil pessoas por ano, seguida pela Dinamarca (31,1), Noruega (30,6), Nova Zelândia (29,8) e Suécia (27,4).
Os EUA ficaram em primeiro lugar em número total de ocorrências: foram 101.388 em 2022. A Alemanha ficou em segundo lugar, com 21.976 casos. O Brasil está em nono lugar em número total, com 9.676 casos, o que corresponde a uma taxa de 3,3 novos diagnósticos a cada 100 mil habitantes.
Os EUA também lideraram o ranking de mortes pela doença: foram 7.368 em 2022, seguidos pela China (5.385), Rússia (3.928) e Alemanha (3.303). O Brasil ficou em sétimo lugar, com 2.273 mortes naquele ano.
Estudos desatualizados e mais tempo de exposição ao sol
Outro motivo para o aumento das taxas de câncer de pele também pode ser o fato de as pessoas passarem mais tempo expostas ao sol – e nem sempre aplicarem o protetor solar da forma adequada.
A falta de estudos científicos também colabora para as correntes de desinformação. A FDA (agência reguladora dos EUA) só passou a regulamentar protetor solar em 2011. Os estudos que examinaram o uso desses produtos e o desenvolvimento de melanoma provavelmente foram realizados com lotes que não ofereciam o mesmo nível de proteção dos que estão atualmente no mercado.
Um mercado lucrativo
Mas será que as pessoas em países com as taxas mais altas de casos de câncer de pele, como Nova Zelândia, Austrália, Suécia, Noruega, Canadá e EUA, estão realmente usando mais protetor solar, como tem sido propagado nas mídias sociais?
É verdade que a venda global de protetores solares está aumentando. De acordo com o setor, a receita global de cuidados com a pele para proteção solar deverá atingir cerca de 13,5 bilhões de dólares (R$ 75,4 bilhões) até 2028. Os maiores mercados são os EUA, seguidos pela China e pela Coreia do Sul.
Além disso, há a questão de como as pessoas estão usando o produto. De acordo com o Departamento Australiano de Estatísticas, 38% das pessoas com 15 anos ou mais disseram que, no último mês, haviam usado FPS 30 ou mais na maioria dos dias. No entanto, 7% disseram ter sofrido queimaduras solares na semana anterior. Os jovens de 15 a 24 anos tinham maior probabilidade de ter sofrido queimaduras solares na semana anterior (cerca de 15%).
Uso durante as férias
Uma pesquisa realizada nos EUA pela Talker Research, publicada em maio deste ano, constatou que menos da metade (41%) dos 2 mil adultos entrevistados disseram que usam protetor solar mais de 60 dias por ano. E 13% disseram que normalmente não usam protetor solar.
Na Alemanha, cerca de metade das pessoas entrevistadas em uma pesquisa online de agosto de 2024 disseram que só usam protetor solar no verão ou quando estão diretamente expostas ao sol.
Sybille Kohlstädt, porta-voz do Centro Alemão de Pesquisa do Câncer (DKFZ), alerta contra conclusões falsas devido à falta de dados válidos sobre proteção solar.
“Em contraste com os dados existentes sobre a crescente prevalência global do câncer de pele, não há estatísticas específicas de cada país que detalhem o uso de protetor solar e o relacionem à prevalência do câncer de pele.”