11/06/2003 - 7:00
O mercado brasileiro de grifes de luxo vive dias bem agitados. Nos últimos meses, o setor foi sacudido pela invasão de ícones européias do segmento de jeans como a Diesel, a Replay, a Miss Sixty e a Energie. Além de montar lojas na sofisticada rua Oscar Freire (situada nos Jardins, bairro da capital paulista que reúne as grifes de luxo), os executivos destas empresas pretendem ir atrás dos consumidores endinheirados que estão fora das fronteiras paulistas. Vão fincar suas bandeiras nas demais capitais do Brasil, por meio de lojas franqueadas ou fornecendo para butiques multimarcas. Na mira está a fatia premium do mercado de jeans que, na sua totalidade, movimenta US$ 3,3 bilhões por ano. É aquela pequena faixa de público ? estimada em até 500 mil ? que desembolsa até R$ 1 mil por uma calça jeans desbotada e rasgada, desde, é claro, que a peça tenha ?atitude?. Mas será que há espaço para novatos em uma arena que já conta com marcas nacionais de prestígio como Fórum, M.Officer, Ellus e Zoomp? Especialista em produtos de luxo, o consultor Carlos Ferreirinha acredita que sim: ?O Brasil é muito grande e cada grife poderá descobrir um nicho específico no qual atuar?.
E segmentação parece ser a ?pedra de toque? que orienta as
gigantes européias. O Grupo Sixty ? que controla as marcas Energie, Miss Sixty e Dake, cujas receitas somam US$ 770 milhões ? debutou por aqui em novembro último com a bandeira Miss Sixty, de roupas femininas. A direção do grupo gostou do que viu. Vai gastar R$ 9 milhões na abertura de mais cinco lojas até o final do ano, incluindo aí a grifer masculina Energie. O plano prevê, ainda, a produção local de roupas e acessórios (sapatos e cintos, por exemplo), a partir de 2004. ?Vamos transformar o Brasil em nossa plataforma de exportação?, conta Vincenzo Depau, diretor do grupo. O executivo elogia a qualidade do índigo brasileiro. ?É um tecido de ótima qualidade?. E quanto aos competidores locais e estrangeiros? Luciana Fagnani, representante do grupo no Brasil, diz que a Miss Sixty vem conseguido superar as rivais. ?Nossas roupas têm personalidade própria e são destinadas a consumidoras de vanguarda que desejam ser sensuais, sem exageros?, argumenta.
Custos. A Replay, cujas vendas mundiais atingem US$ 340
milhões, é outra que decidiu conquistar o consumidor local. Contudo, pretende adotar uma estratégia mais ousada, fabricando todas as peças no Brasil. Com custos menores (apenas o Imposto de Importação encarece em 21,5% os produtos) e grande volume de produção, Mimmo Mastrorosa, diretor da subsidiária, espera ter fôlego para vencer as grifes brasileiras de luxo. ?Fabricação local com qualidade e padrão europeu?, garante o executivo. A primeira butique da Replay será aberta em setembro também na rua Oscar Freire, e consumirá R$ 6 milhões. Mastrorosa diz que outras 29 lojas vão ser abertas no País, até 2006.
O apetite dos ?invasores? parece não assustar as grifes locais.
Nelson Alvarenga, dono da Ellus, diz que a entrada dos estrangeiros, na verdade, fortalece as marcas brasileiras. ?Ao comparar nosso
jeans com o produto importado, o consumidor vê que temos a
mesma qualidade, com a vantagem de nosso preço ser metade do cobrado por eles?, argumenta. Pelo visto, quem vai levar a melhor nessa briga é o consumidor.