09/07/2018 - 8:15
“Este depoimento é, quando pouco, um documento que me fará mais tarde relembrar os grandiosos dias que São Paulo viveu de julho a outubro de 1932 e os dias que também vivo como soldado”, diz o prólogo do diário de Nilo Porto. Guardado como relíquia pela família, a peça reúne algumas das tantas histórias do front contadas às filhas Célia e Cynthia, advogadas aposentadas, respectivamente com 63 e 60 anos.
Nesta segunda-feira, 9, os restos mortais de Porto serão transladados para o Obelisco Mausoléu aos Heróis de 32, no Ibirapuera, zona sul de São Paulo. As cinzas de outros sete ex-combatentes também serão levadas para o local, que já reúne vestígios de 853. Como aponta o presidente da Sociedade de Veteranos de 1932, coronel Mário Fonseca Ventura, o mausoléu reúne todas as facetas da revolução, desde o ex-governador (Pedro Toledo) até pessoas que trabalhavam na retaguarda, incluindo imigrantes.
Um dos que levarão os restos mortais da família para o mausoléu é o engenheiro aposentado Ricardo Pires Campos, de 76 anos, que fará o translado dos pais e do avô materno. A mãe, Guiomar, foi voluntária no Lunch Express, iniciativa que preparava marmitas para os combatentes. Já o avô, Edmundo Correa Pacheco, fez o policiamento civil, enquanto o pai, Rubens Pires de Campos, participou de batalhas. Dos três, o último a morrer foi a mãe, em 1975, que costumava falar muito daquele período e guardava as fotografias em um álbum, ainda preservado pelo filho. “Ela ficaria muito contente que isso está acontecendo”, diz.
Além de Guiomar, outras duas mulheres terão as cinzas levadas ao mausoléu, dentre as quais está Remédios Domingues Calandriello, morta em 2014. No local, já está seu marido, Américo. “Os pais permitiram que ela fosse ajudar. Apesar de ser jovem, gostava do que São Paulo estava fazendo”, recorda o filho, o engenheiro Diógenes Calandriello, de 77 anos.
A terceira mulher que terá as cinzas levadas para o mausoléu é Barbara Maria Barbosa, morta em 1979, e que trabalhou como enfermeira durante a revolução. “Ela tinha muito orgulho de ter participado”, conta o neto Edson Galvão, comerciante de 72 anos e descendente de 20 revolucionários.
No mausoléu, já estão as cinzas de seus pais, Rosa e José Galvão Nogueira, que participaram da revolução quando ainda eram adolescentes. “Meu avô paterno liderou o primeiro combate em Cunha (SP). Foram 11 fuzileiros que colocaram 400 fuzileiros navais para correr.”
Parte dessas histórias está no livro que escreveu sobre o tema, “Heróis desconhecidos – Revolução Constitucionalista de 1932”, lançado em 2014, no qual descreve sua história como a de “uma família unida em uma epopeia”.
Desafio
Não foi fácil incluir o nome de José Grant entre os oito ex-participantes que serão transladados. Inicialmente, a família tinha só uma fotografia do veterano em Cunha e precisou pesquisar. “Tudo o que tínhamos eram histórias que irmãos dele contavam”, diz a terapeuta ocupacional Mônica Rolim, de 52 anos, sobrinha de Grant.
Caso semelhante é o da pianista Conceição Branco, de 64 anos, que liderou a ideia de transladar os restos mortais de seu tio paterno Antônio da Paixão Branco Filho para o mausoléu. “No nosso País, essa história é esquecida, meu pai que nos ensinava sobre a revolução.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.