16/12/2020 - 13:30
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse, nesta quarta-feira, 16, que a falta de empenho do governo federal em fazer andar reformas necessárias à retomada dos investimentos no País e a falta de reorganização do Estado gerarão desgaste para a gestão de Jair Bolsonaro a partir de março a abril.
“A impressão que me dá é que o governo (Bolsonaro) não vai mais na linha de reorganizar a despesas públicas. Pois organizar a despesa pública significa um desgaste de curto prazo e um grande benefício de médio e longo prazo”, disse ele em entrevista após café da manhã com jornalistas.
“O governo erra quando acha que essas polêmicas de curto prazo atrapalham 2022, mas eu acho o contrário. Esse abandono da política de reestruturação do Estado brasileiro, eu acho que vai gerar muito desgaste no governo já a partir do mês de março e abril”, disse.
Na avaliação de Maia, o que ele classifica de enfraquecimento do ministro da Economia, Paulo Guedes, reflete no atual cenário econômico. Aliás, ao falar de Guedes, o presidente da Câmara deu uma alfinetada, dizendo que nesses tempos de pandemia, enquanto as lideranças da Câmara mostraram liderança, a começar pela PEC do orçamento de guerra, o ministro passou um tempo em sua cidade, no Rio de Janeiro. Para Maia, o enfraquecimento do titular da Economia não é bom para o País, porque as reformas precisam avançar.
“A minha impressão pelos acontecimentos das últimas semanas, dos últimos meses é que o governo vem abandonado aos poucos principalmente as reformas que olham do lado das despesas, principalmente os gatilhos, e acho que a reforma administrativa não terá o mesmo apoio que tem por parte da equipe econômica do resto do governo”, disse o democrata.
Ao falar de Guedes, Maia disse que seria bom que tudo aquilo que foi prometido pelo ministro, zerar o déficit primário, modernizar o Estado e reformas pudessem ter avançado mais. “Mas eu acho que o enfraquecimento do Paulo (Guedes) nos últimos meses também atrapalhou esse planejamento que tinha sido construído – que estava atrasado, por parte do governo – de forma correta pelo ministro da Economia.”
Em café da manhã com jornalistas, o presidente da Câmara indagou se Guedes ainda é majoritário ou não no governo. “O Paulo Guedes está certo em muitas das privatizações, pensa a reforma administrativa. Ele tem uma visão diferente, que eu discordo, do IVA (Imposto sobre Valor Agregado). A minha dúvida é se ele é majoritário no governo, eu acho que não”, disse, destacando que nessa política, na qual os políticos sempre defenderam de ampliação de gastos, os militares sempre defenderam ampliação de gastos, o ministro perdeu força. “Meu sentimento é que o Guedes perdeu o comando dessas políticas mais desgastantes, minha impressão é que o governo desistiu daquilo que é polêmico e possa tirar votos.”
Sucessão na Câmara
Na coletiva desta quarta-feira, Maia falou também do processo sucessório na Câmara dos Deputados. Segundo ele, a eleição para a presidência da Casa tem um importância muito grande, “primeiro porque a gente viu que se não fosse a liderança do Congresso Nacional, da Câmara, do Senado, nada teria entrado de votações relevantes no nosso País. Então, o Congresso Nacional em um governo mais desorganizado, que desrespeita as instituições, o papel do presidente da Câmara e também do Senado é determinante”.
Na avaliação de Maia, é importante a construção de um movimento que seja o mais amplo possível, que reafirme a importância da democracia, da independência da Câmara e que possa ter um candidato que represente a todos. “Que não seja um candidato que represente apenas o que eu acredito, ou o que o meu partido acredita, ou o outro partido, mas que represente todo esse movimento que quer a Câmara livre de qualquer interferência de outro poder. Por isso que está demorando um pouco, mas acredito que a gente tenha a condição de tentar avançar um bloco maior, é a nossa tentativa, e também da constituição de um nome que represente de forma mais ampla os deputados e as deputadas da Câmara dos Deputados”, disse.
“Se a gente conseguir construir esse campo amplo, nós acertamos, se nós não conseguirmos, nós atrasamos a escolha do candidato e vamos ter que correr atrás dos votos individualmente. Então é uma questão estratégica.”