21/11/2025 - 21:00
O Banco Central (BC) decretou nesta semana a liquidação extrajudicial do Banco Master. A informação veio a público na terça-feira, 18, mesmo dia em que o principal acionista do banco, Daniel Vorcaro, foi preso pela Polícia Federal (PF) quando tentava embarcar para o exterior.
No mesmo dia, o presidente do banco estatal de Brasília, o BRB, Paulo Henrique Costa, foi afastado do cargo por 60 dias por decisão judicial no âmbito de operação da PF, de acor do com uma nota divulgada pelo banco. Augusto Lima, ex-sócio de Vorcaro no Master, também foi preso.
As movimentações aconteceram no mesmo dia em que a PF deflagrou a operação Compliance Zero para investigar crimes contra o Sistema Financeiro Nacional (SFN). Os agentes cumpriram quatro mandados de prisão preventiva, dois de prisão temporária e houve ainda 25 de busca e apreensão em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e no Distrito Federal.
A PF não identificou os alvos da operação, com foco em combater a emissão de títulos de crédito falsos por instituições financeiras que integram o SFN. No âmbito da operação foram bloqueados inicialmente R$ 12 bilhões e apreendidos R$ 1,6 milhão em espécie, além de carros de luxo, obras de arte e relógios.
A investigação da PF e do Ministério Público Federal (MPF) sobre a gestão do banco Master detectou indícios de que a instituição comandada por Vorcaro vendeu R$ 12,2 bilhões em carteiras de crédito inexistentes ao BRB, o banco público do Distrito Federal, e entregou documentos falsos ao BC para tentar justificar o negócio.
A PF informou que Sede do banco Master, na região da Faria Lima em São Paulo, foi alvo de busca e apreensão; liquidação não traz risco sistêmico, informou o BC as investigações tiveram início em 2024, após um pedido do MPF para apurar a possível fabricação de carteiras de crédito insubsistentes por uma instituição financeira.
O banco Master não havia se manifestado até o fechamento deste texto. A liquidação extrajudicial de uma instituição financeira se dá quando o BC vê o caso como irrecuperável. Com a ação, o funcionamento do banco é interrompido e a diretoria é afastada.
Com a liquidação extrajudicial decretada, as operações ficam suspensas até que seja nomeado o liquidante para ava liar os créditos dos credores e vender os ativos da instituição financeira. Foi escolhido um ex-servidor do BC, Eduardo Bianchini, experiente nesse tipo de atividade. Ele já participou de oito casos entre intervenções e liquidações extrajudiciais. A tarefa de Bianchini é assumir a gestão e elaborar uma lista detalhada dos detentores de dívidas do banco. Assim que esse processo for concluído, o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) reembolsará os investidores até o limite segurado de R$ 250 mil por investidor.
A decisão foi tomada poucas horas depois que um consórcio lidera do pelo grupo de investimento Fictor, com investidores não identificados dos Emirados Árabes Unidos, anunciou que havia concordado em comprar o banco. Ao chegar ao ministério da Fazenda na manhã de terça desta semana, 18, o titular da pasta, Fernando Haddad, disse ter certeza que o processo sobre o Master no BC é robusto e por isso a autarquia decidiu pela liquidação extrajudicial do banco.
O Master teve um rápido crescimento nos últimos anos ao apostar em uma estratégia agressiva de financiamento baseada em dívidas de alto rendimento, vendidas por meio de plataformas de investimentos. Esses títulos foram comercializados como sendo cobertos pelo FGC. Enfrentando pressões deliquidez, o banco precisava de capital novo para cumprir os vencimentos futuros desses instrumentos.
Vorcaro, o principal acionista do Master, buscava solução para o banco desde o começo deste ano. As dívidas alcançam R$ 16 bilhões, a vencer em 2025. Ao longo do ano ele fez pelo menos duas tentativas de venda do negócio. Primeiro tentou negociar com o BRB, e a operação foi negada pelo BC.
Nessa semana, houve nova tentativa de venda do banco, desta vez para o grupo Fictor. As dificuldades de levantar recursos para fazer frente aos compromissos de paga mento de Certificados de Depósito Bancário (CDBs) levou o Master a procurar financiamento nos fundos de pensão de Estados e municípios. Entidades de pre vidência pública investiram quase R$ 2 bilhões em títulos do banco, aplicações alvo de questionamentos em tribunais de contas por todo o país.
Master, Bamerindus, Santos, Cruzeiro do Sul e outros bancos
Com a decisão do BC de liquidar o Master, o banco se junta a nomes que tiveram destino semelhante no passado, como o Bamerindus, Banco Santos, Cruzeiro do Sul e BVA. Os processos se arrastaram por anos. No caso do Bamerindus, a intervenção do BC no banco foi decretada em 1997 (o banco tinha R$ 4,2 bilhões em patrimônio negativo). A liquidação extrajudicial teve início no ano seguinte e foi encerrada em 2014. A parte boa do banco foi vendida na época para o HSBC.
Em 2013, o BTG comprou parte do espólio do Bamerindus. Já o Cruzeiro do Sul teve a liquidação extrajudicial anunciada em setembro de 2012 devido a um rombo de R$ 1,3 bilhão. O processo foi encerrado pelo próprio BC em setembro de 2015, quando a instituição teve sua falência oficialmente decretada pela Justiça. Já no Banco Santos, do empresário Edemar Cid Ferreira, a intervenção ocorreu em novembro de 2004, e foi transformada em liquidação extrajudicial em março do ano seguinte.
