14/02/2024 - 23:41
O Índice Omie de Desempenho Econômico das Pequenas e Médias Empresas — PMEs (IODE-PMEs) — aponta que a movimentação financeira real média das pequenas e médias empresas (PMEs) brasileiras apresentou crescimento de 7% em 2023 na comparação anual. No quarto trimestre de 2023, o índice mostrou avanço de 12,7% no setor, frente ao mesmo período do ano anterior, após +8,4% no terceiro trimestre.
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O IODE-PMEs funciona como um termômetro econômico das empresas com faturamento de até R$ 50 milhões anuais, consistindo no monitoramento de 678 atividades econômicas que compõem quatro grandes setores: Comércio, Indústria, Infraestrutura e Serviços. Em linhas gerais, o mercado de PMEs mostrou tendência mais clara de crescimento a partir do segundo trimestre de 2023.
De acordo com o economista e gerente de Indicadores e Estudos Econômicos da Omie, Felipe Beraldi, apesar da manutenção das taxas de juros em níveis historicamente elevados no decorrer do ano anterior – que desestimulam o consumo e os investimentos –, as PMEs foram positivamente impactadas pela recuperação da renda das famílias, reflexo dos efeitos mais favoráveis vindos do mercado de trabalho. A taxa de desemprego atingiu patamar inferior a 8% no decorrer do quarto trimestre de 2023, o que não ocorria desde o início de 2015.
O economista avalia, ainda, que a renda também foi favorecida por diversas medidas de política econômica (como a ampliação do Bolsa Família e a valorização real do salário-mínimo) e pelo maior controle inflacionário observado no país – que tem reflexos diretos sobre o poder de compra das famílias.
“Além deste contexto, a normalização das cadeias globais de produção – após efeitos mais duradouros da pandemia – também favoreceu o desempenho das pequenas indústrias”, afirma.
Diante deste cenário, os dados do IODE-PMEs mostram que o setor teve performance superior ao PIB geral do país no último ano. Segundo o Boletim Focus do BCB, a mediana das perspectivas de mercado para o PIB de 2023 (cujo fechamento oficial ocorrerá em março/) se encontra no patamar de 2,9%, enquanto as PMEs encerraram o ano com expansão de 7%.
Na análise por região, o IODE-PMEs mostrou que o crescimento das PMES em 2023 foi disseminado por todo o Brasil: Sudeste (+6,3% ante 2022), Sul (+5,3%), Nordeste (+7,5%), Centro-Oeste (+9,8%) e Norte (+21,3%) – este último sobre uma base de comparação significativamente fraca do ano anterior.
O desempenho do IODE-PMEs em 2023 guarda diferenças setoriais bastante significativas, com o resultado positivo tendo sido condicionado, especialmente, por atividades da Indústria e de Serviços.
PMEs da Indústria
O principal contribuinte ao crescimento no ano anterior foi o segmento industrial, em que o IODE-PMEs mostrou avanço expressivo de 17% ante 2022.
“As PMEs da Indústria engataram uma trajetória mais robusta de recuperação a partir do segundo semestre de 2023, após os anos desafiadores de 2021 e 2022, reflexo da recuperação da demanda doméstica e da normalização das cadeias globais de produção – que se refletem em expressiva queda de custos sobretudo para indústrias de menor porte. Assim, parte da recuperação do faturamento real da Indústria reflete a perda do ímpeto da inflação ao produtor (IPA-FGV), que registrou queda de 5,6% nos últimos 12 meses”, diz o economista.
No setor, as atividades que mais se destacaram em 2023 foram: ‘Fabricação de bebidas’, ‘Fabricação de autopeças e implementos rodoviários’, ‘Confecção de artigos do vestuário e acessórios’, ‘Fabricação de Máquinas e Equipamentos e ‘Fabricação de Produtos Alimentícios’.
Segundo Beraldi, vale ressaltar que o crescimento visto no ramo se mostra disseminado entre as atividades, considerando que dos 23 subsetores da indústria de transformação acompanhados pelo índice, 20 mostraram crescimento em 2023.
PMEs de Serviços
O IODE-PMEs indica que as PMEs de Serviços também apresentaram resultados positivos nos últimos meses (+9,8% YoY no 4T2023), tendo encerrado o ano anterior com avanço de 4,4% ante 2022. A recuperação do segmento, inclusive, contribuiu para os bons resultados vistos no mercado de trabalho, uma vez que a maior parte do crescimento do saldo de trabalhadores formais foi alocada em atividades do setor de Serviços em 2023.
Do ponto de vista das atividades de maior evidência no ano anterior, destacam-se: ‘Alojamento e Alimentação’; ‘Atividades administrativas e serviços complementares’ (como agências de viagens, operadores turísticos, atividades de vigilância e serviços de escritório); e ‘Atividades financeiras’.
PMEs do Comércio
O índice mostra que houve retração nos segmentos de PMEs do Comércio (-3,6% ante 2022) no ano anterior. O recuo no ano foi observado de maneira disseminada, tanto no segmento varejista (-6,2% YoY), quanto no atacado (-0,9%). No atacado, os dados mais recentes do IODE-PMEs já indicam reação, haja vista o crescimento de 3,7% verificado no quarto trimestre de 2023 em termos anuais.
Já no varejo, os resultados recentes seguiram abaixo do esperado (-8,9% YoY no 4T2023), inclusive com certa decepção em torno dos efeitos das campanhas da Black Friday e do Natal. Dentre as atividades com pior performance em 2023, cabe mencionar ‘Equipamentos para escritórios’, ‘Tintas e materiais para pintura’, ‘Artigos de iluminação’ e ‘Equipamentos de telefonia e comunicação’.
“Por outro lado, a evolução positiva em segmentos altamente dependentes da evolução da renda das famílias – tais como produtos alimentícios e bebidas – restringiu uma queda mais abrupta das PMEs do comércio varejista no ano anterior”, afirma o economista.
PMEs da Infraestrutura
No segmento de Infraestrutura, por sua vez, o fraco resultado em 2023 (-2,0%) foi ocasionado pela retração em atividades de ‘Obras de infraestrutura’ e ‘Coleta, tratamento e disposição de resíduos’. No entanto, já se observa uma recuperação do IODE-Infraestrutura recentemente, haja vista o crescimento de 4% no quatro trimestre de 2023 frente ao mesmo período do ano anterior, reflexo da performance positiva das atividades de ‘Serviços especializados para construção’.
Projeções indicam crescimento de PMEs em 2024
Após encerrar 2023 em crescimento, as perspectivas do IODE-PMEs indicam que a alta deve se manter em 2024, com previsão de 3,1%. Ainda segundo Felipe Beraldi, permanecem no radar elementos do cenário econômico que devem viabilizar uma continuidade do avanço do mercado doméstico das pequenas e médias empresas “mesmo que as projeções indiquem certa perda de ímpeto frente ao desempenho visto nos últimos anos”.
Apesar do pouco espaço para novas grandes contribuições vindas do mercado de trabalho (atualmente a taxa de desemprego está no patamar de 7,5%), a perspectiva de continuidade da redução das pressões inflacionárias no país tende a afetar positivamente a evolução do poder de compra das famílias brasileiras e, consequentemente, a demanda doméstica.
“Contudo, não se espera grandes estímulos do ponto de vista fiscal, diante da necessidade de ajuste das contas públicas. Adicionalmente, o efeito da redução das taxas de juros – movimento iniciado pelo Banco Central em agosto de 2023 – deve começar a ficar mais evidente na economia real no decorrer do ano, favorecendo a elevação do consumo e dos investimentos”, continua.
Em linhas gerais, o mercado espera uma continuidade do movimento de queda da Selic no curto prazo, com retorno a uma taxa de um dígito até o final de 2024. A taxa básica de juros da economia brasileira iniciou o ano no patamar de 11,75% (já 2 pontos percentuais abaixo da taxa vigente até meados de 2023), com perspectivas apontando para o nível de 9% até o encerramento do ano.
Ainda que a Selic (taxa básica de juros) deva permanecer em níveis historicamente elevados (considerando, sobretudo os níveis de 4% a 5% vistos antes do choque da pandemia), os dados do final de 2023 já começam a esboçar uma reação das concessões de crédito, tanto para as pessoas físicas, quanto para as empresas. Neste sentido, nos próximos meses, a queda de juros deve ficar mais evidente na economia real.
“Assim, os condicionantes domésticos são favoráveis para as PMEs, que devem seguir mostrando crescimento acima do desempenho médio esperado para o PIB brasileiro – atualmente entre +1,5% e +2%. Esse desempenho positivo das PMEs deve ser sustentado pela continuidade do crescimento das atividades de Serviços e, em menor medida, de alguns segmentos industriais”, comenta o economista.
Além disso, o contexto favorável para a evolução da renda real das famílias e os efeitos da queda das taxas de juros devem abrir espaço para a retomada do crescimento do faturamento real das PMEs do Comércio, após um 2023 bastante desafiador.
O ambiente de negócios é altamente suscetível a choques e, por conta disso, é fundamental que os empreendedores estejam a par da evolução dos principais condicionantes do mercado externo e interno nos próximos meses.
“Além do monitoramento das tensões geopolíticas pelo mundo, acompanhar a evolução da inflação e da e da política monetária nos EUA (metas de taxas de juros estipuladas pelo FED) é de grande importância, diante dos reflexos significativos sobre a evolução da economia dos países em desenvolvimento, como o Brasil. Já internamente, os principais riscos no curto prazo estão relacionados com o endereçamento das questões fiscais (equilíbrio entre as receitas e os gastos do governo), que podem impactar significativamente as expectativas inflacionárias e a evolução das taxas de juros no Brasil”, completa Beraldi.