Dois números divulgados nos últimos dias aparentemente não guardam relação entre si.Um deles, auspicioso, mostra que o Brasil criou 1,5 milhão de postos de trabalho nos primeiros seis meses do ano. Com isso, o País praticamente atingiu um estágio inédito em sua história: o pleno emprego, aquele cenário no qual não falta ocupação para quem estiver disposto a trabalhar – e esse é o tema da reportagem de capa desta edição da DINHEIRO. A notícia confirma que a economia realmente está despertando de um longo período de hibernação. Mas coloca um desafio monumental diante de nós. Como abastecer as empresas com a mão de obra necessária para sustentar o crescimento da economia? Como manter uma expansão do PIB em torno de 5%, sem retirar da frente mais esse gargalo?
 

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Aí entra outro número que ganhou destaque nas últimas semanas: ano após ano, União, Estados e municípios não chegam a usar sequer todo o dinheiro que têm disponível para a educação. Em média, 15% dos orçamentos oficiais destinados a esse item não chegam às salas de aula. A preocupação em manter o superávit fiscal por um lado, e a burocracia por outro, além da ausência de vontade política, explicam essa anomalia. Pior: além de investir mal, o Brasil investe pouco. A Constituição determina que 18% das receitas de impostos sejam destinados à educação. Essa determinação, porém, não é cumprida desde 1994, quando o governo conseguiu desvincular das obrigações constitucionais 20% da arrecadação. Calcula-se que, entre 1994 e 2008, cerca de R$ 80 bilhões tenham deixado de irrigar a educação no País. Felizmente, o artifício da desvinculação terminará em 2011. Isso contribuirá para que o Brasil passe a investir cerca de 5% do PIB na formação de seus habitantes, índice semelhante ao dos países desenvolvidos. Segundo especialistas, no entanto, esse percentual deveria atingir 10% para compensar os investimentos escassos das últimas décadas e acelerar o processo de qualificação de pessoal. Ignorar esse fator pode ser desastroso para a economia. A abundante criação de postos de trabalho e a falta de gente apta a ocupá-los pressionam para cima os salários e, por tabela, a inflação. Ninguém, evidentemente, torce pelo desemprego, mas o desequilíbrio nesse campo torna-se prejudicial para todos.