A piora das bolsas norte-americanas fez o Ibovespa descer cerca de 1.322 pontos em pouco mais de meia hora de pregão, voltando a operar no nível visto em janeiro deste ano, o dos 106 mil pontos. No dia 17 daquele mês, a mínima diária marcou 106.096,76 pontos, ante o pior momento alcançado agora de 106.554,16 pontos (-1,23%). Em Nova York, as bolsas também cedem.

Já o dólar acelerou a alta a R$ 5,0346 (máxima). “De novo, tem restrições na China, com o governo endurecendo as regras, em uma semana de Fed e Copom, com ambos devendo subir os juros. É mais um ponto para fortalecer a moeda americana”, avalia Marcos Almeida, especialista e Head de Serviços Financeiros da WIT Exchange. Conforme ele, este quadro eleva as dúvidas do mercado, acrescentando que a disparidade nas as projeções de dólar corrobora o tamanho da incerteza mundial é elevada.

“Já há importadores e exportadores reavaliando estratégias em meio a possibilidade de problemas logísticos por conta da situação na China”, completa Almeida, lembrando que isso tende a pesar mais na Bolsa, que tem várias ações ligadas a commodities, no momento em que o mercado está fechado por lá por feriado. Às 10h57, o Ibovespa cedia 0,93%, aos 106.870,18 pontos, ante mínima diária a 106.554,16 pontos (-1,23%).

De acordo com Rodrigo Knudsen, gestor da Vítreo, a falta de perspectivas em relação ao cenário mundial reforça cautela entre investidores. “Não vejo nenhuma mudança. O confinamento na China continua e cada vez mais aumentando as preocupações com navios presos nos portos, comida estragando. Na Europa, a guerra da Ucrânia também segue sem desfecho, sem perspectivas de que terminará logo. Tudo isso é mais pressão para a inflação”, resume.

Knudsen acrescenta que este cenário tende a elevar mais as expectativas em relação à decisão do Fed e do Copom. “Nos EUA, o juro tende a subir meio ponto e a dúvida de deve ficar quanto ao ritmo de redução do balanço do Fed. No Brasil, o BC deve subir a Selic em um ponto, com o foco do mercado no comunicado”, afirma.

Neste ambiente, não há quase razão para que o índice Bovespa indique melhora em maio. Porém, o fato de ter fechado abril com perdas de dois dígitos pode abrir espaço para algum ganho, enquanto o investidor espera a agenda semanal ganhar tração. Contudo, nem isso.

“A cautela externa, o menor ímpeto das commodities e o ambiente local devem impedir movimentos firmes”, avalia em nota o economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria. Na sexta-feira, o Ibovespa fechou em baixa de 1,86%, aos 107.876,16 pontos.

Queda do petróleo no exterior, ausência dos negócios com minério na China por conta de feriado, dados fracos do gigante asiático, temores fiscais internos e com a atividade fraca, além da espera da divulgação do balanço da Petrobras, Bradesco, entre outros na semana são algumas das questões que tendem a gerar um ambiente cuidadoso na Bolsa.

Além dos temores com a guinada dos juros nos Estados Unidos na quarta-feira e de expectativa de mais redução da liquidez por lá e que afeta o mundo, o esperado aumento da Selic também tende a gerar cautela. Mais do que pela alta aguardada de um ponto porcentual, com o juro indo a 12,75% ao ano, mas pela expectativa de sinais em relação aos próximos passos. Com fiscal perigando no País – ainda mais com a retomada da paralisação dos servidores amanhã – e inflação elevada, o mercado quer ver qual será a indicação do Banco Central (BC).

Porém, deve ser mesmo a China que tende a incomodar o investidor local, após nova rodada de dados de atividade manufatureira, refletindo a pior onda de covid-19 pela qual o país passa desde o início da pandemia. O PMI industrial chinês medido pela S&P Global, por exemplo, caiu a 46 em abril, sinalizando a contração mais intensa da manufatura desde fevereiro de 2020.

Para completar, a retomada da greve dos servidores do Banco Central, amanhã, após falta de acordo sobre reajuste salarial de 27%, tende a elevar as preocupações fiscais no País, em um ambiente elevado de inflação e atividade fraca.