(Reuters) – A produção de veículos leves no Brasil teve em agosto o pior desempenho para o mês desde 2003, como reflexo da escassez de chips, revelou nesta quarta-feira a entidade que representa as montadoras, Anfavea.

Embora tenha crescido 0,3% ante julho, a produção de 164 mil unidades no mês foi 21,9% do que um ano antes. No total dos oito primeiros meses do ano, o total de 1,476 milhão de leves produzidos ainda é 33% a mais do que um ano antes, período de maior impacto dos efeitos da pandemia Covid-19.

Segundo o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, hoje 11 fábricas de veículos leves no país estão com atividades parcial ou totalmente paradas devido à falta de semicondutores, cenário que tem atingido a produção automotiva no mundo todo.

PGR quer investigar delegado de inquérito sobre interferência de Bolsonaro na PF

“As fábricas estão tendo que fazer uma verdadeira ginástica para conseguir atender os clientes”, disse Moraes a jornalistas durante apresentação dos números do setor de agosto.

A entidade prevê que a escassez de chips deve se prolongar pelo menos até o final deste ano, fazendo o setor no país produzir de 240 mil a 280 mil veículos a menos em 2021.

Um dos efeitos da queda na produção num mercado que tenta lentamente se levantar do choque provocado pela pandemia tem sido o esvaziamento do estoque, que chegou a 76,4 mil unidades em agosto, menor nível da história.

TEMPESTADE PERFEITA

Não bastasse a escassez de chips, o executivo listou também outros fatores que estão pressionando a produção e as vendas.

De um lado, a crise hídrica já está aumentando os custos para fabricação de veículos. De outro, maiores juros para financiamento de veículos, na esteira do avanço da Selic para conter a escalada da inflação, também devem impactar as vendas. A taxa média do CDC para o setor deve chegar a 26% ao ano até dezembro, ante 20% no começo de 2021.

Além disso, pontuou Moraes, a crise institucional no país tende a impactar nas duas pontas, uma vez que aumenta as incertezas tanto de empreendedores quanto de consumidores.

“O que aconteceu ontem não ajuda na retomada”, disse Moraes, referindo-se ao dia marcado por protestos em todo o país, a favor e contra pautas políticas do presidente Jair Bolsonaro.

VENDAS

Ainda segundo a Anfavea, as vendas de carros, comerciais leves, caminhões e ônibus em agosto recuaram 1,5% na base mensal e 5,8% em relação a agosto de 2020, para 172,8 mil unidades, segundo a entidade.

O volume de veículos exportados no mês passado somou 29,4 mil unidades, alta de 23,9% ante julho e crescimento de 5,5% frente a agosto de 2020.

 

(Por Aluísio Alves, com reportagem adicional de Paula Arend Laier)

tagreuters.com2021binary_LYNXMPEH8712F-BASEIMAGE