29/09/2000 - 7:00
O programa do Banco Central de substituir todas as velhas moedinhas de aço inoxidável pelas mais novas, revestidas de cobre, bronze, cuproníquel e alpaca, foi abatido antes da decolagem. Responsável pela circulação de todo o dinheiro existente na economia, o BC acabou sofrendo ele próprio com os cortes no orçamento dos órgãos federais e ficou sem recurso em caixa para mandar fabricar as novas. A troca, que deveria custar R$ 442 milhões até 2008, ficou com orçamento zero. ?Não recolhi ainda uma moeda sequer?, informa o diretor do departamento de meio circulante, José dos Santos Barbosa. E, avisa, não vai começar a recolher tão cedo. ?O programa não é mais prioridade.?
O ajuste fiscal é o vilão da novela. A verba que deveria bancar o programa ficou contingenciada desde o primeiro dia, em julho de 1998. A previsão era de que seriam colocadas no mercado de 800 milhões a 1 bilhão de moedas por ano da nova família. Hoje, mais de dois anos depois, só entraram em circulação 788 milhões de unidades. A maioria esmagadora das que circulam na economia ainda é da família antiga, de aço. São 5,8 bilhões, que já estavam em circulação em 1998.
A quantidade de moedas lançadas no mercado, segundo Barbosa, não dá conta sequer do crescimento natural e vegetativo na demanda por troco na economia. Os bancos de varejo, representados pela Febraban, foram ao BC cobrar medidas contra a escassez. Antes já haviam esgotado os recursos ao seu alcance. ?Já fomos até buscar moedas nos centros menores para irrigar o comércio de São Paulo e Rio?, conta Jorge Higashino, diretor de serviços bancários da Febraban.
A maior carência é pelas de valor inferior a cinqüenta centavos. Uma loja do supermercado Bon Marché, no Rio, chegou a dar desconto de 40% a quem usasse apenas moedas de cinco centavos para comprar uma televisão de 20 polegadas. O Via Brasil, de Belo Horizonte, deu desconto de 30% para quem comprou arroz usando só as de um centavo. Mas a mais difícil de se encontrar é a moeda de vinte e cinco centavos. ?Elas estão sumindo nas máquinas de apostas dos bingos?, protesta José dos Santos Barbosa.