Depois de quase duas décadas de negociações, a carne in natura produzida no Brasil conquistou o visto para ingressar no mercado dos Estados Unidos. O acordo foi selado em solenidade realizada no início de agosto, no Palácio do Planalto, com a troca de cartas de reconhecimento de equivalência de controles oficiais, entre o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, e a embaixadora dos Estados Unidos, Liliana Ayalde, sob as vistas do presidente interino, Michel Temer.

Conforme o Ministério da Agricultura, o acordo prevê que o Brasil passará a integrar a cota que a América Central tem para exportar carnes para os Estados Unidos, de 64,8 mil toneladas anuais. A tarifa de exportação será de 4% ou 10%, conforme o tipo de corte da carne. Se essa cota for ultrapassada, o produtor brasileiro terá de pagar uma tarifa de 26,4% sobre o valor vendido aos EUA.

Calcula-se que a decisão represente um adicional de US$ 900 milhões nos próximos cinco anos, às receitas obtidas pelo Brasil, o maior exportador mundial de carne, que em 2015 vendeu lá fora 1,6 milhão de toneladas, no valor de US$ 5,9 bilhões, segundo a Associação Basileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec).

A expectativa do governo brasileiro é de que a decisão das autoridades americanas acabe influenciando positivamente países como o México e Japão, que tradicionalmente acompanham os Estados Unidos em matéria de políticas de importações agropecuárias. “O acordo ajuda, na verdade, a abrir o mercado de outras praças”, afirmou Temer. “Isso é importantíssimo para o Brasil e este foi um trabalho ao longo de muitos anos.”

De fato, banida do maior mercado consumidor do mundo, por conta de suspeitas de práticas sanitárias inadequadas e de  riscos de enfermidades como a febre aftosa no  rebanho bovino, a carne brasileira in natura exigiu um grande esforço dos diferentes governos do País e do setor privado, desde o final dos anos 1990, para reverter a situação.

Por um lado, os frigoríficos brasileiros se modernizaram e passaram a empregar as mais atualizadas técnicas de produção e de cuidados sanitários. Por outro, com o estímulo oficial, o rebanho nacional de 200 milhões de cabeças passou a ser vacinado e monitorado, para evitar o surgimento de eventuais focos da aftosa. Graças à prevenção, 23 Estados conquistaram o status de sanitário de áreas livres da febre aftosa, reconhecido pela Organização Mundial da Saúde Animal, em 2013.

Esse trabalho ganhou impulso com a chegada da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), então presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA),  ao comando do Ministério da Agricultura. Com uma intensa agenda de viagens ao exterior para vender produtos agropecuários, Katia acelerou as conversas com os técnicos do Usda, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, para a regularização das exportações brasileiras de carne in natura, que foi sinalizada em junho de 2015 e sacramentada um ano depois. A despeito disso, a ex-ministra não apareceu na foto do evento oficial no Planalto.