03/12/2003 - 8:00
Perto de completarem 10 anos em circulação, jamais as notas de real sofreram tantas falsificações como neste instante. A derrama é de tal ordem que está em curso no Banco Central uma operação profilática radical. DINHEIRO apurou que a partir de 2004, começando pelas notas de 50, toda a família de cédulas de real terá novos desenhos, cores, formatos e dispositivos de segurança. ?Vamos mudar tudo?, afirma o diretor de Meio Circulante do BC, José dos Santos Barbosa. A ser feita gradualmente, até 2005, a gigantesca operação de troca completa do meio circulante brasileiro (2,33 bilhões de cédulas) foi a única alternativa para estancar um problema que só aumenta desde a entrada em circulação do real. Este ano já foram apreendidas 444.493 cédulas imitativas de R$ 14,606 milhões ? um recorde. Em 1994, 1.046 notas falsas foram capturadas.
Os falsários começaram a agir logo após o nascimento do real. De tamanhos iguais, com a mesma marca d?água e em cores pastéis facilmente imitáveis, o primeiro lote de 625,136 milhões de notas foi concebido, desenhado, impresso e distribuído num espaço de apenas cinco meses, entre março e julho de 1994. A correria atendeu aos planos eleitorais do então presidente Itamar Franco e seu ministro da Fazenda Fernando Henrique, mas abriu buracos de segurança. ?Tivemos de fazer esse dinheiro a toque de caixa e não pudemos atender a todas as recomendações de segurança?, admitiu à DINHEIRO José dos Santos Barbosa. ?É humanamente impossível fazer uma família de moedas em só cinco meses.?
Mesmo depois de uma série de penitências para atenuar o pecado original, as cédulas foram sendo cada vez mais falsificadas. A nota de 50 é o alvo preferencial das quadrilhas de falsários. A mudança planejada no BC vai começar exatamente por aí. Em lugar da efígie da República na face dianteira e da onça pintada atrás, o desenho que já vai sendo esboçado contém imagens de brasileiros ilustres. A cor marrom facilmente alcançável será substituída por outra mais vibrante. Descobriu-se que as atuais cédulas de R$ 20 são as menos falsificadas porque seu tom fortemente amarelo é difícil de ser imitado. Com atuais 14 cm de base e 6,5 cm de altura, as dimensões da nova cédula de R$ 50 serão outras. Até 2005, toda a família do real terá novas caras, cores e tamanhos. Com os pais do plano real agora na oposição, as objeções acabaram. O presidente do BC, Henrique Meirelles, já foi consultado a aprovou a mudança completa das notas. Para ser efetivada, a decisão terá de ser submetida ao Conselho Monetário Nacional. ?Não esperamos problemas?, avalia o diretor Barbosa. O secretário de Comunicação, Luiz Gushiken, será ouvido sobre as novas notas ? porque dinheiro tem a ver com propaganda governamental.
Do jeito que o efetivo brasileiro está hoje, apesar da introdução paulatina de mecanismos de segurança como fitas plásticas e marcas d?água diferenciadas, os falsários têm diversas opções. ?Antes, as quadrilhas costumavam escolher a técnica de lavar quimicamente as notas de 1 real para adulterá-las pelo valor 50 vezes maior?, conta o delegado federal Mauro Abdo, titular da Delegacia contra Crimes de Falsificação de Moedas da Polícia Federal em São Paulo. ?Hoje, a maioria faz sanduíche de papel para imitar o efeito da fita plástica, usa scanners para reproduzir os desenhos e impressoras jatos de tinta para repetir as cores originais. A semelhança é cada vez maior.?
Com técnica apurada e um esquema igual ao de qualquer pequena empresa regular, Manoel Martinho Rafael comandou no último ano e meio um negócio que fez circular a cada mês 1 milhão de reais. Falsos. Ele mantinha nove funcionários em três pontos diferentes da capital paulista. Num escritório, recebia encomendas de dinheiro falso. Em outro, produzia notas de 5, 10 e 50 reais. Um terceiro local era o ponto de distribuição. Vendia seu produto à base de 10 notas falsas por uma verdadeira. Seus clientes em cinco Estados revendiam seis cópias, calcula a polícia, por uma de verdade. Martinho fazia remessas por Sedex, motoqueiros ou táxis. Semanas atrás, quando circulava com um pacote de notas frias, foi preso. A pena para um falsário de dinheiro varia de 3 e 12 anos de prisão.
A polícia não sabe quanto tempo uma nota falsa consegue ficar em circulação até ser desmascarada. A certeza que se tem é a de que os produtores costumam manter laços familiares entre si, para amarrar cumplicidades. Na distribuição, a estratégia é quase sempre a de pulverizar as cédulas falsas no comércio. Costuma-se misturar uma ou duas notas falsas num bolo de cédulas boas como forma de camuflá-las. Muitas vezes, elas chegam aos bancos e voltam a circular pelos caixas eletrônicos. Mas não se tem verificado ganho de causa para quem reclama ter recebido dinheiro de mentira na boca do caixa. É difícil provar. Se você pegar uma nota falsa, vá à polícia. Repassá-la, atente-se, é crime.