23/01/2020 - 7:51
Ao explicar como e com que objetivo vai trabalhar o recém-anunciado Conselho da Amazônia, o vice-presidente Hamilton Mourão, encarregado de comandá-lo, declarou que faltam hoje ao governo “comando e controle” e “coordenação” das políticas voltadas para a região e reconheceu que ainda está “analisando a missão” dada a ele pelo presidente Jair Bolsonaro.
“Existe uma série de políticas desenvolvidas por diferentes ministérios que estão ligadas ao meio ambiente e à Amazônia. É uma tema transversal. Ele não pertence só ao Ministério do Meio Ambiente, não pertence só ao Ministério de Infraestrutura, não pertence só ao Ministério de Desenvolvimento Regional”, explicou o vice-presidente em entrevista à GloboNews. “A gente nota nitidamente que tem de ter um organismo que controle isso e coordene as atividades.”
Bolsonaro anunciou a criação do Conselho da Amazônia na terça-feira, 21, mesmo dia em que começava o Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça. A emergência climática e a preservação ambiental estão entre os temas de mais destaque na edição deste ano do evento.
No dia seguinte, o maior auditório do Fórum recebeu uma sessão especial sobre como garantir um futuro sustentável à Amazônia, em que o diretor de pesquisa da Academia Brasileira de Ciências, Carlos Nobre, defendeu que conservar a região é muito mais lucrativo do que substituir a floresta por monocultura ou pecuária.
“Não tem a mínima dúvida que o meio ambiente é o tema central no século 21, principalmente nesta terceira década”, disse Mourão na entrevista. Ele reconheceu que não se pode fugir da realidade em que grandes fundos de investimento mundo afora estão “colocando selo verde”, ou seja, exigindo padrões de boas práticas ambientais de países e empresas em cujos ativos eles investem. “Se é preocupação desses fundos com a vida na Terra ou um instrumento de pressão sobre nações em desenvolvimento, não interessa. Temos de nos adaptar e dar respostas corretas ao que está ocorrendo no mundo.”
Questionado sobre a imagem ruim que a política ambiental do Brasil tem atualmente no exterior, o vice-presidente afirmou que existe uma pressão internacional sobre o País pelo fato de Bolsonaro ser “encarado por parcelas da inteligência mundial ou formadores de opinião” como alguém que não está não comprometido com a preservação ambiental. “(Mas) o presidente não deu ordem para tacar fogo na floresta nem fazer genocídio dos povos da floresta.”
Mourão admitiu, contudo, que é parte do seu trabalho à frente do Conselho da Amazônia adotar ações que passem para fora a imagem de um País comprometido com a preservação do seu território em termos ambientais.
Sobre se vai tentar recuperar os repasses da Noruega e da Alemanha – o primeiro país suspendeu transferências para o Fundo Amazônia, enquanto o último congelou o financiamento pelo seu Ministério do Meio Ambiente de projetos de combate ao desmatamento no Brasil -, Mourão garantiu que vai “buscar recursos fora, sim, desde que seja possível e necessário” e afirmou não ter “vergonha” de pedir a Oslo e Berlim a volta dos repasses.
Outro tema abordado foi uma eventual candidatura à reeleição de Bolsonaro. Mourão disse que comporia novamente uma chapa como vice se o presidente quiser que ele continue. “Quando ele precisar de um aconselhamento leal e sincero, ele vai ter.” Respondeu, também, achar que Bolsonaro deveria, sim, concorrer a um segundo mandato. Mas emendou: “eu, particularmente, sou contrário à reeleição. Acho que a reeleição não fez bem ao Brasil. Acho que deveríamos ter mandato de cinco anos, sem direito à reeleição, mas a regra do jogo que está em vigor é essa.”
A respeito do leilão do 5G, o vice-presidente descartou qualquer interferência dos Estados Unidos sobre a possibilidade de a chinesa Huawei disputar o certame. “Quem vencer leilão vai vencer.” Ele disse ter conversado com o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, sobre o assunto e afirmou achar que o leilão vai ocorrer até o fim deste ano ou em 2021.
Quando o assunto se voltou para o discurso de inspiração nazista feito pelo ex-secretário de Cultura Roberto Alvim, Mourão considerou o episódio como algo resolvido, após a demissão de Alvim. Confrontado com o fato de que Bolsonaro elogiou o trabalho do então secretário dias antes de exonerá-lo, o vice-presidente respondeu: “até ele resolver ser o clone do (Joseph) Goebbels”, referindo-se ao ministro de Propaganda de Hitler.