22/11/2022 - 8:27
Para Olena Chernyavska, a libertação da cidade de Kherson (sul da Ucrânia) foi uma alegria curta, já que sua mãe mora do outro lado do rio Dnieper, que marca a linha de frente entre os exércitos ucraniano e russo.
“Todas as manhãs eu me levanto e verifico se o lugar onde ela mora está bem”, explica Chernyavska, de 41 anos.
Ela e sua mãe conseguem se falar apenas esporadicamente e suas conversas dependem de um sinal de telefone muito instável, especialmente depois que as tropas russas destruíram a infraestrutura elétrica em Kherson quando deixaram a cidade em meados de novembro.
“Consegui falar com ela e dizer quase tudo o que queria dizer, mas a ligação foi interrompida”, lembra Chernyavska.
Nos primeiros dias após o início da invasão da Ucrânia, o exército russo conseguiu controlar uma grande área no sul do país e atravessou o rio Dnieper, tomando o controle de Kherson, a única capital regional tomada pelos russos desde 24 de fevereiro.
Mas seu avanço foi interrompido pelo exército ucraniano e as forças de Kiev iniciaram uma contraofensiva nesta área sul e no leste do país em setembro.
Depois que o exército russo abandonou Kherson, pressionado pela contraofensiva ucraniana, o rio Dnieper agora marca a fronteira: os ucranianos controlam a margem ocidental e os russos a oriental.
Uma linha de frente que provocou a separação forçada de inúmeras famílias.
– “Paciência” –
“Meu irmão, minha irmã, minha sobrinha e minha neta estão do outro lado”, explica Natalia Olkhovykova, 51.
“Estamos muito preocupados porque soubemos que a cidade dela está cheia” de soldados russos, disse esta moradora de Kherson. “Mas não posso dizer muito mais por questões de segurança”.
Moradores desta cidade do sul fizeram fila para receber ajuda humanitária, ao som de de mísseis Grad e artilharia pesada ao fundo.
As tropas ucranianas continuam disparando contra as posições russas na margem oriental, onde vivem parentes de Tatiana Maliutyna.
“Eles esperam que sejam libertados”, conta esta mulher de 54 anos, que trabalha em um hospital.
Quando o exército russo anunciou sua retirada de Kherson, “eles ficaram felizes e nos ligaram quando ouviram as boas notícias de 11 de novembro”, lembra. “Eu disse a eles: sejam pacientes”, afirma Maliutyna.
No entanto, o Dnieper representa uma fronteira natural, o que dificulta o avanço ucraniano. O exército russo destruiu as pontes que ligavam as duas margens e um ataque anfíbio contra as trincheiras russas parece arriscado.
“As forças ucranianas provavelmente terão mais dificuldade em obter vitórias igualmente espetaculares na parte oriental de Kherson, embora possam interromper os esforços dos russos para solidificar sua linha defensiva”, explicam especialistas militares americanos do Institute for the Study of War, em uma publicação recente.
Olga Marchenko, de 47 anos, admite sua frustração, porque não sabe por quanto tempo o exército russo continuará ocupando os territórios da outra margem do Dnieper, onde mora sua família. “Quando eles forem libertados, esperamos encontrá-los”, afirma.